Thursday, 11 June 2015

Quinta coluna” não foi desmantelada



Afinaram-se metodologias e alargou-se o número de integrantes.
Se as perguntas pertinentes não são feitas de maneira rigorosa, fica-se sem saber das respectivas respostas.
Muito longe de discutir ou advogar a censura de uns ou que as suas opiniões não sejam veiculadas nos meios de comunicação social, espanta-me é o convite de figuras sinistras para as câmaras de televisão e jornais.
Parece que se estabeleceu um convénio que prevê a concessão de espaço nobre para que articulistas de “nomeada” se desdobrem na defesa de tudo o que o regime do dia defende e pretende.
Nisso não se pode discordar, pois cada um defende o seu projecto e tudo faz para mostrar que se está em presença do que é mais viável para o país.
As coisas complicam-se quando se entrega os microfones a mentirosos por tendência, a mentirosos doentios.
Com arte e meias-palavras, multiplicam-se entrevistas com veteranos da luta de libertação nacional como que a preencher espaços estratégicos, mas, na verdade, estamos numa operação de mobilização ideológica não diferente das do passado.
A questão essencial é encher tudo o que seja órgão de comunicação social com a imagem de rectidão, perfeição, responsabilidade, patriotismo e, porque não?, a versão de que a sua presença e existência são um “imperativo nacional”.
Quando se unem agentes da agitação e propaganda desavindos e embarcam numa ofensiva multifacetada, há que estranhar e tomar cautelas defensivas.
“Café da Manhã”, AIM, “Quinta à Noite” da STV, Editorial do jornal “Domingo”, “Notícias”, “Diário de Moçambique”, TVM parecem ter sido convocados para coordenarem, concertarem estratégias, em defesa de um regime preocupado com a perda de influência e com sucessivas derrotas eleitorais. Existe uma ofensiva insidiosa, activa visando subverter mentes e acautelar acções perversas.
Trabalha-se afincadamente na preparação de uma “solução final” que tem de ter cobertura e um público “domesticado”. O ódio cultivado e irrigado todos os dias visa impedir que haja surpresas. Alguns dirão que é mais uma vez algo como as famosas “teorias de conspiração”.
Tapar buracos e branquear a imagem é uma tarefa gigantesca face ao tamanho de tais buracos e a sujeira que reveste a imagem de personalidades e dignitários. São muitos os erros e excessos num percurso que já dura mais de quarenta anos. Ninguém é puro ou perfeito, mas quando se tenta vender a mensagem de que Moçambique só anda sob direcção do grupo de pessoas que encontra no topo da hierarquia governamental, isso constitui uma tentativa de enganar os moçambicanos.
Neste preciso momento, avolumam-se evidências de que algo tem sido muito mal feito. Entidades governamentais, agentes do Estado, titulares de órgãos de soberania têm cometido tantas irregularidades e ilícitos que se apresenta de todo difícil defender tais práticas ou pretender que jamais existiram.
Hoje, muitos afirmam que os travões e impasses no diálogo político no CCJC resultam da falta de confiança entre as partes. Pouco se diz sobre o que não tem sido feito para promover tal confiança. Quando a cultura predominante é jogar sujo e com subterfúgios, com agendas secretas e em tabuleiros inclinados, torna-se praticamente impossível justiça nos resultados.
Sem que se entenda e se aceite que os processos político-governativos não são rectilíneos e que a nação é mais importante do que os partidos políticos em presença, não se alcançará aquela reconciliação tão necessária para gerar confiança e concórdia. Muita gente ainda destila ódios de um passado de beligerância e de incompreensões.
Não estamos num “beco sem saída”, mas estamos numa encruzilhada que reflecte incapacidades dos interlocutores admitirem coisas básicas.
Há espaço que não está sendo aproveitado para imprimir dinâmica e decisão a um processo conhecido que não se pode reduzir a imutabilidade constitucional.
É de todo inaceitável ver fundos públicos sendo aplicados na operacionalização de agendas de manutenção do poder.
Quem dá carta-branca para que se organize delinquência institucional é contra a paz e estabilidade política em Moçambique.
Eloquência e polidez discursiva quando ao serviço da falsificação da verdade histórica e política minam o ambiente político nacional.
A gravidade do momento é tal que qualquer distracção ou inatenção pode fazer ruir o edifício que se chama Moçambique.
Querer a paz significa lutar por ela com todos os meios ao nosso alcance. Não há fórmula mágica para a manutenção da paz, mas um dos seus ingredientes é a abertura negocial, é assumir que ela é o bem supremo ao qual tudo se deve subordinar.
Recuperar discursos revanchistas não ajuda a desanuviar. Pretender que os outros são produtos de “interesses externos”, quando se sabe que quem assim fala abraçou ideologias também externas, é pura demagogia. É sabujice esconder-se por detrás de chavões e de pretensa pureza ideológica. Os nacionalistas e patriotas reconhecem-se palas obras e não pelos discursos viperinos.
O que está na mesa é uma situação que tem de ser tratada com frieza e responsabilidade superiores a qualquer retórica “jesuíta”.
Ninguém quer transformar marxistas-leninistas livrescos e empedernidos em qualquer outra coisa. O que não se pode permitir é que algumas “eminências pardas saudosistas” dos tempos em que senhores da vida e da morte destilem seu ódio e alimentem ou promovam situações que podem levar a um extremar de posições e um regresso à beligerância.
É da responsabilidade dos políticos, dos governantes cultivar um discurso de tolerância. O PR tem a obrigação constitucional de ser equidistante e defensor da moçambicanidade sem olhar a filiação partidária, orientação religiosa ou estatuto económico das pessoas ou cidadãos deste martirizado país.
“Não se pode deixar tudo nas mãos dos políticos.” Esgotados como parece e sem grande horizonte visual, estes compatriotas precisam de ajuda urgente.
Não nos esqueçamos que foi uma tendência de confiar tudo nas mãos dos que se diziam “estruturas” em 1975-1992 que nos conduziu à guerra, à asfixia dos direitos políticos e económicos dos cidadãos, à barbárie, à fome e regressão nos esforços pelo desenvolvimento do país.
Os moçambicanos recusam-se a ser cobaias de socialismos e capitalismos de pacotilha.
Queremos desenvolvimento e paz efectivas. Não queremos um “‘Empoderamento’ Económico Negro” que se faça à custa de ilicitudes e de falcatruas do tamanho da EMATUM.
Capitalistas de assinatura que entram em “joint-ventures” por possuírem DUAT’s são os mesmos que colocam travões à realização de eleições justas, livres e transparentes. São os mesmos que colocam barreiras aos processos judiciais que deveriam apurar justos vencedores. São os mesmos que enriquecem sem trabalho. São os mesmos que vivem do tráfico de influências, manipulação e venda de informação privilegiada.
A “quinta coluna” recruta e paga para manter o “status”.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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