Tuesday 2 February 2010

Hegemonia da FRELIMO gera reservas políticas e económicas

As reservas que os países nórdicos manifestam em relação a aspectos da evolução recente da situação em Moçambique, designadamente no plano político e eleitoral, são acentuadas por previsões de “efeitos potencialmente nocivos” dos mesmos no futuro próximo – entre os quais os seguintes:

– Riscos de degradação do sistema de governo democrático.– Riscos de deterioração da economia interna, com reflexos correlativos no desenvolvimento do país e redução da pobreza. Ambos os riscos estão “associados” ao reforço do controlo hegemónico do Estado e da sociedade por parte do partido FRELIMO

– uma realidade devida aos seus resultados nas eleições gerais de Out.2009. A organização do processo eleitoral foi afectada por irregularidades e os resultados são considerados fraudulentos. A Finlândia e a Suécia são os países que de forma mais nítida/persistente manifestam reservas. A atitude é considerada reflexo de sentimentos de decepção; no passado recente consideravam Moçambique um país exemplar em termos de qualidade da democracia e desenvolvimento, uma apreciação justificativa de volumosas ajudas. A posição dos dois países tem-se manifestado no plano das suas relações bilaterais com Moçambique, mas especialmente no âmbito da União Europeia e do G-19 (grupo de países doadores, em geral).

Países como Holanda e a Alemanha, entre os da União Europeia, e outros, como os EUA, têm compartilhado da posição nórdica. 2 . Avaliações habilitadas indicam que a conduta do partido FRELIMO relativamente às eleições de 2009 foi determinada pela “aspiração” de reforçar a hegemonia política de que já dispunha – o que conseguiu de forma considerada “plena”: – Alcançou maioria parlamentar qualificada; Armando Guebuza, candidato presidencial, com 75%. – O partido RENAMO e Afonso Dhlakama ofuscaram- se eleitoralmente e estão em declínio. – O MDM teve um resultado modesto e sem representatividade à escala nacional.

A maioria qualificada obtida pelo partido FRELIMO tem sido ligada a supostas intenções de Armando Guebuza, e/ou de personalidades do seu círculo de preencher um requisito para alterar a actual Constituição, tendo em vista remover uma disposição que limita a dois os mandatos presidenciais consecutivos. O actual PR nega o propósito de pretender manter-se no poder. Parece inclinado a pretender aproveitar os resultados eleitorais para reforçar a sua posição e por essa via influenciar o processo da sua substituição. Há conjecturas, porém, de que uma decisão definitiva em relação a um novo mandato dependerá de circunstâncias futuras.

3. O MDM passou a ser o principal adversário do partido FRELIMO – condição resultante de potenciais condições de implantação que lhe são reconhecidas; como partido novo, explorar a seu favor o descontentamento popular que afecta o partido FRELIMO; como originário do partido RENAMO, tirar partido da crise em que este partido mergulhou. Por razões obscuras o MDM foi impedido de se apresentar em oito dos 13 círculos eleitorais. Elegeu apenas oito deputados, que além de não representarem o país, no seu todo, não podem constituir bancada própria; em consequência, não pode integrar comissões nem indicar membros para a Comissão Permanente.

O normativo que fixa o número mínimo de 11 deputados para a constituição de uma bancada também veda ao MDM subvenções do Estado. Dos 12 500 000 Mt/mês atribuídos aos partidos com bancadas na Assembleia da República, 9 550 000 destinam- se à FRELIMO e os remanescentes 2 550 000 à RENAMO. Os deputados do MDM também não beneficiam de vantagens reconhecidas aos parlamentares com bancada parlamentar constituída, incluindo algumas mordomias materiais; não têm direito à palavra nas sessões plenárias e é nula a sua capacidade de iniciativa.

4. Numa atitude aparentemente destinada a fazer dissipar reservas no que toca a eventuais “aproveitamentos indevidos” da maioria absoluta da FRELIMO e da sua própria vitória esmagadora nas eleições presidenciais, Armando Guebuza convidou para um almoço formal Afonso Dhlakama e Daviz Simango, líder do MDM. Afonso Dhlakama, que continua a transmitir sinais de desorientação e perda de autoridade, não compareceu.

Daviz Simango aproveitou para tentar sensibilizar o seu anfitrião para a oportunidade de uma revisão do regimento da AR, na parte em que são definidos os direitos e garantias das bancadas. Informalmente, Armando Guebuza deixa transparecer disposição para atender às pretensões de Daviz Simango – um gesto em favor do qual tem sido encorajado.

O líder do MDM teria anuído ao convite do PR movido pela possibilidade de tentar convencêlo a usar as suas influências no sentido da revisão do regimento. Um precedente que também pode contribuir para que Armando Guebuza instrua a sua bancada a aceitar uma revisão do actual regimento da AR é uma recente decisão da cúpula do ANC, em razão da qual foi alargado o período de uso da palavra das bancadas minoritárias no parlamento sul-africano, por forma a “permitir um maior debate dos assuntos de interesse nacional”.

(Correio da Manhã, Maputo, citado em A Verdade)

2 comments:

Anonymous said...

Sabia que D. Simango tinha as suas razões quando anuiu ao convite do PR.
Para bom entendedor, meia palavra basta.
Maria Helena

JOSÉ said...

Estamos cá para verificar os frutos deste almoço.