O ano de 2010 foi um ano particularmente difícil.
Parece um lugar comum, pois as famílias moçambicanas e os agentes económicos sentiram na pele os efeitos da crise. A crise que veio de fora e a crise que foi provocada pela inépcia da Frelimo e o seu Governo em lidar com os factores conjunturais.
Foi um terrível erro de cálculo a “falsa” crise entre o Governo e os principais parceiros de cooperação, conhecidos por G-19. Os atrasos nos desembolsos que baralharam as contas governamentais e puseram o banco central a “fazer política” em vez do ministério das Finanças. Apesar dos aplausos fariseus das instituições de Bretton Woods, ainda está para ser provada a certitude das medidas de contenção da inflação e da circulação da massa monetária que levaram as taxas de juro, uma vez mais, a disparar para tectos desesperantes.
O autismo Frelimo/Governo levou à repetição dos erros de 2008 e a população saiu mais uma vez à rua de forma anárquica e desesperada. As respostas de carácter económico e securitário, mostraram uma direcção política do país fraca, pouco competente e saudosista dos tempos da omnipresente segurança do Estado. O episódio - não encerrado ainda - do registo dos telefones pré-pagos é anedótico e sinónimo da insegurança que se apossou das hostes da elite política.
Não é líquido que o perigoso afundamento da petrolífera nacional para subsidiar os combustíveis ao público corresponda a um imperativo nacional, quando os sectores mais abastados da sociedade se beneficiam exactamente desse subsídio prodigamente oferecido pelo Governo.
Tal como cereja no topo do bolo, os elementos devastadores do Inquérito aos Orçamentos Familiares (IOF) 2008-09 mostram que a pobreza de consumo não diminuiu nos últimos sete anos, um embaraço que atinge não só o governo mas toda a comunidade internacional que apoia mais ou menos acriticamente as políticas oficiais.
A forma como em privado se reagiu à nomeação de um barão da droga moçambicano pela administração Obama, as pressões sobre a banca e a despudorada histeria da imprensa, são outro indicador do desnorte que atingiu sectores sensíveis do poder político em Moçambique.
Nem só a frente governamental deve ser motivo de preocupação dos moçambicanos: das famílias e dos agentes económicos.
A nossa democracia constrói-se com uma oposição forte e com uma sociedade civil vibrante.
2010 foi talvez o “ano horribilis” da Renamo com o seu líder auto-exilado em Nampula. O MDM (Movimento Democrático de Moçambique) começou bem, mas a sua acção está muito circunscrita ao Parlamento e os seus representantes parecem mais preocupados em obter certificados de bom comportamento do que fazer oposição a sério. As organizações da sociedade civil - salvo honrosas excepções - continuam a reboque do partido governamental, o que é pouco salutar para a democracia moçambicana. A imprensa, outro pilar fundamental e que, muitas vezes, tem de fazer papéis múltiplos, começa a dar preocupantes sinais de cansaço e fraqueza, perante a crise económico-financeira, mas também pela crise de valores que corrói (também) as redacções.
Com tal pano de fundo, torna-se difícil prognosticar um melhor 2011.
A crise económica vai continuar a roer os orçamentos familiares e a vida das empresas. O governo está pressionado a encontrar e a implantar medidas de médio e longo prazo que substituam os “pensos rápidos” adoptados em Setembro, sem contar com os esperados “milagres” dos rendimentos das indústrias extractivas, a nova miragem que faz com que as elites acreditem que melhores dias virão.
É difícil enfrentarmos uma realidade pior que 2010.
Mas não tenhamos dúvidas. Esperam-nos dias difíceis em 2011.
Editorial do Savana, citado no Diário de um Sociólogo
Parece um lugar comum, pois as famílias moçambicanas e os agentes económicos sentiram na pele os efeitos da crise. A crise que veio de fora e a crise que foi provocada pela inépcia da Frelimo e o seu Governo em lidar com os factores conjunturais.
Foi um terrível erro de cálculo a “falsa” crise entre o Governo e os principais parceiros de cooperação, conhecidos por G-19. Os atrasos nos desembolsos que baralharam as contas governamentais e puseram o banco central a “fazer política” em vez do ministério das Finanças. Apesar dos aplausos fariseus das instituições de Bretton Woods, ainda está para ser provada a certitude das medidas de contenção da inflação e da circulação da massa monetária que levaram as taxas de juro, uma vez mais, a disparar para tectos desesperantes.
O autismo Frelimo/Governo levou à repetição dos erros de 2008 e a população saiu mais uma vez à rua de forma anárquica e desesperada. As respostas de carácter económico e securitário, mostraram uma direcção política do país fraca, pouco competente e saudosista dos tempos da omnipresente segurança do Estado. O episódio - não encerrado ainda - do registo dos telefones pré-pagos é anedótico e sinónimo da insegurança que se apossou das hostes da elite política.
Não é líquido que o perigoso afundamento da petrolífera nacional para subsidiar os combustíveis ao público corresponda a um imperativo nacional, quando os sectores mais abastados da sociedade se beneficiam exactamente desse subsídio prodigamente oferecido pelo Governo.
Tal como cereja no topo do bolo, os elementos devastadores do Inquérito aos Orçamentos Familiares (IOF) 2008-09 mostram que a pobreza de consumo não diminuiu nos últimos sete anos, um embaraço que atinge não só o governo mas toda a comunidade internacional que apoia mais ou menos acriticamente as políticas oficiais.
A forma como em privado se reagiu à nomeação de um barão da droga moçambicano pela administração Obama, as pressões sobre a banca e a despudorada histeria da imprensa, são outro indicador do desnorte que atingiu sectores sensíveis do poder político em Moçambique.
Nem só a frente governamental deve ser motivo de preocupação dos moçambicanos: das famílias e dos agentes económicos.
A nossa democracia constrói-se com uma oposição forte e com uma sociedade civil vibrante.
2010 foi talvez o “ano horribilis” da Renamo com o seu líder auto-exilado em Nampula. O MDM (Movimento Democrático de Moçambique) começou bem, mas a sua acção está muito circunscrita ao Parlamento e os seus representantes parecem mais preocupados em obter certificados de bom comportamento do que fazer oposição a sério. As organizações da sociedade civil - salvo honrosas excepções - continuam a reboque do partido governamental, o que é pouco salutar para a democracia moçambicana. A imprensa, outro pilar fundamental e que, muitas vezes, tem de fazer papéis múltiplos, começa a dar preocupantes sinais de cansaço e fraqueza, perante a crise económico-financeira, mas também pela crise de valores que corrói (também) as redacções.
Com tal pano de fundo, torna-se difícil prognosticar um melhor 2011.
A crise económica vai continuar a roer os orçamentos familiares e a vida das empresas. O governo está pressionado a encontrar e a implantar medidas de médio e longo prazo que substituam os “pensos rápidos” adoptados em Setembro, sem contar com os esperados “milagres” dos rendimentos das indústrias extractivas, a nova miragem que faz com que as elites acreditem que melhores dias virão.
É difícil enfrentarmos uma realidade pior que 2010.
Mas não tenhamos dúvidas. Esperam-nos dias difíceis em 2011.
Editorial do Savana, citado no Diário de um Sociólogo
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