Thursday 24 January 2013

Governo é indolente

Agreve desencadeada pela Associação Médica de Moçambique, entre os dias 7 e 15 do corrente mês de Janeiro, e aderida por mais de 90 por cento dos seus associados, poderia ter sido evitada, se o Governo fosse flexível e com uma longa visão do futuro, mas preferiu enrolar-se em argumentos esfarrapados da falta de dinheiro, convencendo-se a si próprio e a mais ninguém. Existe dinheiro bastante para o Governo pagar aos funcionários do Estado salários decentes, porém, isso não está a acontecer porque o Executivo anda mais entretido em coisas mais interessantes para si próprio. De nada valeu o esforço do Governo em tentar meter a cabeça na areia que nem uma avestruz assustada.
O Governo caiu no ridículo ao proclamar de ilegal a greve porque os próprios mentores desta mentira sabiam que ela era legal. Dizer que a greve é ilegal é uma forma disfarçada de fugir à conversa. Não passou despercebida a desinformação levada, de forma reiterada, pela TVM, RM e Notícias de que tudo estava muito bem que até se podia dispensar os grevistas. Era, também, uma outra grande mentira, pois o povo precisava de assistência médica e não havia porque o Governo dizia, cerrando os olhos e os punhos, que não há dinheiro, tal como vem dizendo, faz muitos anos, aos professores, enfermeiros e a tantos outros funcionários do Estado. Há dinheiro para um punhado de indivíduos levarem uma vida de petrodólares enquanto o povo nem uma côdea de pão tem para dar aos seus filhos.
Há dinheiro para o Presidente Armando Guebuza passear pelas províncias com 12 helicópteros alugados a uma empresa privada, sem qualquer concurso público. Não falta dinheiro para o Presidente da República oferecer ricos manjares aos seus convivas e amigos. Quando foi do X Congresso dos camaradas, não faltou dinheiro até para se construir uma cidadela. O Governo meteu-se no bolso de todos os funcionários públicos para permitir que os delegados ao congresso do partido Frelimo comessem e bebessem à grande e à francesa. As multinacionais que exploram os nossos recursos estão isentados de pagar os reais impostos devidos ao Estado. Fica feio dizer que não há dinheiro enquanto o Governo obriga a MOZAL a pagar, apenas, um quinto do que paga qualquer cidadão moçambicano pela electricidade.
De onde vem o dinheiro que o Governo usa para renovar, todos os anos, a luxuosa e portentosa frota automóvel com que os governantes e directores escandalizam o povo? A redução do volumoso tamanho do Governo não poderia significar uma enorme poupança dos fundos públicos? A eliminação de dezenas de institutos e fundos, que servem para acomodar camaradas significaria um importante passo na racionalização dos fundos do Estado.
O viver e enriquecer, rapidamente, à custa dosofrimento e exploração daqueles que têm fome, passou a ser forma de vida de uma camada de gente sem escrúpulos, sem vergonha e sem moral. Há muito dinheiro em poucas mãos. Não há falta de dinheiro.




Edwin Hounnou, Correio da Manhã Nº 3998, 22/01/2013

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