Saturday 2 February 2013

A opinião de Machado da Graça

Olá Manuel, meu bom amigo
Como estás tu de saúde? E a tua família? Do meu lado tudo bem, felizmente
Queria hoje falar-te de uma coisa que, há poucos dias, o nosso Primeiro-ministro afirmou, e de que não gostei.
Falava ele sobre a solidariedade interna que deve haver entre os moçambicanos para com as vítimas das calamidades naturais. Dizia que cada um deve dar um pouco do pouco que tem. E acrescentou, cito de memória, “porque, no nosso país, ninguém tem muito”.
Ora isto, meu caro Manuel, para além de ser uma enorme mentira, serve apenas para esconder uma realidade terrível: é que se pede solidariedade aos pobres mas não se vê solidariedade nenhuma a partir dos ricos e dos riquíssimos.
Diz-se que o cidadão Armando Guebuza é a pessoa mais rica do país. Alguma vez ouviste falar de ele ter contribuído com alguma coisa, tirada do seu bolso, para amparar os mais desfavorecidos?
Eu também não.
Pelo contrário, assistimos àquela chocante festa de aniversário, cujos custos exorbitantes saíram do nosso bolso comum. Saíram de onde devia estar, agora, a sair dinheiro para o apoio às vítimas. Nem a festa de aniversário ele foi capaz de pagar do seu próprio bolso. Eu, que sou quase da idade dele, nunca tive nenhum emprego que me pagasse as festas dos meus aniversários. Tu já tiveste?
E quando falo do cidadão Armando Guebuza, estou a falar de todos quantos estão a enriquecer, escandalosamente, à custa das benesses do poder político. Todos esses que, há vinte e poucos anos,
eram tão pobres, como éramos todos nós, e hoje ostentam inacreditáveis fortunas. Fortunas cuja origem muitos deles teriam, decerto, bastante dificuldade em explicar.
Alguma vez um deles ofereceu alguma coisa, do seu bolso, para aliviar o sofrimento dos que estão na desgraça total? De que eu tenha ouvido falar, nem um centavo.
Por tudo isto, a minha sugestão ao nosso Primeiro-ministro seria que ele iniciasse o peditório por cima, dando ele próprio o exemplo através de um cheque “compatível”. Ganharia assim alguma autoridade para, depois, também pedir a contribuição dos pobres.
Desta maneira, a mim caiu-me bastante mal.
O que achas tu?

Um abraço para ti do


Machado da Graça,


Correio da manhã Nº 4001, 25/01/2013



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