Wednesday, 27 January 2010

Quando é que vamos respeitar quem partilha o nosso esforço?

Não me é possível, por razões que adiante explicarei, continuar a assistir ao que se passa no país que me viu nascer, e pelo qual meu pai pereceu em prol da suposta melhoria face ao estado das coisas até 1974.
Sou quadro de uma multinacional e já tive a oportunidade de pousar nos quatro cantos do mundo. Já experimentei ser preta, de raça negra africana, tal como sou, em solo asiático, europeu e americano..
Percebi rapidamente que éramos diferentes na igualdade! O respeito de um ocidental para com uma negra, preta, africana e nem sequer muito bonita é mais do que institucional - é sagrado!, tal como o é se for um árabe, um chinês, um caucasiano!
Percebi então porque países como a Finlândia passarem do jugo soviético para o topo do mundo civilizado: com respeito pelos outros, com formação escolar, com um não-racismo supremo!
Também já experimentei ser eu mesma no meu país, entrando de malas e bagagens para umas férias em família, com sonhos e saudades para cumprir em pouco tempo, e encontrar um bando armado como cartão de visita, desventrando tudo o que eram meus haveres apenas com o intuito de me sacar algum dinheiro, numa deplorável figura de faroeste!
Já experimentei permanecer em mais do que um país ocidental para além do prazo permitido pelo visto e pagar apenas o preço do papel gasto para o revalidar sem qualquer penalidade. Sei do roubo que os estrangeiros sofrem no meu país e do calvário que percorrem para um banal processo se revalidação, como se da permanência no céu se tratasse.
Sei de gente que viveu 50 anos em Moçambique e deu o seu melhor nas profundezas da Zambézia, e a quem foi negado o direito de permanecer no país para além da reforma, como se essa gente tivesse passado meio século da vida ao mero acaso no meu país!
Tenho agora conhecimento de um cidadão, estrangeiro, mas o mais importante, branco, a viver e trabalhar no meu país há duas décadas,..e mais uma vez na capital da Zambézia, que recebeu misteriosamente uma adolescente em sua casa, enviada não se sabe por alma de quem. Conhecendo as possíveis consequências, pagou-lhe a viagem para o destino que ela pretendeu, mas pelos vistos perdeu-se pelo caminho..
Encontra-se agora com os bastardos dos seus progenitores à sua porta a reclamar uma "indemnização" de 200.000.00 meticais. Não procuraram saber da sua filha; não procuraram a empresa MECULA do Sr Chipande, que a transportou; não foram à policia, apenas se colaram às costas do branco com o objectivo de roubar, de extorquir, por ser branco, não podemos sequer duvidar.
Quem não viu a agonia do mega projecto "Indian Ocean"? O roubo doméstico simplesmente comeu um projecto maior que a "Aquapesca" na Zambézia! Impotentes, os proprietários "atiraram a toalha ao chão" e partiram!
Quem não se lembra daquele grupo de farmácias "Gestfarma", à data, o maior aglomerado de Farmácias e Ópticas em todo o território? Entregaram a gestão corrente a gente loca; fizeram gerentes, fizeram quadros.
Não faliram porque venderam a saldo, antes que tal aconteceram,..e partiram sem honra nem glória!
Quem não conhece as famosas queixas de violação contra estrangeiros levadas a cabo por gente da prostituição? Quantos foram os quadros da Visabeira; do Entreposto, da CMC, presos e chulados, com a conivência daquilo a que por aí se chama "autoridade"?
Por força da minha profissão, dou por mim a escrever do nosso país irmão Cabo Verde. Foi talvez isso e a nova história do branco em vias de ser roubado de forma impotente, que me fez escrever,..ou melhor, gritar!
Cabo Verde é seco, íngreme, teoricamente pobre, se solo pouco produtivo.
Foi este arquipélago o território mais desprezado pelo colonizador. Construiu-se muito pouco, não era economicamente atractivo mas estrategicamente útil.
Cabo Verde não chora o passado, não hostiliza o colono, mantém os laços, está acolhido no seio da União Europeia por força desse despreconceito.
Cabo Verde tem escolas, tem vida, tem dinheiro, tem políticos honestos de nível ocidental, não tem corrupção, as instituições funcionam com a mesma qualidade das homologas Europeias.
Cabo Verde não é "UM EXEMPLO"! Cabo Verde é "O EXEMPLO" que nos assenta como uma luva!!
Não houve guerras de independência; não houve "genocídios de desestabilização". Cabo Verde é turismo, é musica, é paz social e harmonia política!!
Moçambique, o meu país, é racismo, é chulice a todos os níveis, é maltratos a quem nos visita, é racismo contra quem connosco quer partilhar a vida, o esforço e o trabalho de reconstrução do que jamais deveria ter sido destruído.
O mínimo seria tratarmos os outros, leia-se, os estrangeiros, leia-se, os de outra raça e cultura, do mesmo modo como nos tratam a nós!! Só a Europa alberga 25 milhões de africanos negros, dos quais 2 milhões são ilegais, ou sem papeis como lhe chamam os franceses. Estão lá, têm casa social, não são presos nem perseguidos.
O mínimo que nos resta é tratarmos os que se nos juntaram com IGUALDADE DE TRATAMENTO E RESPEITO, sem a arrogância que nos caracteriza, a prepotência da ignorância que nos atira para onde nos encontramos!
Tenhamos a humildade de copiar o que os outros fazem bem, e a decência de sermos gratos com quem não nos faz mal nenhum!


( M.Matias, e-mail citado no Moçambique para todos)

1 comment:

Anonymous said...

Para mim, o que aqui vem relatado, não é nenhuma novidade.
Já vivi em diferentes continentes,infelizmente, sempre me deparei com os mesmos problemas e situações.
Sempre advoguei que, 'não devemos exigir dos outros, sejam eles quem forem, o que não estamos dispostos a oferecer-lhes em nossa casa', ou seja, a reciprocidade e respeito, sem qualquer tipo de oportunismo, não seria pedir muito, especialmente para quem nos tem dado a mão, respeitado e apoiado.
Tenho orgulho de ter nascido em Moçambique, mas não posso pactuar e ter orgulho de práticas menos correctas, que considero um verdadeiro oportunismo e abuso de autoridade/poder.
Maria Helena