Friday, 1 October 2010

Dhlakama entregou SISE e PRM nas mãos da Frelimo

Num alegado acordo secreto entre a Frelimo e Renamo
– afirmou Raul Domingos, antigo número dois da Renamo e principal negociador do Acordo Geral da Paz de Roma em representação do então movimento armado

Maputo (Canalmoz) – O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, aceitou, numa reunião havida em Gaberone, que os Serviços de Informação do Estado (SISE) e a Polícia da República de Moçambique (PRM) fossem dirigidos exclusivamente pela Frelimo. Esta informação acaba de ser revelada por Raul Domingos, ex-membro sénior da Renamo, figura que nas negociações dos Acordos de Paz lidou com o representante do governo da Frelimo, Armando Guebuza, em Roma. “Ninguém fala deste encontro quando se fala dos Acordos de Paz”, observou Raul Domingos, que foi expulso da Renamo depois das eleições de 1999.
Raul Domingos fez estas declarações bombásticas à margem de um debate sobre os Acordos de Paz, que teve lugar nesta quinta-feira em Maputo.
O ex-número dois da Renamo que presentemente preside o PDD, acrescentou que o encontro entre Dhlakama e Joaquim Chissano aconteceu no dia 18 de Setembro de 1992.
Segundo Raul Domingos, o líder da Renamo estave acompanhado nesse encontro por Vicente Ululu, e Chissano por Rafael Maguni, quando tal acordo foi firmado.
Rafael Maguni apareceu morto numa sinistrada na via dupla entre Maputo e Matola, na zona da antiga central térmica da EDM.
Tanto Maguni como Ululu são naturais de Cabo Delgado.
Segundo Raul Domingos, aquele encontro aconteceu numa altura em que membros da Frelimo e da Renamo, incluindo o próprio Raul Domingos, estavam na capital italiana, Roma, a discutir exactamente como seriam constituídas as Forças Armadas de Moçambique, o SISE e as forças policiais.
“Ainda estávamos em Roma a discutir exactamente a constituição das forças de segurança, quando de Gaberone nos chegaram ordens para parar com aquilo que estávamos a elaborar porque as lideranças haviam chegado a um consenso, no sentido de que apenas as Forças Armadas é que deviam ser constituídas por membros das duas forças, Frelimo e Renamo”, afirma.

Este foi um dos grandes erros

De acordo com Raul Domingos, o acordo aceite por Afonso Dhlakama em Gaberone terá sido um dos grandes erros cometidos. Isso porque, segundo disse, em Roma decorriam e “a bom ritmo” conversações com vista a constituir forças de segurança de que fariam parte membros tanto da Frelimo como da Renamo.
Segundo Raul Domingos, a decisão de Gaberone abriu portas para o início da partidarização das instituições do Estado e as responsáveis pela segurança do Estado.
“A mesma forma como estão constituídas as Forças Armadas de Moçambique, é o modelo que defendíamos em Roma que fosse aplicado também para as restantes forças de segurança”, disse Raul Domingos.

O encontro de Gaberone foi muito importante

Teodato Hunguana, actual PCA da mcel, que na altura era ministro da Informação, é de opinião contrária. Para ele, o encontro de Gaberone foi importante na medida em que criou bases para o Acordo Geral. Teodato Hunguana diz que o encontro de Gaberone não foi impulsionador da partidarização dos órgãos do Estado. No seu dizer, o princípio do apartidarismo nas Forças Armadas compreende-se na base de que são elas que estavam no terreno a fazer a guerra. Em relação às forças policiais, segundo explicou, o conceito foi sempre de que estas serviam para manutenção da lei e ordem, e que o Governo não podia desfazer-se da sua responsabilidade e dos seus instrumentos.
“Não se colocou a questão do apartidarismo traduzido em termos de dissolução das forças policiais para poder formar-se na base de 50 porcento para cada força”.
Segundo Hunguana, o que foi implementado nas Forças Armadas de Moçambique não foi aceite para o caso das forças policiais e dos Serviços de Informação do Estado (SISE).

(Matias Guente, CANALMOZ)

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