Wednesday 17 June 2009

Branco e, sim, africano

Paulo Serôdio, de 45 anos, nasceu em Moçambique, numa família portuguesa de três gerações em África. Foi para os Estados Unidos, em 1984, naturalizou-se americano, casou, teve filhos e, já quarentão, decidiu tirar Medicina. Queria trabalhar nos Médicos Sem Fronteiras, no continente onde nasceu. Na Faculdade de Medicina de Nova Jérsei, em Newark, numa aula em que era pedido aos alunos que se definissem culturalmente, Serôdio respondeu: "Afro-americano branco." Uma colega negra insurgiu-se: aquilo era um insulto! E o professor ordenou-lhe que nunca mais se definisse assim. Paulo Serôdio insistiu e foi suspenso da escola - há um processo judicial que corre sobre o assunto (li a história no site da cadeia televisiva americana ABC, alertado por um post, ontem, no blogue Blasfémias). É uma história de ignorância. Do triângulo "africano, americano e branco" é claro que o que incomoda é a junção de africano com branco. Se Paulo Serôdio quiser, serei sua testemunha. E levo uma longa lista de brancos que deram a vida, o trabalho e o amor pela sua pátria africana.

( Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, Lisboa, 26/05/09 )

NOTA: Voltarei a este assunto!!!

5 comments:

Laude Guiry said...

Gostaria de deixar ficar, aqui o meu parecer sobre este topico.

Eu li o mesmo artigo que leu, mas percebi-lo de uma outra forma.

O emprego do termo Afro-American esta, no entender americano limitado a aqueles americanos de raca negra que sao descendentes da populacao escrava.

Entao se eu, negro africano, nao descendente de escravos mudo-me para os estados unidos com say 20 anos de idade, e mudo a nacionalidade para Americano, nao serei considerado "Afro-American", but American African/ negro american, or something to that extent.

O que o Paulo nao entendeu foi a bagagem historica por detras do termo ... nao se nega em Momento algum que ele seja Africano, mas o "Afro-American" nao denota origem continental, mas raca e historial.

Sem duvidas que o Paulo eh Africano, e a Africa eh continente de todos aqueles que o amam, nele querem ficar e suaram por um futuro melhor no continente ... o termo Africano nao denota raca mas sim pertenca, pertenca a um continente. Mas o termo "Afro-American" denota raca e heranca historica.

Entao o Paulo deveria articular melhor a sua descricao, sem ferir os sentimentos daqueles que sofreram para defender a sua pertenca a um continente que lhes colocou na margem da sociedade, digo o continente Americano.

Entao nenhum afro-Americano eh Africano ... tanto quanto o Paulo nao eh Afro-Americano, mas sim Africano

Concordas?!!!

JOSÉ said...

Laude, obrigado pela tua excelente contribuição.

Na verdade, o termo African-American tem um contexto histórico mas também é verdade que esse termo é frequentemente usado como sinónimo de americano de raça negra. Também é um facto que muitos negros americanos não se identificam com esse termo.


Penso que o Paulo, ao identificar-se como Branco African-American, mesmo que possa estar errado, não ofendeu ninguém e acho absurda a perseguição de que tem sido alvo, em nome do politicamente correcto.


Gostaria de chamar a atenção para o perigo de certos rótulos e classificações étnicas. Por exemplo, acho estranho que um branco nascido em África, enraizado em África, frequentemente segunda ou terceira geração sem ligação a outro continente, seja chamado de Europeu. Do mesmo modo, também acho estranho que um negro, nascido por exemplo na Europa, há muito enraizado nesse continente e sem afinidades com África, continue a ser chamado de Africano.


Por vezes os rótulos étnicos são usados como pretexto para a exclusão e até para o racismo.

Abraço forte!

Anonymous said...

Acho que se esta fazendo uma tempestade num copo de agua. Se ele se identificou como African American de raca branca, acho que nao prejudicou ninguem, nao compreendo porque a colega se sentiu ofendida; ser suspenso da escola??? Somos todos africanos, nascidos em Africa, no Malawi, em Mocambique, em Angola na RSA, mas podemos ser de raca diferente, mas isso nao implica que deixemos de ser africanos. Penso que cada um deveria de se definir conforme se sentisse mais a vontade, alias, conforme as suas afinidades com o continente africano, as suas vivencias, etc. Consigo ver o ponto de vista de L. Guiry e respeito-o. Eu acho que o maior problema ou forma de racismo ou exclusao que existe neste seculo sao os problemas tribais, de castas e mesmo religiosos. Se alguem me disser que e isto ou aquilo, entao, que seja, eu nao me sinto intimidada ou ferida com tal. Nao sou racista, nem tribalista, nem fanatica religiosa, respeito toda a gente e tenho sensibilidade nestas materias.
Maria Helena

JOSÉ said...

Continuo a pensar que é um absurdo o modo como este assunto tem sido tratado!

Laude Guiry said...

Jose

Queira concordar consigo quando dizes que as raizes do racismo assentam-se nos rotulos raciais.

Quando dei a meu ponto de vista, tentava explicar com que base critica-se o Paulo. Nao concordo de maneira nenhuma com aqueles que o criticam (numa base racial) e tambem nao com ele pela sua descricao pessoal(que em si clamava por critica).

Digo isso, porque ao se descrever como "Afro-Americano branco" ele mistura dois rotulos raciais. Ele eh sem duvida um Africano-Americano, mas na base de pertenca continental, e nao de base de heranca racial. Quem me dera ter o amor de dois continentes ... e que ambos me amassem.

As pessoas devem sem duvidas deixar de olhar um para o outro e julga-las na base da cor da pele. Mas nao fazemos o mesmo em relacao a continentes, nivel social, financeiro, casta, etc, etc ... temos que deixar de criar castas, ou como dizes rotulos, nao so racias como sociais. Ai teremos um mundo melhor, e o Paulo sera Africano-Americano de descendencia Europeia (e sabe que mais, ele nao tera que dizer a ninguem - porque o mundo o amara de uma ou de outra forma)