Wednesday 17 February 2010

LITERATURA - IESE e os Desafios para Moçambique


O INSTITUTO de Estudos Sociais e Económicos ( IESE), uma organização moçambicana sem fins lucrativos que realiza e promove investigação científica sobre problemáticas de desenvolvimento social e económico em Moçambique e na África Austral, lança no próximo dia 22 de Fevereiro corrente, o livro Desafios para Moçambique.

A obra a ser colocado no mercado a preço subsidiado pelo IESE a fim de possibilitar um maior acesso a mesma, pretende ser um contributo daquela instituição para as reflexões e para os debates sobre o presente e o futuro de Moçambique.

Vinte e dois investigadores dão corpo ao livro, nomeadamente Carlos Nuno Castel-Branco, Narciso Matos, Luís de Brito, Magid Ossman, João Mosca, Sergio Chichava, Virgílio Cambaza, Rogério Ossemane, Nelsa Massingue, António Francisco, Miguel Buendia, Nelson Saúte, João Carlos Trindade, Júlio Carrilho, Lídia Brito, Jonas Pohlmann, Luís Lage, Roland Brower, Rosimina Ali, João Noronha, Salvador Cadete Forquilha e Zélia Menete.

O livro, segundo o IESE, é intitulado Desafios para Moçambique por várias razões. Por um lado, o livro traz uma colectânea de desafios nas esferas política, económica, social e internacional. Na óptica desta instituição de pesquisa, estes desafios são construídos discutindo, em cada um dos artigos, onde é que o País se encontra e as direcções que podem ser seguidas para construir diferentes cenários de futuro.Por outro lado, os desafios discutidos no livro são para Moçambique (e, por conseguinte, para os cidadãos de Moçambique) e não apenas para uma parte de Moçambique. Quer dizer, não são desafios apenas para o governo, para os académicos, para as organizações sociais ou trabalhadores. São desafios para todos e para toda a sociedade. O desafio de pensar, discutir abertamente, avançar pontos de vista fundamentados na vida prática e na análise mais académica, o desafio de não cruzar os braços ou baixar a cabeça perante obstáculos e dificuldades, o desafio de questionar o presente pensando e acreditando em diferentes futuros possíveis, de procurar os caminhos e identificando os desafios para lá chegar, de remover os obstáculos, de pensar de novo e de acreditar, de procurar os pontos nevrálgicos que fazem funcionar o corpo, de definir o que é prioritário em cada longa marcha que se inicia, esses desafios pertencem a todos os cidadãos de Moçambique.

Por consequência, segundo o IESE, o título do livro aponta para o primeiro grande desafio, o da mobilização, organização e participação política dos cidadãos, e a publicação do livro é um contributo para esse desafio. A prática de cidadania é a forja dos cidadãos e de uma sociedade dinâmica, democrática e progressista. A cidadania não se circunscreve ao exercício do direito de voto, embora o inclua. A sua essência é a participação responsável na reflexão, debate e luta política sobre as opções, caminhos e direcções para a vida política, económica, social e cultural, e no exercício de influência directa sobre as decisões públicas e sociais, e sua implementação, monitoria e avaliação. A cidadania requer um ambiente de pluralismo, mas é temperada e forjada na luta pela conquista e construção desse espaço plural.

Na óptica do IESE, há ainda quatro aspectos importantes a mencionar à propósito deste livro. Primeiro, a identificação de desafios reflecte escolhas, e estas reflectem interesses, aspirações, debates e conflitos sociais, económicos e políticos. Portanto, as escolhas de desafios apresentadas neste livro reflectem essas tensões e essa procura de abordagens que ajudem a mais claramente discutir e escolher opções de políticas públicas e sociais. Além disso, as escolhas fundamentais da equipa editorial do livro (que incidiram sobre a questão da participação política vista como prática de cidadania e não apenas eleitoral, os desafios de transformação dos padrões de acumulação, os desafios da qualidade da educação e da urbanização, e a contextualização internacional das opções e desafios de Moçambique) tiveram de ser ajustadas às possibilidades práticas de produzir artigos que contribuam para o debate e à produção de um livro de tamanho manejável. Portanto, muito fica para analisar sobre cada um dos temas discutidos, e muitos outros temas fundamentais ficaram por discutir (como, por exemplo, o das opções e qualidade da saúde). Mas, refere aquela instituição, este é apenas o primeiro da série de livros sobre desafios para Moçambique que o IESE pretende produzir.

Segundo, os artigos deste livro não são homogéneos: nem desenvolvem as suas análises com base nas mesmas abordagens, leituras e metodologias, nem se apresentam com a mesma forma rigorosa e severa da academia. Uns reflectem experiências de forma mais empiricista, outros são o reflexo de opiniões construídas ao longo dos anos, e alguns são rigorosamente académicos. Esta variedade de abordagens e de formas faz parte do mosaico em que Moçambique se reconstrói todos os dias. A riqueza dessa contínua reconstrução, e o direito inalienável a essa diferença resultam da prática de cidadania e temperam e forjam a cidadania.

Terceiro, este livro é o resultado da combinação do trabalho dos investigadores permanentes e associados do IESE com equipas multidisciplinares de outras instituições. Economistas académicos ou ligados ao mundo de negócios, sociólogos e historiadores, consultores, juristas, arquitectos e engenheiros, todos contribuíram com a sua experiência e conhecimento para a produção desta obra. Portanto, ao produzir o livro, o IESE e os que no livro colaboraram enriqueceram as bases e redes de investigação e reflexão em Moçambique.

Quarto, o livro tem a intenção de contribuir para um debate, lançando alguns desafios. O desafio será tornar o debate tão abrangente, inclusivo, pluralista, multidisciplinar, heterodoxo, inovador e útil quanto possível. Este é, afirma o IESE, um dos papéis fundamentais dos intelectuais e investigadores na luta pela conquista, construção e exercício da cidadania em Moçambique.


Notícias, 17/02/10


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