Wednesday, 13 February 2013

Carnaval de Quelimane sob o signo da solidariedade

SOB o lema “Carnaval Solidário” encerrou em apoteose na madrugada de domingo a maior destas festas em Moçambique que vinha decorrendo há duas semanas na Praça da Independência na cidade de Quelimane. O carnaval deste ano ultrapassou todas as expectativas do ponto de vista de participação dos grupos foliões, assistência, organização e premiação.
Os grupos foliões entregaram-se de corpo e alma para conquistar a simpatia do júri e o público de Quelimane, Beira, Nampula, Maputo e Malawi marcou presença em grande número que a memória não traz recordações, tornando a Praça de Independência e toda a avenida marginal tão pequeno, não havendo espaço para pôr uma agulha.
Inicialmente, estava prevista a participação de vinte e sete grupos foliões dos bairros e das empresas mas a pressão sobre a organização foi tanta que acabou cedendo. Deste modo, dos vinte e cinco grupos previstos, o número acabou subindo para trinta e oito, sendo vinte e oito dos bairros e doze de empresas, estes últimos, que aproveitaram o evento para divulgar as marcas e produtos para o grande público presente. Mesmo com a abertura, havia grupos informais que não tendo conseguido a sua inscrição oficial não perderam tempo, “mergulharam” na festa do carnaval e conseguiram arrancar uma salva de palmas dos expectadores.
O Carnaval edição 2013 foi assistido por uma grande moldura humana não só de Quelimane, como também de outras cidades do pais e do estrangeiro. O contagiante ambiente de serpeantes danças, cor, luz e alegria a mistura com comes e bebes atraiu pessoas de Maputo, Beira, Nampula e Malawi.
Salvador Grande é um dos expectadores que saiu de Maputo para Quelimane para assistir ao carnaval. Em breve conversa com à nossa Reportagem, Grande disse que nunca na vida tinha visto um movimento tão cálido em torno de uma festa de carnaval. “Este movimento causou em mim uma grande surpresa; nunca tinha visto muita gente, mulheres, homens e crianças a juntar-se a um movimento cultural”, afirmou o nosso entrevistado para quem o evento se depende-se de si deveria acontecer pelo menos duas vezes por ano.
Sónia Nordine viajou de Nampula e afirma ter constatado que de facto o carnaval é uma das maiores festas de Quelimane, porque não tem idade e as pessoas encaram-no com uma alegria de fazer ciúmes. “ Já assiste carnaval em Maputo mas algo assim nunca vi; eu penso que esses momentos deveriam ser registados e documentados através de filmagens e fotografias e outras formas de comunicação para continuar a transmitir essa herança cultural a novas gerações e divulgar para mostrar que realmente o carnaval de Quelimane é o melhor e o maior de Moçambique”, disse.
Para além dos turistas malawianos, o alto Comissario daqueles pais em Maputo e sua esposa estiveram no encerramento do carnaval.Em breves declarações aos convivas aquele diplomata disse que notou muita entrega e estoicismo dos grupos foliões mas apelou para a necessidade de se usar essa energia para programas de desenvolvimento como educação e criação de condições de bem-estar social e económico.
Ainda no local abordamos os membros dos grupos foliões e jornalistas, os quais, manifestaram a sua satisfação com a organização. Para Clacia Mendes, pertencente ao grupo folião da 2M, a festa do carnaval ultrapassou as expectativas do ponto de vista de organização e participação do público, o que resta é a as autoridades municipais divulgarem mais o evento nas outras cidades e no exterior para que o mundo perceba que carnaval em Quelimane é de facto uma grande festa que não idade.
O jornalista da Rádio Moçambique e secretário provincial do SNJ Teófilo Noronha classificou o evento como sendo singular pela forma como os grupos foliões se bateram no palco para conquistar o júri. A documentação deste evento deverá, no dizer do nosso entrevistado, ser tomada a peito pela edilidade como forma de guardar o legado histórico-cultural às futuras gerações. “É preciso transformar as músicas locais no estilo samba para ‘quelimanizar’ mais a festa e não ser exclusivamente o samba brasileiro; noto algum esforço das bandas convidadas a fazer as músicas em samba e isso é agradável para os bons ouvidos”, disse Noronha.

Brasil e Malawi convidados de 2014

Entretanto, grupos foliões do Brasil e do Malawi poderão participar na festa do carnaval edição 2014. O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, disse por ocasião do encerramento da presente edição que com este gesto pretende-se mostrar ao mundo que Quelimane é de facto um pequeno Brasil quando se trata de carnaval. “Os brasileiros estarão aqui, dançando samba de lá e daqui numa miscelânea de músicas do mesmo tipo com sotaques diferentes; moçambicanos e brasileiros são povos com história colonial e comum e poderão fortalecer as relações bilaterais na área de cultura e o carnaval será a porta de entrada”, afirmou Manuel de Araújo bastante ovacionado pelo público presente.
O edil de Quelimane prometeu mais ajuda aos grupos foliões dos bairros na próxima edição. Cada um dos vinte e oito grupos recebeu 15 mil meticais para custear as despesas decorrentes da sua participação e no próximo ano aquele valor será acrescido em mais 10 mil meticais.
Entretanto, Alberto Manharage, director provincial dos Transportes e Comunicações da Zambézia, em representação do governador, considera que o carnaval de Quelimane é dos melhores e maiores de Moçambique, pelo há toda a necessidade de repensar a sua dinamização para ser considerado com um dos pilares culturais da província da Zambézia.



Quelimane gosta do carnaval

O carnaval é a festa de todos os tempos e a maior entre o povo chuabo. Desde dos anos 1950 que Quelimane festeja efusivamente o carnaval. Naquele período, não havia sequer uma instituição que se encarregasse de organizar a festa. Depoimentos de várias pessoas já na terceira idade afirmam que naquela época bastava um grupo de pessoas sair à rua a tocar e dançar ao carnaval, as outras iam aderindo, até o cortejo crescer e chegava-se no ponto onde todos paravam. Com música, comes e bebes as pessoas iam se divertindo. Era o carnaval popular.


Jocas Achar, Notícias

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