Decidimos insistir na questão dos cornos de rinoceronte e pontas de marfim que desapareceram do armazém da Procuradoria Provincial da província de Maputo, na Matola. É que tudo indica que, a cada dia que passa, o Estado moçambicano está com mais dificuldades em informar aos moçambicanos aonde foram parar os cornos.
É um insulto à racionalidade de qualquer cidadão mediano que os cornos tenham sido roubados de um armazém cuja porta estava trancada por três cadeados e com chaves distribuídas a igual número de pessoas. Mais do que isso: detidas estas pessoas, o Estado ainda não conseguiu, mesmo assim, encontrar o produto.
O que uma fonte autorizada da direcção-geral da Polícia nos veio dizer é que, depois de detidos os que tinham as chaves, ou seja, os que sabiam onde estavam os cornos, um tal magistrado, de nome Florêncio Simbine, levou quatro dias para assinar um despacho que se afigurava urgente para devolver a dignidade ao Estado.
Não queremos aqui levantar qualquer tipo de suspeitas, mas é estranha essa história de que, quando a Polícia obteve o mandado, os cornos já não estavam no local que havia sido indicado pelos detidos. Esta correlação de factos causa arrepios a qualquer pessoa de bem.
Mais grave: há informações avulsas de que o cidadão de nacionalidade chinesa proprietário da residência onde estavam guardados os cornos, e que era, até então, o dono dos cornos, que havia sido detido no dia 12 de Maio, já não está detido e nem está já em território nacional. Fomos informados de que pagou caução e desapareceu.
O porta-voz do Comando Provincial, Emídio Mabunda, disse que não tinha elementos para comentar sobre o assunto. Não confirmou nem desmentiu o assunto, e informou que o caso está em outras instâncias e que a Polícia já não é competente para responder pelo caso.
Na nossa opinião, é preciso que uma coisa esteja clara: o Estado já não existe. Há uma quadrilha que tomou conta do Estado e está a dirigi-lo com métodos do crime organizado, onde o patológico passou a ser normal, com a particularidade de o Estado se ter demitido das suas atribuições constitucionais.
Escrevemos na semana passada – e parece-nos que os factos tendem a testemunhar a nosso favor – que o produto foi devolvido aos donos através do sindicato do crime organizado que está na Polícia. Na nossa opinião, o sector da Polícia envolvido nesta vergonha toda não é a arraia-miúda. São as habituais altas patentes, que, depois, de mergulharem no crime, e perante uma impunidade total, funcionam na lógica de “L’État c’est moi” [“O Estado sou eu”].
O bando que actua na Polícia convenceu-se de que pode passar a vida a contar histórias da carochinha, que o povo é mesmo estúpido. Não há, na História, um Estado que não entrou em colapso, quando eram os criminosos que dirigiam a Polícia. Não há.
Talvez seja oportuno perguntarmos agora onde é guardada toda a droga e outros produtos ilegais que semanalmente são apreendidos nos aeroportos nacionais. É seguro que ninguém no Estado poderá mostrar-nos o armazém com esses produtos, porque os criminosos do Governo que dirigem a Polícia já fizeram chegar o produto aos seus parceiros. O mesmo já aconteceu com uma enorme quantidade de marfim que esteve no Ministério da Agricultura. Até hoje, ninguém sabe aonde foi parar. Ninguém está detido e ninguém foi responsabilizado pelo escândalo. Ou seja, a patologia tornou-se normal. O que está a acontecer com os cornos é apenas uma réplica desse episódio.
Mas tudo isto tem o seu perigo, e não tarda que os seus efeitos estejam à vista de todos. O crime organizado é alimentado pela ganância desmedida provocada pela possibilidade do enriquecimento fácil. Não se olha a meios para se chegar aos lucros. É esta a lógica do crime organizado.
Mas, quando o Estado que devia combater o crime está nas mãos dos criminosos, então assiste-se a todo este espectáculo degradante que nos está a ser dado a ver. É o Estado a funcionar como apêndice dos criminosos. Dentro do Estado já ninguém tem moral para apontar o dedo ao outro.
Veja-se, por exemplo, o que aconteceu no caso do suposto sequestro do empresário Momad Bashir. Não temos dúvidas de que esteja envolvido o mesmo sindicato mafioso da Polícia. O Estado foi arrastado para uma vergonha e obrigado a subscrever narrativas criminosas muito mal encenadas, porque falta legitimidade a todos para indicarem o caminho da lei e da seriedade.
Assistimos de forma vergonhosa ao Estado a embarcar numa história de um sequestro, de bolachas, de cativeiro de caixas metálicas e seus derivados. É assim como funciona o crime organizado. Enfraquece o poder do Estado, retira a legitimidade das instituições, controla os dirigentes e usa-os para fins vergonhosos. No período áureo dos raptos, denunciámos aqui, com provas documentais, que a Polícia estava envolvida nos raptos e a promover assassinatos encomendados por criminosos condenados em julgamento. Mas nada foi feito, e o sindicato continua aí: impune e a subjugar o Estado. É o que está a acontecer com a história dos cornos. Não nos surpreenderia que, nos próximos dias, o sindicato mafioso da Polícia crie um outro número para apresentar ao público, em nome das investigações que nunca existiram.
Mas de uma coisa temos a certeza: ou se toma a sério esta podridão da Polícia e varrem-se os vermes que por lá proliferam, ou amanhã estaremos todos a receber ordens de criminosos e a pagarmos impostos aos cartéis oficializados do crime organizado.
(Editorial do Canalmoz)
É um insulto à racionalidade de qualquer cidadão mediano que os cornos tenham sido roubados de um armazém cuja porta estava trancada por três cadeados e com chaves distribuídas a igual número de pessoas. Mais do que isso: detidas estas pessoas, o Estado ainda não conseguiu, mesmo assim, encontrar o produto.
O que uma fonte autorizada da direcção-geral da Polícia nos veio dizer é que, depois de detidos os que tinham as chaves, ou seja, os que sabiam onde estavam os cornos, um tal magistrado, de nome Florêncio Simbine, levou quatro dias para assinar um despacho que se afigurava urgente para devolver a dignidade ao Estado.
Não queremos aqui levantar qualquer tipo de suspeitas, mas é estranha essa história de que, quando a Polícia obteve o mandado, os cornos já não estavam no local que havia sido indicado pelos detidos. Esta correlação de factos causa arrepios a qualquer pessoa de bem.
Mais grave: há informações avulsas de que o cidadão de nacionalidade chinesa proprietário da residência onde estavam guardados os cornos, e que era, até então, o dono dos cornos, que havia sido detido no dia 12 de Maio, já não está detido e nem está já em território nacional. Fomos informados de que pagou caução e desapareceu.
O porta-voz do Comando Provincial, Emídio Mabunda, disse que não tinha elementos para comentar sobre o assunto. Não confirmou nem desmentiu o assunto, e informou que o caso está em outras instâncias e que a Polícia já não é competente para responder pelo caso.
Na nossa opinião, é preciso que uma coisa esteja clara: o Estado já não existe. Há uma quadrilha que tomou conta do Estado e está a dirigi-lo com métodos do crime organizado, onde o patológico passou a ser normal, com a particularidade de o Estado se ter demitido das suas atribuições constitucionais.
Escrevemos na semana passada – e parece-nos que os factos tendem a testemunhar a nosso favor – que o produto foi devolvido aos donos através do sindicato do crime organizado que está na Polícia. Na nossa opinião, o sector da Polícia envolvido nesta vergonha toda não é a arraia-miúda. São as habituais altas patentes, que, depois, de mergulharem no crime, e perante uma impunidade total, funcionam na lógica de “L’État c’est moi” [“O Estado sou eu”].
O bando que actua na Polícia convenceu-se de que pode passar a vida a contar histórias da carochinha, que o povo é mesmo estúpido. Não há, na História, um Estado que não entrou em colapso, quando eram os criminosos que dirigiam a Polícia. Não há.
Talvez seja oportuno perguntarmos agora onde é guardada toda a droga e outros produtos ilegais que semanalmente são apreendidos nos aeroportos nacionais. É seguro que ninguém no Estado poderá mostrar-nos o armazém com esses produtos, porque os criminosos do Governo que dirigem a Polícia já fizeram chegar o produto aos seus parceiros. O mesmo já aconteceu com uma enorme quantidade de marfim que esteve no Ministério da Agricultura. Até hoje, ninguém sabe aonde foi parar. Ninguém está detido e ninguém foi responsabilizado pelo escândalo. Ou seja, a patologia tornou-se normal. O que está a acontecer com os cornos é apenas uma réplica desse episódio.
Mas tudo isto tem o seu perigo, e não tarda que os seus efeitos estejam à vista de todos. O crime organizado é alimentado pela ganância desmedida provocada pela possibilidade do enriquecimento fácil. Não se olha a meios para se chegar aos lucros. É esta a lógica do crime organizado.
Mas, quando o Estado que devia combater o crime está nas mãos dos criminosos, então assiste-se a todo este espectáculo degradante que nos está a ser dado a ver. É o Estado a funcionar como apêndice dos criminosos. Dentro do Estado já ninguém tem moral para apontar o dedo ao outro.
Veja-se, por exemplo, o que aconteceu no caso do suposto sequestro do empresário Momad Bashir. Não temos dúvidas de que esteja envolvido o mesmo sindicato mafioso da Polícia. O Estado foi arrastado para uma vergonha e obrigado a subscrever narrativas criminosas muito mal encenadas, porque falta legitimidade a todos para indicarem o caminho da lei e da seriedade.
Assistimos de forma vergonhosa ao Estado a embarcar numa história de um sequestro, de bolachas, de cativeiro de caixas metálicas e seus derivados. É assim como funciona o crime organizado. Enfraquece o poder do Estado, retira a legitimidade das instituições, controla os dirigentes e usa-os para fins vergonhosos. No período áureo dos raptos, denunciámos aqui, com provas documentais, que a Polícia estava envolvida nos raptos e a promover assassinatos encomendados por criminosos condenados em julgamento. Mas nada foi feito, e o sindicato continua aí: impune e a subjugar o Estado. É o que está a acontecer com a história dos cornos. Não nos surpreenderia que, nos próximos dias, o sindicato mafioso da Polícia crie um outro número para apresentar ao público, em nome das investigações que nunca existiram.
Mas de uma coisa temos a certeza: ou se toma a sério esta podridão da Polícia e varrem-se os vermes que por lá proliferam, ou amanhã estaremos todos a receber ordens de criminosos e a pagarmos impostos aos cartéis oficializados do crime organizado.
(Editorial do Canalmoz)
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