Tuesday 5 February 2013

Catástrofe humanitária em Gaza ou cooperação regional inexistente?

Tanta Tecnologia de Informação e Comunicação para nada…

Com investimentos vultuosos sendo feito na área de Tecnologias e Informação e Comunicação, com tanto contacto político entre o governo sul-africano e o moçambicano ainda se mostra longe o dia em que aquela comunicação efectiva e útil vai acontecer.
Os gestores das bacias hidrográficas compartilhadas, os serviços de meteorologia, os governos de países vizinhos têm obrigações inalienáveis. As chuvas e as suas previsões existem e são monitoráveis.
As infraestruturas hidráulicas são conhecidas e seus limites também. Não constitui surpresa ou ninguém pode alegar que não havia conhecimento de que as barragens sul-africanas iriam abrir suas comportas se modos a protegerem--se. Também a barragem de Massingir tem os seus planos ligados a ocorrência de chuvas a montante e de descargas dos vizinhos.
Na mesma altura em que se prévia uma catástrofe os governantes, responsáveis do pelouro de águas que fizeram entre nós? Quem não possui informação procura-a. Cabe aos vizinhos estabelecerem canais fluídos de comunicação para atempadamente decidirem o que se deve fazer no momento oportuno.
Não se pode ficar a espera de que as catástrofes aconteçam e que depois se “comece a chorar”.
Do governo espera-se uma acção proactiva, inteligente, diligente, com impactos visíveis. Agora que a desgraça chegou a Chokwe numa repetição dantesca do que aconteceu em 2000 provam-se capacidades e desempenhos de que exerce funções governativas.
Todo o aparato posto à disposição de nossos governantes, telefonia fixa, móvel, via satélite, internet, gabinetes de estudo, assessores das diversas áreas para que servem afinal? Quem é rápido a orçamentar e a assegurar que os recursos sejam fornecidos pelo Orçamento Geral do Estado deve ser responsabilizado quando as coisas correm mal.
É tão simples como isso.
A comunicação entre as autoridades do pelouro de águas da África do Sul e Moçambique está aquém daquela que deveria existir.
Se em questões nevrálgicas como o controlo das bacias hidrográficas compartilhadas não se consegue fluidez comunicativa, rapidez e eficiência para que servem os recursos gastos em consultorias e montagem de estacoes higrométricas?
A SADC é o organismo regional que se entende que gere e coordena acções regionais visando promover o desenvolvimento económico e politico da África Austral. Os povos pagam para que a SADC exista e que seus funcionários sejam pagos a tempo. Tomas Salomao, Secretario Executivo da SADC até é moçambicano e tem responsabilidade em tudo o que acontece ao nível da região.
Os diversos gabinetes técnicos, os ministérios de obras públicas, de águas e outros dos governos regionais são responsáveis pela gestão dos assuntos correntes.
Há coisas da natureza que não se podem evitar mas há outras em que uma comunicação atenta, atempada pode servir para colmatar e diminuir os efeitos de catástrofes naturais.
O momento é de trabalhar-se para o salvamento de pessoas e seus bens. É tempo de lançamento de campanhas de solidariedade social de âmbito nacional, regional e internacional.
Mas convém que se aprendam as lições em momentos como este em que as chuvas numa ampla região fazem os seus efeitos.
Em outras latitudes e países, na Rússia e nos EUA a gestão de catástrofes naturais fez cair directores de emergência e ministros.
Katrina e outras crises foram suficientes para se entender que a burocracia em que funcionavam instituições vitais para o socorro humanitário e a sua prevenção estavam adormecidas.
A decisão política inadiável foi se responsabilizarem os titulares de tais órgãos. Politicamente é necessário que prossigam acções de socorro e organização de todo um esquema que minore o sofrimento de milhares de pessoas.
Agora o epicentro da crise humanitária é Gaza mas rapidamente a situação pode evolui para outras bacias hidrográficas nacionais.
O caracter cíclico das cheias, conhecido tanto pelo governo como pela população exige que medidas proactivas sejam tomadas.
A planície de Gaza agora inundada, em que se localizam alguma cidades e outros aglomerados populacionais requer uma profunda revisão no seu ordenamento territorial. É uma questão de sobrevivência e de sentido de prevenção.
Uma planificação dos recursos hídricos deve ser feita de modo a que as infraestruturas de defesa necessárias sejam consideradas e fundos alocados para a sua edificação. O futuro começa hoje e aquilo que é tecnicamente aconselhável, deve ser executado sob pena de Moçambique viver sempre sobressaltado por inundações e outros fenómenos naturais.
Não é tempo de aproveitamentos políticos mas os parlamentares devem ser os primeiros a unirem-se em defesa dos cidadãos, descontando de seus salários para aliviar seu sofrimento, pressionando o governo a libertar recursos em socorro as vítimas das cheias, preparando planos de contingência a altura das necessidades.
Enquanto isso convém que o governo de Moçambique abra os olhos e institua uma comissão de inquérito sobre a gestão da bacia do rio Limpopo.
Quem tem telefone pago pelo estado e responsável pelo pelouro de águas deve responder ao que sabe e explicar o que fez antes da declaração da cheias e depois.
A ARA SUL, o Ministério das Obras Públicas e Habitação, o INGC, o governo em si, deve explicar devem explicar aos moçambicanos o que aconteceu, o que falhou, quem falhou ou quem não fez o que deveria fazer.
É preciso passarmos de um governo faz de conta para um governo que realmente faz.
Os “compadres” que existam fora daquilo que são as responsabilidades inerentes aos cargos públicos que exercem.
Assistir-se serena e impavidamente ao avanço das águas e a destruição não é o que os moçambicanos esperam de seu governo…



Noé Nhantumbo, Canal de Moçambique – 30.01.2013, citado no Moçambique para todos

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