Teceu duras críticas à administradora de Boane na Presidência Aberta
Dois dos dez cidadãos que foram ao pódio apresentar preocupações da população de Boane ao Presidente da República (PR), Armando Guebuza, durante a Presidência Aberta à província de Maputo, foram ameaçados, detidos e barbaramente espancados pelos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM). Os actos verificaram-se na passada sexta-feira, 5 de Maio, um dia depois do comício do PR.
Uma das pessoas detidas e brutalmente espancadas pelos agentes da PRM foi Albano Bila, por sinal a pessoa que duras críticas teceu à administradora distrital.
Falando ao nosso jornal, Albano Bila disse que tudo começou na noite da quinta-feira, 4 de Junho, data em que o PR orientou um comício popular no bairro Gueguegue, arredores da vila-sede do distrito de Boane. Contou que na noite de quinta-feira, por sinal horas após o fim do comício, dois homens à paisana foram procurá-lo na sua residência.
“Eu não estava em casa. Eles não deixaram recado. Foram-se embora”, frisou.
Porém, conta Bila, cerca das 5h30 da manhã da sexta-feira, 5 de Junho, cinco agentes supostamente da PRM e munidos de armas de fogo de tipo AKM e cacetetes, se fizeram à sua residência com a missão única de lhe capturar.
Acrescentou que quando os supostos agentes chegaram à sua residência pediram para falar com o senhor Albano, tendo sido ele a atendê-los. “Identifiquei-me imediatamente. Só que, estes, em vez de dizer o que iam tratar, ordenaram-me para que lhes acompanhasse até ao Comando Distrital.
Na rua, mesmo em frente da minha residência, estava estacionada uma viatura da PRM onde estava um agente à espera”, sublinhou.
Disse-nos que foi violentamente atirado para a viatura e obrigado a se deitar debaixo dos assentos no meio de pisadelas de botas e pancadas com coronhas das AKMs.
Causa-efeito?
Soubemos de Bila que chegado ao Comando foi imediatamente levado à cela, onde também encontrou outros detidos que lhe submeteram a outras sevícias, que, no entanto, não especificou.
Sublinhou que os supostos agentes que foram lhe buscar não possuíam nenhum mandato de captura. O estranho é que, segundo ele, nunca havia sido notificado.
Em conversa com a nossa reportagem na sua residência em Boane, Bila fez uma relação de causa-efeito entre a sua dura intervenção contra a administradora distrital e a detenção.
Revelou-nos que foi retirado da cela por volta das 9 horas do mesmo dia para um pequeno interrogatório. Mas para ele tal operação não passou de simples chamada de atenção, na medida em que, em vez de ser explicado sobre o crime que terá cometido e se abrir o respectivo auto, foi apenas informado que estava detido por causa de uma dívida de 500 meticais, mas a partir daquela momento estava livre e podia ir embora.
Quando procurou mais detalhes sobre a sua prisão, o agente em causa disse que ele não estava autorizado a fazer perguntas aos homens da lei e ordem e devia abandonar as instalações naquele momento, “antes que eles se arrependam”. Continuando com o seu relato, Albano Bila disse que, momentos depois da sua soltura, soube que no final da tarde do dia 4 de Junho, dois indivíduos deslocaram-se à residência do secretário do bairro Gueguegue para este lhes ajudar a localizar o seu domicílio. Contudo, a solicitação foi recusada pelo secretário do bairro.
Caso Isaura Muainga
De outras fontes soubemos que, além de Bila, uma outra cidadã que interveio no comício, e a desfavor das autoridades locais, viu a sua segurança posta em causa.
As mesmas fontes contaram-nos que momentos depois de intervir no comício do PR, Isaura Muianga, secretária da Organização da Mulher Moçambicana (OMM) ao nível a zona de Picoco, foi solicitada pela secretária distrital da OMM para lhe informar que algumas pessoas afectas ao Governo do distrito e do Comité Distrital da Frelimo não gostaram dos seus pronunciamentos e das próximas vezes tinha que ser mais prudente nas suas declarações.
O SAVANA contactou Isaura Muianga tendo esta nos confirmado o sucedido.
De referir que Albano Bila foi ao pódio pedir ao PR para que ordenasse a substituição da actual administradora, Cremilda Almeida, alegadamente por ser uma dirigente de gabinete e que não se interessa pelo povo. Disse que a mesma preocupação foi apresentada à governadora, na sua última visita ao distrito, mas esta, lhe respondeu que se não conhecia a administradora é porque também não conhecia o caminho que vai dar à administração.
Falou da falta de transparência na gestão dos Fundos de Investimento Local (FILs) e do conjunto de atrocidades cometidas por militares afectos à brigada de Boane.
Isaura Muianga falou do estado de abandono em que se encontra o distrito e da falta de interesse, das autoridades locais, pela montagem de infra-estruturas básicas. Lamentou ainda a inexistência da comunicação entre o Governo do distrito e as comunidades.
“Foi detido por desobediência”, PRM
O porta-voz do Comando Provincial da PRM de Maputo, Juarce Martins, confirmou, nesta quarta-feira, a detenção de Albano Bila. Contudo, negou que o facto tenha a ver com as suas declarações no comício. “Foi detido pelo crime de desobediência às autoridades”, sublinhou
Conta Juarce Martins que no dia 13 de Abril de 2009, um cidadão de nome Monteiro Luís apresentou uma queixa contra Albano Bila, no Comando Distrital da PRM, alegando um crime de burla.
Como recomendam as regras, Bila foi notificado para se fazer presente ao Comando a fim de ser ouvido acerca das acusações que pesam sobre a sua pessoa, mas este ignorou a solicitação. Enviou-se a segunda via e este, mais uma vez, não obedeceu.
“Na manhã de 1 de Junho, a vítima foi ao Comando questionar o facto de Bila não se fazer presente sempre que é notificado. O oficial voltou a notificar Bila pela terceira vez, mas este não se fez presente. O notificado devia se fazer presente no Comando no dia 3 de Junho. Já que no dia 4 coincidiu com a visita do PR, na manhã do dia 5 de Junho foram destacados dois agentes para a residência de Bila, a fim de irem pedir explicação sobre as ausências às solicitações das autoridades.
“Veja que Albano Bila não é criminoso e não constitui nenhum perigo, por isso, não havia necessidade de se enviar tanta a força e fortemente armada. Os dois agentes destacados para sua residência não estavam armados e nem usaram viatura, porque o seu domicílio está perto do Comando”, disse Juarce Martins acrescentando que Albano Bila não foi torturado.
Mais adiante, Martins referiu que no Comando Bila reconheceu o crime perante o ofendido e o processo está a seguir os seus trâmites legais.
No entanto, o porta-voz do Comando Distrital reconhece que os seus agentes cometeram algumas irregularidades ao aceitar que Albano Bila saldasse parte da sua dívida junto à polícia e no recinto do Comando, sabendo-se de antemão que se tratava duma questão cível, cuja resolução cabe aos particulares e é da competência do Tribunal e não da Polícia.
( Raul Senda, Savana, citado em www.oficinadesociologia.blogspot.com )
2 comments:
Estas historias ate me fazem dar a volta ao estomago... Existe ou nao democracia em Mocambique? Nao podemos criticar o que esta errado ou 'quando abrimos o bico' temos de sofrer represalias? Fechamos os olhos a estas barbaridades? Nao questionamos o que vai de errado na nossa patria? Tempo para meditarmos e reflectirmos, vistos as eleicoes estarem para breve. Maria Helena
Um exemplo típico de falta de democracia e abertura, uma autentica vergonha!
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