Monday 25 February 2013

As cheias e inundações de 2013 têm o condão de revelar “segredos dos camaradas”…

Nem tudo o que brilha é diamante?

Mas é preciso aprofundar-se a análise crítica para bem de Moçambique….

A situação actual de precariedade institucional, desempenhos sofríveis e assalto aos cofres do estado bem como recursos públicos é uma consequência directa da inexistência de mecanismos que garantam a responsabilização dos titulares dos cargos públicos.
Agora fala-se abertamente e através de órgãos de comunicação social controlados governo que por exemplo o coronel Sérgio Viera terá esbanjado recursos financeiros do GPZ. Não foi pouco o dinheiro que foi posto à disposição de uma equipa inconsequente de gestores públicos.
Foi tudo feito como se uma forma de afastar do centro do poder, Maputo, algumas figuras incómodas ao regime do dia.
Terão alguns pensando que desterrando Sérgio Viera para Tete seria a solução para um “velho problema”. Ou não terá sido essa a percepção que fez o executivo de JAC agir. AEG terá tolerado a presença daquele “quadro” multifacetado durante algum tempo mas a realidade mostrou-se contra a sua permanência na vida pública.
Terá sido um dos efeitos da contínua crítica social que deu resultados.
Mas com a existência de mecanismos activos de responsabilização dos titulares dos cargos públicos teríamos Sérgio Viera e muitos outros quadros deste governo e anteriores, respondendo civil e criminalmente por acções desencadeadas propositadamente, para defraudar recursos públicos.

Durante anos, muito do que faziam os chamados dirigentes e seus superiores hierárquicos estava coberto de uma “manta de silêncio”. Era um autêntico sacrilégio referir-se em público, sobre os falhanços ou algo menos conseguido por um responsável da Frelimo que ao mesmo tempo ocupava um posto governamental de relevo. Era proibido falar de erros por parte dos responsáveis superiores dos órgãos do estado, governo e partido “dirigente”.
Essa cultura perniciosa, nefasta, entorpecente vigorou durante tempo que acabou absorvida pelo tecido social moçambicano.
Na arena política moçambicana é interessante verificar que tal comportamento permeou para os outros partidos políticos que foram surgindo ao abrigo do advento multipartidarismo.
A paz conquistada pelos moçambicanos não significou de imediato a emergência de uma democracia fortificada com separação efectiva de poderes. Pela blindagem que a Frelimo executou ao nível dos órgãos de soberania e de todo o sistema político continuou-se cum um executivo estreitamente ligado a um partido que não jamais se mostrou disposto a compartilhar, a tolerar politicamente os outros. O AGP em si, foi fruto de circunstâncias adversas de percurso que foi aceite porque em perigo estava todo um poder que garantia a sua sobrevivência política, económica e financeira.
Os “camaradas” tinham montado um sistema de autoprotecção que assegurava a sua impunidade.
Se a senhora Ministra de Educação falha ao implementar um sistema educacional que não garante a qualidade dos educandos nem responde aos desafios tecnológicos da actualidade isso jamais é mencionado porque ofenderia um quadro do partido e nesse caso o próprio partido Frelimo e seu líder que era na altura seu legítimo esposo. Tal é a teia que o proteccionismo cria e protege.
Entre “camaradas” como cada um sabe dos “podres do outro” ninguém toca em ninguém.
Agora se aparecem mencionando criticamente Sérgio Viera é porque este deve estar rotulado de “renegado e indesejável” no seio de que detém o poder no em seu partido. Por querer manter um protagonismo que lhe foi garantido durante a I república, com Samora Machel, não terá compreendido o sentido da história.
Afastado para a periferia por JAC insistiu em manter-se no activo através de uma coluna num jornal público e accões ao nível de gabinete que se supunha a “varinha mágica” para o desenvolvimento do Vale do Zambeze.
Agora com a morte de um dos assessores da direcção de tal jornal que veiculava suas opiniões, pontos de vista e ataques aos adversários políticos, Sérgio Viera está como que profundamente isolado, desconectado com os centros de decisão política e sem instrumentos para garantir sua sobrevivência política. As reformas que devem estar auferindo não garantem aquele estatuto a que estava habituado e isso incomoda sobremaneira a pessoas arrogantes, egocêntricas e narcisistas.
Estamos no campo da conjetura política. Na verdade sem elementos sólidos para fundamentar algo, há que dizer que existe muita especulação em tudo o que se possa afirmar sobre este senhor e outros que dominaram a arena política moçambicana nos últimos anos.
A recusa de algumas pessoas se reformarem e optarem por seguirem vidas privadas longe da visibilidade que a comunicação social oferece está-se tornando um problema para o para o país. Gente que está contra a corrente de desenvolvimento e dos esforços por criar-se uma sociedade mais tolerante está continuamente emitindo pontos de vista que afectam o processo de decisão política.
Como consequência de directivas internas de um partido que detém o poder efectivo no país, todo um povo sofre por querelas internas de pessoas que bem se conhecem. Se agora mostram na verdade que não se toleram que o façam a nível privado e não institucionalmente.
Não se pode arrastar todos os moçambicanos para os corredores de Argel e de Dar es Salaam, para os debates que não aconteceram entre “camaradas”, para decisões que uns tomaram e que outros executaram porque se tratava de uma estratégia que convinha às partes agora desavindas.
Aquele “engraxanço”, lambebotismo e elogios infundados a “camaradas” do passado, não foram suficientes para manter o edifício partidário sólido. As alegadas “alas” são agora visíveis e gente que se uniu outrora, para esconder dos moçambicanos, todo um conjunto de horrores agora está desavinda e combatendo-se virulentamente.
O combate e a guerra decorrem encoberta mas é um vulcão activo expelindo lava e odores sulfúricos venenosos.
Há escribas e atiradores furtivos contratados, mercenários da pena e da imagem, dispostos a servir seus mentores em troca de segurança e bem-estar material e financeiro.
Mas os combates intestinos na Frelimo, entre gente que jamais se “amou” mas que se tolerou porque acreditavam que os objectivos estratégicos enunciados e em certa medida definidos num âmbito mais alargado de uma Internacional Comunista eram superiores a sua preocupação individual ou questões de fórum privado.
Com o desaparecimento físico de Samora Machel o campo tornou-se fértil de iniciativas que apontavam para uma alteração de direcção e de comportamento por parte de gente pertencente ao núcleo duro da Frelimo.
Gente que perdeu poder real e efectivo não suportou passar para o anonimato. Pessoas que se supunham insubstituíveis, possuidoras de retórica e verbo, viram-se subitamente perdidas num oceano bravo em que pontificavam figuras bem conhecidas. Manipulação e engenharia de interesses construíram uma base para a sucessão do poder mas os que foram considerados incómodos rapidamente viram que estavam ficando ou se tornando numa ala.
Então o processo de clivagem na Frelimo foi tao natural como a tese abraçada de “Empoderamento Económico Negro”. As fissuras e rombos num edifício que se dizia “paredão unido e único” hoje são indiscutíveis embora os guardiões do poder na Frelimo se neguem a reconhecê-lo.
Colocados na periferia os “marxistas e leninistas” de ontem, brilhantes manipuladores e produtores de elogios infundados para alimentar egos inflamados de “líderes” negam-se a reconhecer que chegaram ao fim da linha.
Afinal não eram diamantes mas sim pedras de vidro sem valor algum. Sua longa carreira é uma soma de mediocridades e violência verbal e física contra seus concidadãos está sendo descoberta e revelada aos moçambicanos.
Importa que de maneira improvisada combinada com as vias institucionais se denuncie quem prevarica no âmbito de suas funções. A responsabilidade intrínseca dos titulares de cargos públicos é o termómetro para avaliar quem merece dirigir pelouros governamentais.
Não se pode misturar a militância partidária com a ausência de competência para governar.
Aquela tese de confiança política como factor primordial para se escolher os moçambicanos que ocupam cargos de responsabilidade na esfera pública faliu como todos vimos.
Os afilhados de primeiros-ministros ou de ministros não são só por esse facto que se qualificam para serem PCA’s de empresas públicas ou secretários permanentes de ministérios. Promover o género na esfera governamental e parlamentar deve ser um processo limpo de favores políticos ou sexuais.
É salutar verificar que Moçambique e os moçambicanos crescem no seu entendimento de seus assuntos e que tomam cada vez mais posição sobre os mesmos.
Os bajuladores e artistas em produzirem opiniões “luzentes” desmascaram-se todos os dias e os moçambicanos começam a negar-se a comprar “banha de porco por banha de cobra”…


Noé Nhantumbo, Canal de Moçambique – 20.02.2013, no Moçambique para todos

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