Sunday 8 August 2010

Entrevista com Quitéria Guirengane


Eu acho, acima de tudo, que nós como jovens temos de ter um espírito de pro-activismo e de coragem, temos que ter definidos aqueles que são os nossos objectivos a alcançar, o impacto que nós quremos que seja alcançado e o resto são os caminhos que nós iremos trilhar. Sempre iremos encontrar obstáculos, sempre iremos encontrar situações que se calhar não agradam a todos mas o que mais importa é que foi dita a verdade e que neste discurso eu acredito que se reflectem milhões de jovens moçambicanos e milhões de jovens em toda a África. Este discurso foi o reflexo de encontros que tivemos com jovens, de uma preparação que tivemos tanto com jovens que são membros do Parlamento Juvenil em Moçambique, como jovens que não são membros e que sentem que a nossa democracia em África ainda apresenta sinais de precaridade que só podem ser colmatados se houver um trabalho integrado não só da sociedade civil, dos jovens, mas que também haja vontade política, bons parceiros da cooperação, mas acima de tudo a força encontra-se na juventude que é a força activa e a maioria na população africana.

- Tu fizeste referências a um certo lambebotismo e a um yes-manismo que tu encontras na sociedade moçambicana. É uma crítica muito forte?!

É uma crítica construtiva porque nós achamos que aa verdade tem de ser dita, aquilo que nós pensamos tem de ser dito e só assim é que nós vamos construír uma melhor nação e enquanto o jovem não tiver uma postura activa e dizer aquilo que ele pensar, de dizer aquilo que ele quer, nós não iremos conseguir alcançar os objectivos que pretendemos. Nós estamos numa situação, num momento em que é importante que cada jovem assuma uma postura crítica em relação a todos os assuntos que dizem respeito directamente à juventude. A juventude é a força activa em Moçambique e não só. Então o lambebotismo é um grande entrave ao desenvolvimento de África, é um grande entrave à participação social, política e económica da juventude que vai ditar o aprofundamento do exercício democrático do poder. Então eu sinto, o Parlamento Juvenil sente, que na sociedade moçambicana os jovens assumem uma postura muito conformista em relação à situação, porque chegamos ao momento em que o jovem pensa que para podermos alcançar lugares de decisão, para podermos estar nos postos de implementação, precisamos de pertencer a um Partido político ou precisamos de dizer aquilo que agrada ao chefe. Este discurso é um chamamento, é um braço de mobilização estratégica, para que o jovem moçambicano, para que o jovem africano, participe de uma forma mais activa, mais pro-activa e mais vantajosa para África, naquilo que é o desenvolvimento, a participação na vida social, económica e política do País. Nós não queremos mais jovens que sejam activistas do lambebotismo, não queremos mais jovens que sejam activistas do yes-manismo, porque nós queremos uma África que seja livre, uma África que seja justa, mas acima de tudo, uma África em que haja identicas oportunidades para todos. É triste a situação que nós vivemos em que para se ter oportunidade é necessário ter alguém por trás e que as pessoas acreditam que temos de ser servos do Governo para que possamos conquistar aquilo que é nosso de direito. Tem de se inverter esta piramide em que o jovem, o Povo, passem a ser servidos pelo Governo e que haja algo para todos e não tudo para alguns, porque esta situação realmente preocupa a nós. A corrupção, a falta de emprego e habitação, são situações que realmente nos preocupam. Eu fazia uma provocação em relação ao fundo de desemprego porque no dia em que nós tivermos Fundo de desemprego em Moçambique, o Governo se sentirá mais pressionado a criar postos de emprego, porque agora há um certo desleixo, o Governo e as pessoas acham que todo o mundo tem de criar por si, mas não é assim, devem haver oportunidades e espaço para adquirir experiência, mas também deve haver uma força de vontade dos jovens para conquistarem esses lugares.

FONTE: Voz da América. Escute a entrevista aqui.

2 comments:

Anonymous said...

Excelente entrevista.
Ela diz o que muitos gostariam de afirmar, mas que não têm coragem, ou têm outros interesses a defender, outros porque são cobardes não o fazem, mas diz o que já estamos fartos de saber.
Enquanto a Frelimo estiver no poder, duvido que hajam grandes mudanças em relação à partidarização da sociedade, corrupção, nepotismo, etc.
Maria Helena

JOSÉ said...

A maioria dos jovens pensa como Quitéria e este discurso realista perturba os lambebotas.