Diferendo sobre acesso ao mar é ultimo de relações da história recente
O embaixador do Malawi no Maputo Martin Kanischi a acusou Moçambique de não cumprir as suas obrigações. Isto depois de Moçambique ter acusado o Malawi de conduta reprovável depois de Moçambique ter apreendido dois barcos que estavam num rio em território moçambicano .
É uma disputa que envolve as tentativas do Malawi de chegar ao mar pela via fluvial através dos rios Chire e Zambeze.
É mais um capítulo da história periclitante das relações entre os dois países que têm sido ao longo dos ano marcadas pela ambiguidade, tensões e mesmo ameaças.
António Gaspar do Instituto de relações internacionais de Moçambique disse que essas ambiguidades começaram no tempo da guerra de independência de Moçambique quando o Malawi mantinha boas relações com o regime colonial português. O então presidente do Malawi, Hasting Banda chegou mesmo a visitar Moçambique antes da independência.
Joao Cabrita é um investigador da historia moçambicana e confirmou á Voz da América que apesar das relações com Portugal, o Malawi permitia certas actividades da Frelimo seu território. Por exemplo Moçambicanos que fugiram para o Malawi eram encaminhados pela representação da Frelimo no território para as bases principais do movimento nacionalista na Tanzânia
Após a retirada portuguesa a atitude malawiana mudou abandonando a ambiguidade e procurando caír nas boas graças da Frelimo que então se prestava a tomar o poder em Moçambique. Várias figuras políticas moçambicanas foram presas no Malawi entre as quais Urias Simango.
No entanto Joao Cabrita disse á Voz da America que apos a independência se da um resfriamento. A Frelimo, seguindo então a sua linha ideológica de solidariedade socialista passa a dar apoio a opositores do governo do Malawi, como é o caso da liga socialista do Malawi, LESOMA, cujo dirigente Atati Mpakati que em Fevereiro de 1979 sofreu um atentado á sua vida no Maputo e é nessa altura que o Malawi responde dando apoio a um movimento de hoje já ninguém se recorda o Partido Revolucionário de Moçambique, PRM, de Amos Sumane que se havia refugiado no Malawi ainda durante a guerra de libertação em Moçambique
É contudo mais tarde quando surge a Renamo a contar inicialmente com o apoio da então Rodésia e depois da África do Sul que surgem os grandes problemas entre o Malawi e Moçambique. Moçambique acusa o Malawi de apoiar a Renamo e as relações vão deteriorando ao ponto de haver uma ameaça de Samora machel de “colocar mísseis” na fronteira com o Malawi.
João Cabrita não concorda com a posição de que teria sido a partir do Malawi que a Renamo infiltrou os seus guerrilheiros na Zambézia, Tete e Niassa estendendo a guerra todo o Moçambique. A progressão da guerrilha da Renamo, diz Joao Cabrita é feita a partir do centro para o norte não utilizando o Malawi para bases militares e treino. A expansão da Renamo para o norte da-se graças á junção da Renamo com o PRM. Mas isso não significa que o Malawi não tenha tido um papel nas operações da Renamo. João Cabrita diz que apoio logístico da África do Sul para a Renamo é feito via Malawi e que os sul africanos monitorizam as comunicações militares de Moçambique através de uma estação de escuta no Malawi. Essas escutas ajudam a Renamo
Publicamente Samora Machel ameaça o Malawi com mísseis como nos referiu António Gaspar mas Joao Cabrita recordou que Moçambique e o Zimbabwe tinham já acordado num plano para derrubar o presidente do Malawi quando se dá o acidente de Mbuzini que vitimou Samora machel.
Aliás Machel regressava de uma cimeira em Lusaka onde a questão do Malawi tinha sido discutida.
Toda a região portanto nessa altura é um barril de pólvora
João Cabrita afirma que sob a presidência de Joaquim Chissano houve uma melhoria de relações entre os dois países e passa mesmo a haver cooperação militar entre o Malawi e Moçambique. São tropas malawianas que passam a fazer a escolta no corredor de Nacala e é depois assinado um acordo de cooperação entre os dois países e as relações estabilizam até ao fim da geurra em 1992.
A morte do regime do presidente Banda no Malawi ajuda também a melhorar as relações. As relações entre Moçambique e o Malawi estabilizam com o presidente Bakili Muluzi mas agora voltam a deteriorar-se.
O professor António Gaspar é de opinião que o actual diferendo tem também como motivação crescente conflitos internos no governo do Malawi.
Ouça a nossa reportagem com as declarações de António Gaspar e João Cabrita, aqui.
Joao Santa Rita, Voz da América
No comments:
Post a Comment