Uma história antiga conta que, numa escola para meninos ricos, o professor tentou dar uma perspectiva social aos seus alunos e pediu-lhes para fazerem uma redacção com o tema: Uma Família Pobre.
Quando os alunos entregaram os trabalhos, o Luizinho tinha escrito:
Uma família pobre é aquela em que o pai é pobre, a mãe é pobre, os filhos são pobres, o mordomo é pobre, os cozinheiros são pobres, as criadas de quarto são pobres, o jardineiro é pobre, os condutores dos carros são pobres...
Ora esta redacção do Luizinho faz-me lembrar o nosso país.
Também o nosso país é pobre mas não dispensa as mordomias todas existentes nos países mais ricos. Para quem manda, é claro.
Para o bem-estar de quem nos dirige e para a ostentação do seu poder nada é demais.
Já aqui falei do caso do Estádio Nacional. Há dias alguém me disse que, na Presidência da República, foi construída uma nova Sala de Banquetes.
O leitor acha que não chegavam já as salas de banquetes que existem neste país (e na própria Presidência da República...) e ainda precisávamos de mais uma, com todos os requintes do luxo?
E, como estas, inúmeras outras obras são feitas, à nossa custa, sem qualquer necessidade nem utilidade para o bem público.
Já quando se comentam as pensões de 100 meticais por mês, para uma família inteira, vem logo a desculpa de que o país é pobre e não pode dar mais.
Pois é bom que se defina que, se o país é pobre, é pobre para todos! Não é pobre para a esmagadora maioria (ou será maioria esmagada?) e rico para a minoria que decide.
Tal como na casa daquela família pobre, da redacção, não há ministério ou serviço público que não tenha uma quantidade enorme de gente só para questões protocolares, a começar por alguém para carregar a pasta dos dirigentes. Será que os senhores ministros, directores e tudo o mais não têm força no braço para carregarem a sua própria pasta?
Felizmente parece que, ao mais alto nível, estas ideias começam a ter acolhimento. Depois de desistir de ir a Nova Iorque, o Presidente Guebuza foi, de carro, à Manhiça e com uma comitiva menor do que a habitual. E sem motas...
Era bom vermos agora este exemplo a frutificar pela hierarquia abaixo, de escalão em escalão, a ver se se começava a poupar o nosso dinheiro, tão necessário para coisas muito mais úteis.
Mas creio que essas poupanças têm que ser canalizadas, de forma institucional, para as áreas mais necessitadas. Caso contrário, se bem percebo estas coisas das finanças públicas, podem não ser gastas no item “Presidência da República” do Orçamento Geral do Estado. Mas ficam lá, nesse item. Não passam para a Agricultura ou outro sector necessitado.
E, é claro, é dinheiro que, mais dia, menos dia, acabará por ser gasto em qualquer outra despesa presidencial, sem ninguém dar por isso.
Como já defendi, creio que seria necessário a Assembleia da República fazer uma alteração ao OGE para fazer transitar essas poupanças para onde elas fazem falta.
No momento em que estou a escrever esta crónica estou a ouvir, na rádio, uma notícia segundo a qual os possuidores de celulares pré-pagos vão ter que registar os seus números, sob pena de eles serem invalidados. A razão invocada é a facilitação do combate à criminalidade, realizada com a utilização dos telefones. Para esse fim foi já publicado um diploma ministerial.
Só que crimes com o uso dos celulares já existem há muitos anos. Mas se só agora saiu o diploma ministerial, não foi por causa do crime, foi pela utilização dos telefones na mobilização da revolta popular em Maputo e Matola.
E, já que falamos de diplomas ministeriais, quando se publica um a proibir a Polícia de usar armas com bala real na repressão de manifestações? Este mês a Polícia matou a tiro pelo menos 13 pessoas (há quem diga que foram muitas mais...) nas ruas de Maputo, incluindo crianças que saiam da escola.
Será que isso não merece mais um diploma ministerial do que o registo dos números dos celulares? E, já agora, alguém acredita que milhões de celulares vão ser registados em 60 dias?
Mais uma ordem dada com voz grossa, que vai ser retirada, com voz fina, por impossibilidade de ser cumprida.
Desprestigiante, não é?
Fonte: Machado da Graça, Savana - 01.10.2010 citado no Diário de um Sociólogo
Quando os alunos entregaram os trabalhos, o Luizinho tinha escrito:
Uma família pobre é aquela em que o pai é pobre, a mãe é pobre, os filhos são pobres, o mordomo é pobre, os cozinheiros são pobres, as criadas de quarto são pobres, o jardineiro é pobre, os condutores dos carros são pobres...
Ora esta redacção do Luizinho faz-me lembrar o nosso país.
Também o nosso país é pobre mas não dispensa as mordomias todas existentes nos países mais ricos. Para quem manda, é claro.
Para o bem-estar de quem nos dirige e para a ostentação do seu poder nada é demais.
Já aqui falei do caso do Estádio Nacional. Há dias alguém me disse que, na Presidência da República, foi construída uma nova Sala de Banquetes.
O leitor acha que não chegavam já as salas de banquetes que existem neste país (e na própria Presidência da República...) e ainda precisávamos de mais uma, com todos os requintes do luxo?
E, como estas, inúmeras outras obras são feitas, à nossa custa, sem qualquer necessidade nem utilidade para o bem público.
Já quando se comentam as pensões de 100 meticais por mês, para uma família inteira, vem logo a desculpa de que o país é pobre e não pode dar mais.
Pois é bom que se defina que, se o país é pobre, é pobre para todos! Não é pobre para a esmagadora maioria (ou será maioria esmagada?) e rico para a minoria que decide.
Tal como na casa daquela família pobre, da redacção, não há ministério ou serviço público que não tenha uma quantidade enorme de gente só para questões protocolares, a começar por alguém para carregar a pasta dos dirigentes. Será que os senhores ministros, directores e tudo o mais não têm força no braço para carregarem a sua própria pasta?
Felizmente parece que, ao mais alto nível, estas ideias começam a ter acolhimento. Depois de desistir de ir a Nova Iorque, o Presidente Guebuza foi, de carro, à Manhiça e com uma comitiva menor do que a habitual. E sem motas...
Era bom vermos agora este exemplo a frutificar pela hierarquia abaixo, de escalão em escalão, a ver se se começava a poupar o nosso dinheiro, tão necessário para coisas muito mais úteis.
Mas creio que essas poupanças têm que ser canalizadas, de forma institucional, para as áreas mais necessitadas. Caso contrário, se bem percebo estas coisas das finanças públicas, podem não ser gastas no item “Presidência da República” do Orçamento Geral do Estado. Mas ficam lá, nesse item. Não passam para a Agricultura ou outro sector necessitado.
E, é claro, é dinheiro que, mais dia, menos dia, acabará por ser gasto em qualquer outra despesa presidencial, sem ninguém dar por isso.
Como já defendi, creio que seria necessário a Assembleia da República fazer uma alteração ao OGE para fazer transitar essas poupanças para onde elas fazem falta.
No momento em que estou a escrever esta crónica estou a ouvir, na rádio, uma notícia segundo a qual os possuidores de celulares pré-pagos vão ter que registar os seus números, sob pena de eles serem invalidados. A razão invocada é a facilitação do combate à criminalidade, realizada com a utilização dos telefones. Para esse fim foi já publicado um diploma ministerial.
Só que crimes com o uso dos celulares já existem há muitos anos. Mas se só agora saiu o diploma ministerial, não foi por causa do crime, foi pela utilização dos telefones na mobilização da revolta popular em Maputo e Matola.
E, já que falamos de diplomas ministeriais, quando se publica um a proibir a Polícia de usar armas com bala real na repressão de manifestações? Este mês a Polícia matou a tiro pelo menos 13 pessoas (há quem diga que foram muitas mais...) nas ruas de Maputo, incluindo crianças que saiam da escola.
Será que isso não merece mais um diploma ministerial do que o registo dos números dos celulares? E, já agora, alguém acredita que milhões de celulares vão ser registados em 60 dias?
Mais uma ordem dada com voz grossa, que vai ser retirada, com voz fina, por impossibilidade de ser cumprida.
Desprestigiante, não é?
Fonte: Machado da Graça, Savana - 01.10.2010 citado no Diário de um Sociólogo
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