SR. DIRECTOR!
Muito obrigado pela oportunidade que V.Excia me concede para a publicação deste texto. Na qualidade de munícipe desta folclórica urbe, a capital do país, sinto-me encorajado em satirizar as qualidades da cidade que me viu nascer. São visíveis os movimentos e a postura que diariamente a cidade tem vindo a mostrar.
Para o tema que aqui pretendo abordar, vou apresentar e desenvolver a outra parte do pacote referente aos dois fenómenos que directamente e diariamente afligem os habitantes desta urbe.
O problema do lixo é dos mais antigos e paradoxalmente menos discutidos na arena social. Seria este um problema de dimensão antropológica, ou seja, uma inquietação cuja solução passa pelo estudo integrado do homem habitante? Seria de dimensão sociológica? Ou seria o problema de dimensão estrutural organizacional da urbe? Seria este problema duma destas dimensões ou das três dimensões aglutinadas? Tecnicamente, estas hipóteses são convergentes num ponto: na questão ÉTICA. A postura urbana sadia tende a respeitar a moral. Citando Japiassú “A moral está mais preocupada na construção de um conjunto de prescrições destinadas a assegurar uma vida comum justa e harmoniosa”. Refiro-me a postura que certos munícipes desta cidade demonstram. É usual observar na cidade das acácias (não obstante o desaparecimento progressivo das ditas acácias), citadinos arremessando lixo em lugares impróprios; nas praias são visíveis latas de lixo saturadas transbordando lixo por todo o lado, clamando pela proliferação de recipientes ou de recolha eficiente; nas ruas, nos pisos, nos carros, etc.
Um dado curioso observa-se nos transportes: tanto nos colectivos de passageiros como nos particulares, onde pessoas sóbrias atiram pela janela objectos sobre a rua. Atitude esta que tende a multiplicar quando tão pouco se vê nos petizes, uma acção contrária a esta, visto que, adquirem este modo de agir nos seus parentes admiradores. Nesta urbe é molestada a MORAL, muito se fala, mas pouco se pensa no futuro.
Ao amanhecer verifica-se um outro fenómeno de carácter desumano, asqueroso, hostil, estridente, o fenómeno dos transportes de passageiros de “caixa aberta”. Transportes com uma roupagem totalmente negativa. Este fenómeno deve-se ao facto dos autocarros colectivos e semi-colectivos não conseguirem ser abrangentes a todas as pessoas desta “bela” urbe? Ou deve-se a voz do povo que está minimizada, de tal modo que, mal se ouve o alarido do tal mais almejado desejo de desenvolver-se mais a nível dos transportes? É de reconhecer o papel dos transportadores que fazem de tudo ao seu alcance para perspectivar maior segurança aos seus passageiros. Para que estes possam sair e chegar nos seus destinos salvos de qualquer sinistralidade nas estradas. A estes intitulo-os heróis, pois, as suas acções derivam de um grande sacrifício. Sacrificam-se para o bem do outro, que também é humano. Estes têm em vista primeiro a segurança, e só depois as receitas monetárias. Coisa esta que não se verifica em outros transportadores, que identificam as pessoas como cargas que valem a tarifa de viagem, e pouco fazem pela segurança das mesmas.
Mais interessante ainda é que ainda assim continua se vendo as enchentes nas paragens da cidade e arredores. Gente que fica horas e horas esperando, em condições desumanas, visto que das poucas paragens que herdaram assentos de espera do tempo de “Lourenço Marques”, maior parte delas estão destruídas e pouco dignas de ser utilizados.
Emmanuel Kant, um expoente moderno no tempo, escreveu uma obra intitulada a Critica da Razão Prática, onde analisa os fundamentos da lei moral. Acaba formulando um famoso princípio do imperativo categórico: «Age de tal forma que a norma da tua acção possa ser tomada como lei universal». É um princípio que nos diz que só devemos basear a nossa conduta em valores que todos possam adoptar. Esta Ética é por muitos vista como um marco contributo para a melhoria do caos alojada no tempo e hoje superada. Se hipoteticamente cultivada nas mentes, transformada no nosso contexto e difundida para todos, quem sabe a postura citadina melhore de forma concreta e se possa efectivamente dizer: “Maputo, cidade próspera, bela e cívica”.
Tenho dito.
Joaquim Matos Pedro Sitole, Notícias
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