Neste domingo, um novo país pode nascer no coração do continente africano. Cinco anos após um frágil acordo de paz, costurado depois de duas décadas de guerra civil, um referendo deve aprovar a criação da 193ª nação do mundo na região sul do maior país do continente, o Sudão. Contra os primeiros prognósticos, o presidente Omar Bashir parece agora inclinado a aceitar o previsível resultado a favor da independência do Sudão do Sul. Mas o sucesso do processo de emancipação, e o fim definitivo do conflito que opôs o Norte, maioritariamente árabe e muçulmano, ao Sul, negro e cristão, dependerá de negociações futuras em torno da única riqueza do país: petróleo. É que as reservas estão no sul do país, e a saída para o mar, ao norte.
Os Estados Unidos e as Nações Unidas já se declararam optimistas com a votação. A expectativa é que mais de 90% dos eleitores optem pela independência. A ONU declarou que o Sudão dispõe dos meios para realizar um referendo “pacífico e crível” e prevê que a independência do Sudão do Sul se concretize em julho. Juba seria a capital. Mas caso o Norte não aceite a independência, teme-se uma nova escalada de violência - a triste marca histórica de lutas separatistas mundo afora, em particular no continente africano.
Guerra civil - Além do conflito entre Norte e Sul, que causou um número aproximado de 2 milhões de mortos, dificuldades econômicas também alimentam as ambições separatistas do Sul. De 169 países, o Sudão está na 154ª posição do ranking de desenvolvimento humano (IDH), enfrenta uma pesada dívida externa e uma inflação galopante provocada pela brusca desvalorização da libra sudanesa nos últimos três meses.
Refúgio - O governo do vizinho Quênia anunciou na quarta-feira planos de contingência para lidar com um possível fluxo de refugiados do Sudão. Mais de 20.000, estima-se, podem cruzar a fronteira se a consulta acabar em violência, segundo o Alto Comissariado para Refugiados da ONU (Acnur). A recepção aos refugiados será feita por meio de uma parceria entre o governo do Quênia e o Acnur. O plano conjunto prevê um sistema de registo e entrega de documentos para os refugiados. O Quênia já abriga actualmente cerca de 360.000 refugiados, a maioria deles de origem somali, sudanesa e etíope, segundo dados do Acnur. Estima-se que pelo menos 4 milhões de sudaneses da região sul vivam fora do país. Nos últimos meses, com a aproximação do referendo, muitos deles voltaram ao país para votar.
Genocídio - O presidente Bashir tem contra ele uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e genocídio em Darfur, região oeste. O conflito começou em 2003, opondo tribos nômadas africanas de língua árabe e religião muçulmana às demais etnias. A ONU estima as mortes causadas pelo conflito entre 50.000.
RM
ADENDA - Referendo que pode dividir o Sudão começou com participação “muito forte”
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