Tuesday 4 January 2011

Oposição antevê um 2011 difícil para os moçambicanos

Custo de vida

Enquanto isso, a Frelimo diz que será um ano de desafios e grandes realizações a todos os níveis, apontando para o aumento do nível de investimentos que “terão impacto na luta contra a pobreza” “O Governo adoptou a não produção como política”. “O país não produz e vive de importações. E numa altura de crise é difícil manter um custo de vida estável vivendo de importações” – Ismael Mussa, deputado à AR e Secretário-geral do MDM

Maputo (Canalmoz) – O elevado custo de vida que marcou o ano 2010 e que suscitou o descontentamento e indignação patenteado nas manifestações que paralisaram as cidades de Maputo e Matola, nos dias 01 e 02 de Setembro e parte do dia 03, é apontado pela oposição como um cenário que irá prevalecer no presente ano, alegadamente porque as estratégias do Governo estão a revelar-se “insustentáveis e irreais”.
A oposição prevê um ano de sacrifícios a que serão sujeitos os que mais necessitam.
A oposição considera, entretanto, que as medidas de austeridade que foram prolongadas pelo Conselho de Ministros para continuarem até Março deste novo ano, são mais um exercício de “puro entretenimento”, porque ultimamente o Governo está a tomar medidas que contradizem ao espírito da austeridade. Exemplificam e falam da oferta de viaturas aos membros da CNE, a manutenção das “presidências abertas” e de instituições supérfluas. Mas, curiosamente, nenhum dos partidos fala do aumento do subsídio da renda de casa (no valor de 12 mil meticais) aos deputados na Assembleia da República de que todos beneficiam. Nem mesmo de carros que em breve os deputados irão receber do Estado, ainda que pagos a preços bonificados e isentos de direitos. Disso ninguém fala. Aí há uma cumplicidade total entre a oposição e a bancada maioritária, facto que já está a suscitar grandes movimentos de protesto das bases dos partidos da oposição.
A Frelimo, traz para este ano uma visão e expectativa diferentes da oposição que está a criticar o despesismo em tempo de crise. Olha para 2011 com “muita esperança a todos os níveis” e fala de um “ano de grandes realizações”.

Faltam estratégias realistas e cultura de trabalho por parte do Governo

Para a Renamo, será “sem dúvidas um ano de sacrifícios para os que nada tem”. Segundo o deputado José Manteigas, 2011 será mais difícil para os moçambicanos que o ano passado já deram mostras do seus crescente descontentamento pelo rumo que a economia está a levar com as opções do Governo da Frelimo. Diz que o facto o preocupa, porque é um único partido que “não consegue, desde há muitos anos, melhorar a vida dos moçambicanos”.
Manteigas fala de uma situação “difícil”, “sem esperança” a que, “infelizmente os moçambicanos vão se habituando de ano em ano”.
Para Manteigas, o Governo falha no simples facto de não ter estratégias realistas de melhoramento da vida dos moçambicanos. “Estamos sempre a viver de estratégias e planos que não passam de ensaios para justificar fundos. Ora ensaiam o PARPA (Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta), depois o mesmo PARPA tem módulos: PARPA I, PARPA II e depois transforma-se em PAPA (Plano de Acção de Produção de Alimentos) e o resultado dessas estratégias é que a pobreza só aumenta. No tocante ao investimento, aquele parlamentar da Renamo, na oposição, fala de projectos que não tem impacto directo na vida das populações como é o caso de mega projectos. Assim, José Manteigas não prevê bom cenário para os moçambicanos em 2011. “Não antevejo cenário diferente, e nem alguma esperança na estratégia de combate
à pobreza urbana porque é mais um aliciamento político direccionado sem transparência, tal como o são os sete milhões nos distritos”, disse a terminar referindo-se à locação agora decidia de 7 milhões também aos municípios.

O problema é que o Governo da Frelimo ainda não escolheu a prioridade

Por seu turno, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) fala de falta de clareza nas prioridades do Governo da Frelimo. Ismael Mussa, deputado e Secretário-Geral (SG) diz que em 2011, o Governo tem a dura missão de encontrar a “fórmula mágica” para tirar o País da crise em que se encontra. Mussa advinha não ser fácil esta tarefa por se estar num País que “adoptou a não produção como política”. “O país não produz e vive de importações. E numa altura de crise é difícil manter um custo de vida estável vivendo de importações”.
Prosseguindo, aquele parlamentar do MDM diz que “temos um Ministério da Indústria e Comércio, num País onde não há indústrias. O que faz esse ministério? “É preciso encontrar mecanismos para baratear os custos de produção”. Ismael Mussa fala da necessidade da revolução na agricultura e na indústria de processamento. “Faltam estratégias de desenvolvimento. Fala-se de políticas de incentivo das pequenas e médias empresas, mas que não se reflectem no número das mesmas PME’s que são criadas. As pessoas estão a preterir Moçambique. Moçambique ainda não definiu a sua prioridade de desenvolvimento, se é a agricultura ou a indústria”.
O SG do MDM diz que o seu partido continua a defender a mudança de políticas em relação aos sete milhões, “porque defendemos que devia ser um Fundo de Desenvolvimento que financiasse o crescimento da classe média, através das PME’s, pois são elas que criam mais postos de trabalho e criam rendas”, disse a terminar.

Ano de grandes realizações e de aumento da auto-estima

A Frelimo reconhece que os efeitos da crise poderão fazer do ano 2011 um ano atípico, mas prefere, como sempre, botar uma acentuada dose de “esperança no futuro” que se avizinha. O porta-voz do partido no poder, Edson Macuácua, que é deputado e membro da Comissão Permanente da Assembleia da República, diz que será um ano de grandes realizações quer a nível socioeconómico quer político. Fala dos Jogos Africanos que “elevarão a auto-estima dos moçambicanos”. Contrariando a oposição que fala de falta de estratégias, Edson Macuácua fala de um 2011 em que o Governo dedicará “toda energia na agricultura”, destacando o amplamente famosos estribilhos do “aumento da produção e produtividade”, e a “consolidação dos passos rumo ao combate à pobreza”. Macuácua fala de uma série de investimentos, como na barragem de Mpanda Nkua, ponte Maputo-Katembe, conclusão da ponte Samora Machel, construção de quatro fábricas de cimento (Sofala, Beleluane, Matutuíne e Moamba), o aumento de investimento no sector da exploração do carvão que, aliás, lhe valeu o baptismo de “ano do carvão”, entre outras realizações. Nesta ordem de realizações, a Frelimo, segundo Macuácua, não vê dificuldades e o consequente aumento do custo de vida em proporções calculadas pela oposição. A Frelimo prefere falar de desafios que serão vencidos.

E o que o Governo diz?

Perante todas as adversidades, o Governo, recorde-se, prevê crescimento. De acordo com o Plano Económico e Social para 2011 estão definidos como principais objectivos, os seguintes: alcançar um crescimento económico de 7,2 porcento, conter a taxa de inflação média anual em cerca de 8 porcento, atingir um nível de 2.402 milhões de dólares em exportações de bens, o que representará um crescimento de 15 porcento em relação às projecções de 2010, atingir um nível de reservas internacionais líquidas que financiem cerca de 4,3 meses de importações de bens e serviços não factoriais, incluindo os grandes projectos. E é neste quadro que entramos em 2011. Só o tempo nos permitirá ver quem tem os vaticínios que mais se conjugarão com a realidade. Hoje ainda é Janeiro e em 2011 está-se apenas no segundo dia de trabalho efectivo.

(Matias Guente, Canalmoz)

2 comments:

Anonymous said...

Feliz Ano Novo 2011 para si e família!
Eu prevejo um ano muito difícil para os Moçambicanos, especialmente para os mais pobres, o que me preocupa e me entristece muito; para a elite, os novos ricos, os milionários e os lambe-botas da Frelimo, como sempre, irão enriquecer ainda mais e marimbar-se para o povo sofredor e faminto.
Maria Helena

JOSÉ said...

Obrigado, Maria Helena, retribuo os votos para si e para a sua família.

Na verdade podemos prever um ano muito difícil, apenas desejo que o Governo seja mais competente, sensível e responsável, e que a Oposiçãoo e a sociedade civil sejam mais interventivas.