Sunday 15 August 2010

Esquecida, a Ilha de Moçambique esconde riquezas e encantos

As ruas no centro da Ilha de Moçambique ainda estão abandonadas e a maioria das construções cai aos pedaços. A ilha foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991.

No centro, estudantes caminham pelas arcadas de um prédio do tempo dos portugueses. Uma palavra familiar – farmácia – lembra que estamos em terras lusófonas.


A Capela de Nossa Senhora do Baluarte teria sido erguida pelos homens de Dom Pedro de Castro – um tio meu há 15 gerações?


Zaina afirma que sua pele fica muito mais suave quando ela usa a pasta branca.



O litoral de Moçambique é um dos mais bonitos de toda a África e suas praias são dignas de estar na lista das mais belas do planeta. Mas a costa moçambicana não oferece apenas coqueiros, águas translúcidas e areia branca. Um pouco de cultura e história sempre estimula nossa mente, não é? Assim, não foi difícil fazer um desvio de 60 km da estrada principal (que une o norte ao sul do país) para conhecer o lugar.
A ilha está ligada ao continente por uma ponte em estado precário, que tem uns 50 anos de idade. Percorremos a distância de 3 km bem devagarzinho, pois, além de ser estreita, a ponte está em obras. Com um suspiro de alívio, aterrissamos na ponta sul da ilha, na “Cidade de Macuti”. Macuti é a folha seca da palmeira, matéria prima abundante que serve para fazer os tetos das habitações locais. Como os telhados da grande maioria das casas desse bairro popular usam macuti, não foi difícil descobrir a origem do nome.
A parte norte da ilha leva outro título. É a “Cidade de Pedra”. Esta, sim, possui construções bem mais sólidas. O nome (“Stone Town”, em inglês) nos faz lembrar o centro histórico de Zanzibar, na costa da Tanzânia. As duas ilhas, mesmo se separadas por 1.000 km, possuem algo em comum: as “pedras” são, na verdade, pedaços de corais.
Ao contrário de Zanzibar, que está bem mais ajeitadinha e renovada, a “Cidade de Pedra” de Moçambique mostra as marcas do tempo e do descuido. As fachadas estão repletas de buracos, as portas decrépitas e os telhados se desmancham a cada chuva. Enfim, existem mais ruínas do que casas de pé.
Mas os primeiros investidores internacionais reconheceram o potencial turístico e cultural da ilha. Seguindo o barulho das obras, encontramos alguns casarões antigos que estão sendo restaurados. Todos servirão como hotéis ou pousadas para a temporada 2011. Com tanto charme sobrando, vale a pena investir na ilha.
Foi o navegador Vasco da Gama o primeiro a hastear a bandeira portuguesa na ilha, em 1498. Por sua localização estratégica no oceano Índico, o local já era povoado por árabes e africanos e fazia parte do Sultanato de Zanzibar. Ao passar às mãos do império de Dom Manuel I, a ilha tornou-se a primeira capital da nova colônia. Foi capital da África Oriental Portuguesa durante três séculos! Nada mais justo que tenha batizado também o país. Aliás, o nome viria de um personagem árabe, Mussa bin Bique.
A mais antiga edificação colonial portuguesa de todo litoral Índico é a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída na ponta norte da ilha em 1522. O templo encontra-se dentro do perímetro da Fortaleza de São Sebastião, uma das maiores no continente.
Poder conversar com qualquer pessoa em Moçambique é uma das vantagens de falar português – afinal, nosso idioma é o mais falado no Hemisfério Sul. Somos imediatamente reconhecidos como brasileiros (graças às novelas, os moçambicanos apreciam nosso sotaque) e a prosa flui com mais naturalidade. Uma das boas conversas aconteceu com Zaina, uma simpática quarentona, mãe de cinco filhos. Em seu rosto, ela havia passado, pela manhã, uma pasta branca em sua face. No norte de Moçambique – e principalmente na ilha – toda mulher um pouco mais dengosa usa diariamente essa “máscara de beleza” natural.
Ela nos convida a entrar no pátio de sua casa para mostrar como ela prepara a pasta. Encontra uma pedra plana que serve de base e pede à filha que traga um pedacinho de madeira clara. Ela fricciona o pauzinho na rocha com força até aparecer um pó bem fino; depois, ela pinga algumas gotas de água na mistura. “Faço isso todos os dias. Essa pasta é maravilhosa”, diz Zaina. “Mas quem precisa mesmo de um bom trato é nossa Ilha de Moçambique, você não acha?”



Haroldo Castro, na ÉPOCA, revista brasileira

3 comments:

Abdul Karim said...

Jose,

Vamos festejar na Ilha,

Dizem que ha boas lagostas.

JOSÉ said...

A sério, Karim?
Podemos combinar isso!

Abdul Karim said...

Faz o programa,