Friday, 27 August 2010

Cultura de trabalho

Mo Ibrahim se devia ter referido às lideranças africanas como sendo a principal causa do subdesenvolvimento. Porque ao dizer que o africano não tem cultura de trabalho esquece-se dos camponeses que se levantam de madrugada para a machamba e só voltam quando o sol se põe. Esquece-se dos camponeses de Chókwè que vêem parte da sua produção de arroz perder-se por falta de auto-combinadas, assim como o camponês do Niassa que vê a sua produção de milho apodrecer no celeiro por falta de comprador, vias de acesso e por preços miseráveis.
O multimilionário sudanês Mo Ibrahim esteve recentemente em Moçambique e dentre as várias declarações que proferiu uma prendeu-me a atenção. Mo Ibrahim afi rmou que o problema de África e dos africanos era falta de “cultura de trabalho”. Ora, uma declaração destas feita por um africano e em África despertou-me logo a atenção. O multimilionário sudanês dizia na peça jornalística que li que o atraso do continente devia-se à falta do gosto pelo trabalho. Após tal declaração, fi quei à espera de reacções críticas da Imprensa nacional, mas nada disso aconteceu.
Pelo contrário, a sua afi rmação era repetida em quase todos eles. Devo dizer que não sou motivado por sentimentos pessoais contra Mo Ibrahim, mas pelo espírito crítico. A minha crítica ao seu comentário surge porque acho que ele confundiu as coisas. Ao dizer que o africano não tinha “cultura de trabalho”, Ibrahim reduziu a situação de África a este aspecto com o qual não concordo, e passo a explicar porquê. Mo Ibrahim se devia ter referido às lideranças africanas como sendo a principal causa do subdesenvolvimento.
Porque ao dizer que o africano não tem cultura de trabalho esquece-se dos camponeses que se levantam de madrugada para a machamba e só voltam quando o sol se põe. Esquece-se dos camponeses de Chókwè que vêem parte da sua produção de arroz perder-se por falta de auto-combinadas, assim como o camponês do Niassa que vê a sua produção de milho apodrecer no celeiro por falta de comprador, vias de acesso e por preços miseráveis. Então, estes camponeses não têm cultura de trabalho ou é falta de liderança, políticas claras e incentivos que lhes levem a desinteressarem- se do que fazem?
O trabalho deve ser premiado para que promova o desenvolvimento económico e social dos cidadãos. Quando isto não acontece há um marasmo económico que na sua forma simplista é interpretado como falta de “cultura de trabalho”. Em países industrializados como o Japão e Alemanha, conhecidos pela capacidade de trabalho dos seus cidadãos, existe um mecanismo de premiação e punição. Premeia-se os trabalhadores e honestos e pune-se os preguiçosos e desonestos.
Portanto, estes são incentivos muito fortes para que se promova a “cultura de trabalho” e se descarte a dimensão genética do subdesenvolvimento. Pois à autoridade política dos nossos líderes se deve acrescentar a autoridade moral. Sem ela África e os africanos levarão mais tempo para atingir o tão almejado desenvolvimento.

Rui Guerra, Prestígio

1 comment:

Anonymous said...

Cabe ao governo (Ministério da Agricultura) a responsabilidade de ajudar estes camponeses na melhor forma de aumentar a produção, escoamento dos produtos agrícolas, vendas e vias de acesso.
O governo também deveria de promover a cultura do trabalho, do bom desempenho e do mau, através de incentivos, tais como bonus para os trabalhadores mais produtivos e uma multa para os trabalhadores preguiçosos ou não produtivos.
A maioria dos Moçambicanos que vivem no interior são muito trabalhadores, em contrapartida, a maioria dos que vivem nas grandes cidades entregam-se aos vícios da corrupção, ócio, alcoolismo, tabagismo, drogas, prostituição, etc.
Maputo é uma sociedade decadente.
Maria Helena