Friday 12 February 2010

O PESO DA ETNIAS E O PODER POLÍTICO

Um “Dejá Vu” ou algo a que ninguém resiste…

Beira (Canalmoz) - Há rumores e rumores… O que de facto é verdade só os tempos é que dirão. Muitos dizem que os esforços e arranjos que se fazem no seio dos partidos políticos são no sentido de acomodar personalidades influentes e assegurar uma obediência e cumprimento de determinada orientações e sobretudo uma agenda política que não se compadece com pessoas manifestamente independentes.
Por outro lado tenho notícias não oficiais de remodelação da estrutura directiva de um partido recém-formado, o MDM. Se na Renamo temos na prática uma remodelação por força da desobediência de uma parte de seus membros eleitos deputados para a Assembleia da República e em assembleias provinciais, ter também uma remodelação por força do que seja ao nível do MDM é um sinal de que alguma coisa está acontecendo na cena política moçambicana.
Se queremos ser honestos e politicamente coerentes teremos de dizer que os partidos políticos moçambicanos possuem em si problemas que complicam a sua actuação política. Em virtude de toda a força que a ambição dos nossos políticos possui, o tipo de atitude e postura dos mesmos, leva a que sejam levados facilmente para águas obscuras e se entreguem a realização de agendas que não interessam aos cidadãos.
Há toda uma carga de impurezas de natureza tribal que afogam os esforços de suas lideranças em contribuir para a Unidade Nacional. O cancro da Unidade Nacional é sem dúvida o tribalismo e qualquer outro tipo de descriminação. Tanto o racismo como o tribalismo não servem a causa nacional e qualquer tentativa de encobrir a sua existência não é bem-vindo.
Diz-se a boca pequena de que o MDM é um partido com bastante influência da tribo Ndau. Diz-se que há uma forte tendência de fazer equilíbrios através da colocação cimeira de elementos provenientes desta tribo em detrimento de gente com outra origem étnica. Historicamente não se pode negar ou condenar um indivíduo só porque é Ndau ou de uma outra etnia. Também não se pode condenar os provenientes do Sul do país só porque não são Ndaus. O facto da origem de parte significativa dos membros fundadores do MDM ser de origem Ndau decerto que influi na composição de seus órgãos dirigentes. Se a Frelimo tem dado proeminência aos elementos provenientes do Sul do país no que respeita a nomeações ou atribuição de cargos de relevo na organização, isso não deve levar a que outros políticos enveredem pelo mesmo caminho. Cabe à direcção do MDM fazer todo o tipo de escolhas necessárias para o funcionamento de seu partido tendo sempre em conta que Moçambique é o tal País de todos e não só dos que pertencem a esta ou aquela etnia. Não vamos deixar de tomar decisões só porque tal pareceria tribalismo ou algo idêntico. Vai haver uma tentativa de impedir que se tomem decisões no seio dos partidos da oposição para não se receber o catálogo de tribalista.
Esta e outro tipo de acção vão ser tentadas e utilizadas pelos que trabalham para minar os esforços dos outros partidos políticos.
Se durante muitos anos foi palavra de ordem escolher e utilizar gente de uma mesma tribo para a ocupação de cargos numa organização política como ao partido Frelimo isso não deve levar o MDM a copiar o mesmo procedimento.
Temos de admitir que pertencemos todos a uma determinada tribo e que não é proibido falarmos da nossa tribo. O que talvez seja problemático e perigoso e de questionar é a tendência de utilizar a nossa tribo como critério de escolha de alguma coisa que diga respeito a todos. Moçambique não é país Ronga ou Ndau. A pertença à estrutura directiva de um partido não se deve basear em pertencer a uma tribo ou a outra.
Quando me dizem que o MDM vai nomear uma nova Comissão Política porque a actual foi integralmente destituída estamos em presença de uma crise política. Não tenho elementos suficientes para analisar a dimensão e o tipo de crise. Pode ser que esta seja a via encontrada para resolver alguns problemas do partido em referência. Também pode ser que esta seja a manifestação de uma luta entre linhas no seio de um partido que teve um parto difícil ao receber no seu seio pessoas com as mais variadas histórias e passados. Alguns dos que se apresentam como pessoas influentes e preponderantes neste partido ou que fazem parte de suas estruturas directivas e são também deputados no Parlamento nacional são pessoas manifestamente ambiciosas que se tem apresentado como autênticos animais políticos por todo o lado em que passam.
Esperemos que a motivação da crise não seja de origem étnica e que nem sejam laços de familiaridade que estão determinando a decisão de destituir. Fazer política activa e constituir um partido político é algo que se faz através de uma determinação forte que vence dificuldades e crises de todo o tipo. Os que foram destituídos consoante os rumores não devem procurar lavar roupa suja na rua porque isso só seria utilizado e aproveitado pelos seus opositores. Diremos o que já antes disse. Muitos não vão resistir as vicissitudes da política. Muitos vão desistir e recuar perante ou face à primeira dificuldade do processo.
O tachismo de muitos dos políticos que aderiram ao projecto do MDM vai-se manifestar aquando do aparecimento das primeiras dificuldades.
Há toda a necessidade de clarificação dos procedimentos no seio do MDM e de outros partidos políticos que se querem apresentar como alternativa ao actual partido no poder.
Não se pode esperar facilidade por parte de quem está no poder e há que acreditar que o grau de infiltração nos partidos é uma realidade. Embora não se possa falar qualificadamente sobre tal grau de infiltração a verdade parece ser no sentido de se acreditar que há uma grande actuação dos serviços de inteligência do partido no poder no sentido de sabotar os outros partidos e a sua pretensão de um dia governar Moçambique.
É necessário aceitar que os outros que não são da nossa tribo também são moçambicanos.
Já se falou de uma determinada carga tribal na Renamo e na Frelimo e é importante que os partidos políticos moçambicanos sejam capazes de estar e viver na política sem ter que recorrer a artifícios como a tribo.
Nascemos sendo membros de uma tribo mas não podemos jamais esquecer que Moçambique é o país a que pertencemos…

(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

4 comments:

Basilio Muhate said...

José...aguardo os seus comentários em relação à violação dos Estatutos do MDM pelo Presidente Daviz Simango. Sei que é um grande defensor da democracia e vai iluminar-nos sobre esta medida de daviz não prevista nos estatutos do MDM.

Anonymous said...

Sabe,temos de nos unir e combater o tribalismo, o racismo, o abuso de poder, o nepotismo, a corrupção, a falta de transparência, etc que se vive na maioria dos países africanos.
Gostaria que o MDM nos provasse que não pactua com nenhum destes sindromas.
Tenho uma imagem diferente da pessoa que penso ser D. Simango.
Oro para que não passem de rumores.
Maria Helena

JOSÉ said...

Basílio, obrigado pelo seu interesse na minha opinião.
O Basílio fala da violação dos Estatutos mas ao mesmo tempo afirma que esta medida não está prevista nos Estatutos. Em que ficamos, Basílio? Se não está previsto nos Estatutos não pode haver violação. Leia atentamente os Estatutos e vai verificar que esta específica situação está omissa nos Estatutos. Não houve violação nenhuma, houve sim interpretação e aplicação errada dos Estatutos, o que é muito diferente.

A minha opinião pessoal, como cidadão comum, é que há fragilidades nos Estatutos e que esta medida foi imprudente e anti-democrática, com um timing muito infeliz. Penso que esta Comissão Política devia manter-se em exercício até à eleição de outra CP em Congresso. Não concordo que o Presidente tenha poder para dissolver a CP, em qualquer circunstancia. Esta medida, embora errada, não aconteceu repentinamente, aconteceu depois de muitas reuniões com a CP agora destituída. De qualquer modo, a minha posição é bem clara, não apoio esta medida e questiono as suas motivações. Não estou desiludido, pelo contrário, fico ainda mais convencido da necessidade da implementação da democracia plena na Oposição.

No passado nunca me coibi de criticar certas situações na Oposição, em privado ou publicamente, não podia ser diferente agora. A minha postura de democrata convicto é que o País e o Povo estão sempre acima dos interesses partidários. E é exactamente isso que nos separa, enquanto os democratas genuínos não receiam questionar, os outros, principalmente os frelimistas, remetem-se ao silêncio perante os inúmeros atropelos da Frelimo.
Quem tem telhados de vidro não deve arremassar pedras, é que em democracia a Frelimo não é exemplo nenhum.

JOSÉ said...

Estamos atentos a manobras divisionistas, prontos para denunciar e lutar.