Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O Presidente Ben Ali começou por prometer 300 mil novos empregos, jurou que não se recandidataria, comprometeu-se com reformas, fim da censura, demissão do Governo e eleições antecipadas. As manifestações e a repressão aumentaram e os apelos externos à calma foram inconsequentes. Sem força e manchado por nepotismo e corrupção familiares, Ben Ali acabou a semana já longe do país.
Bastou juntar a subida de preços dos bens essenciais ao elevadíssimo desemprego jovem para destapar o drama encoberto. A angústia do primeiro emprego que tarda, o esforço universitário sem retorno, a informação - mesmo com vigilância apertada - que espalha nas redes sociais as patifarias ou o enriquecimento da elite do regime, a impotência da oposição e a ausência de opções, radicalizaram posições pelas ruas de Tunes. Houve imolações, suicídios e dezenas de disparos indiscriminados pela polícia. Quando se chega a este ponto é porque não há mais alternativas. Melhor: só existirão num quadro de democratização extensível a todos. Este é o desafio da Tunísia, da Argélia, de Marrocos ou do Egipto. E é aqui que regresso à Europa. A timidez do discurso sobre liberdade e democracia espelha a sua política mediterrânica e a fragilidade da sua narrativa externa. Por um lado, contenta-se com regimes autoritários na esperança de que sejam travão ao extremismo islâmico e à imigração ilegal, esquecendo-se de que só democracia e liberdade económica melhoram a repartição da riqueza, moderam o radicalismo e fixam as populações. Por outro, revela não perceber que os princípios que a fundaram e nortearam são hoje anseios de uma vasta juventude árabe revoltada com os modelos políticos onde vive. Se a União Europeia não lhes dá apoio público é porque não consegue ver o mundo para lá de 2011.
BERNARDO PIRES DE LIMA, Diário de Notícias
Bastou juntar a subida de preços dos bens essenciais ao elevadíssimo desemprego jovem para destapar o drama encoberto. A angústia do primeiro emprego que tarda, o esforço universitário sem retorno, a informação - mesmo com vigilância apertada - que espalha nas redes sociais as patifarias ou o enriquecimento da elite do regime, a impotência da oposição e a ausência de opções, radicalizaram posições pelas ruas de Tunes. Houve imolações, suicídios e dezenas de disparos indiscriminados pela polícia. Quando se chega a este ponto é porque não há mais alternativas. Melhor: só existirão num quadro de democratização extensível a todos. Este é o desafio da Tunísia, da Argélia, de Marrocos ou do Egipto. E é aqui que regresso à Europa. A timidez do discurso sobre liberdade e democracia espelha a sua política mediterrânica e a fragilidade da sua narrativa externa. Por um lado, contenta-se com regimes autoritários na esperança de que sejam travão ao extremismo islâmico e à imigração ilegal, esquecendo-se de que só democracia e liberdade económica melhoram a repartição da riqueza, moderam o radicalismo e fixam as populações. Por outro, revela não perceber que os princípios que a fundaram e nortearam são hoje anseios de uma vasta juventude árabe revoltada com os modelos políticos onde vive. Se a União Europeia não lhes dá apoio público é porque não consegue ver o mundo para lá de 2011.
BERNARDO PIRES DE LIMA, Diário de Notícias
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