Saturday 27 February 2010

A sorte e o azar de ser vizinho da África do Sul


Sócrates em Moçambique


Moçambique exporta mão-de-obra e «sabedoria» mas de resto é «incapaz de produzir um botão». Tem a sorte de ter a África do Sul como vizinho, a quem compra tudo, e o azar de nada ter para lhe vender.

O diagnóstico é de Momed Yassine, professor e analista político, que em declarações considera que no contexto regional Moçambique tem alguma influência política e prestígio mas a nível económico é quase nulo, e diz que será assim nos próximos anos.

Pessimistas são também Abdul Magid Osman, economista e ex-ministro das Finanças, e Nelson Saúte, sociólogo, que frisam que ainda hoje o país, com excepção do açúcar, não atingiu os níveis de produção de bens tradicionais anteriores à independência.

«Mesmo o sector ferro-portuário não recuperou os níveis anteriores à Independência Nacional, não obstante os grandes investimentos», afirmam, salientando o papel fundamental da vizinha África do Sul, o maior fornecedor de produtos essenciais mas também o grande consumidor de gás natural e da energia de Cahora Bassa (livro Desafios para Moçambique, 2010).

Moçambique, dizem, depende da África do Sul para as suas importações mais básicas, dependendo também do país vizinho para os grandes projectos energéticos, porque é o único consumidor com credibilidade.

A própria barragem de Cahora Bassa e outros grandes projectos, no entender de Momed Yassine, seriam «embondeiros» se não fosse a África do Sul.

Moçambique, que o primeiro-ministro português visita de 3 a 5 de Março, é ainda um dos países mais pobres do Mundo, com uma agricultura considerada prioritária mas deficiente e um orçamento de Estado pago em 50 por cento pela comunidade internacional.

Com fronteiras com a Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbabué, Suazilândia e África do Sul, é com este país que as relações económicas são maiores. Na capital, a maior parte dos produtos consumidos chegam da África do Sul, o gigante económico do continente.

A situação, diz o analista, «não vai mudar nem amanhã nem daqui por cinco anos» e se a integração regional, a nível da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) é um factor bom em termos políticos já não será assim em termos económicos: «em qualquer parceria que entramos já estamos em desvantagem».

É por isso, e pela emergência económica de países como a China, Brasil ou Índia, que Momed Yassine acredita Portugal vá nos próximos anos perder peso no país em termos económicos.

«É importante que Portugal deixe de olhar só para Angola, como está a acontecer», afirma, embora considerando também que Moçambique também olha essencialmente para a Ásia. «O papel da embaixada de Moçambique em Lisboa é meramente cultural. Veja-se os conselheiros nas embaixadas da África do Sul ou de Pequim», diz.


Lusa / SOL

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