Friday 29 January 2010

Maputo a Nadar




O JPT anda tão ocupado entre livros e blogues e a docência e a dolce vita da Sommerschield, que não deve ter reparado que depois de uma valente carga de água, a baixa de Maputo, um pouco como acontece com Veneza nas marés vivas, inundou mais uma vez ontem. Mas as minhas fontes secretas de informação discretamente tiraram as fotos que se seguem, captadas ontem na baixa da capital moçambicana e enviadas para o centro de operações ribatejano do Maschamba.

O que é curioso é que a cidade de Maputo, um invulgar aglomerado urbano especialmente se se tiver em conta que as cidades criadas pelos portugueses são invariavelmente um intragável e quase medieval emaranhado de casas e ruas, e que tem um traçado considerado moderno e bem conseguido, tem apenas um, incontornável, indesculpável, inexplicável calcanhar de Aquiles: a baixa.

Porquê?

As razões do problema são fáceis de explicar. Como o erro ocorreu é mais difícil explicar, pois acho que dava para perceber o que iria acontecer.

Antes de Maputo ser o que era, a Lourenço Marques original era uma língua de praia que quando a maré subia ficava uma espécie de ilha onde hoje de situam os terrenos entre a Praça 25 de Junho e a estação dos caminhos de ferro.

Eventualmente, essa “ilha” foi ligada aos terrenos confinantes, aterrando a depressão que a separava dos então chamados Altos do Maé (que nem suspeito quem tivesse sido) e logo por cima foi construída a actual Avenida 25 de Setembro.

Só que alguém se enganou e deixou ali ficar uma depressão em relação aos terrenos (sobre os quais já se tinha construído) onde hoje ficam as ruas do Bagamoyo e Consiglieri Pedroso.

O resultado? Quando chove muito, a zona entre o Hotel Tivoli e o Mercado Central inundam, sem apelo nem agravo. É por essa razão que a actual sede do Millennium-BIM, começada a construir ainda antes de 1974 para ser a sede do então BCCI, e que tem quatro andares por baixo do piso térreo, tem uma estranha configuração no seu piso térreo. Literalmente, são barreiras dissimuladas para impedir que, numa cheia, as águas entrem para dentro do edifício. Mas já aconteceu.

Já houve vários esforços feitos para tentar resolver o problema, o mais recente dos quais durante a memorável vereação do Dr. Eneias Comiche, mas em última instância a área de recolha das águas que para ali fluem – praticamente metade da cidade de Maputo cimento – é demasiado grande para que a baixa aguente um tal embate.

Portanto, para quem está na baixa, a solução para já e estar atento aos boletins meteorológicos e mexer-se depressa na eventualidade de uma chuva torrencial.

E ter um barco a remos.


(ABM, no ma-schamba)

3 comments:

Shirangano said...

A chuva da passada quarta-feira veio pôr a nu os problemas estruturais da capital do país. Não queiras imaginar o caos que seria se chovesse intensamente por mais um dia! Mas há quem diga que este problema pode ser resolvido, desde que algumas pessoas deixem de lado as suas vaidadizinhas pessoais e corram atrás do arquitecto que projectou a cidade. Pois, segundo certas fontes, ele está vivo e poderá dar solução desse problema e se calhar dar uma aula aos nacionais. E assim evitamos essa pouca-vergonha nacional. Mas…enfim…continuamos a entregar as obras aos estagiários que só sabem tapar com betão armado as sarjetas, ralos, os pontos de escoamento de água e abrir valas de drenagem em locais desnecessários.
Um abraço!

Anonymous said...

Tristeza Samaritana...
Tem sido sempre assim, isto é um problema que existe na baixa da capital há muitos e muitos anos, que ninguémn parece empenhado e decidido em resolver.
Razão para perguntar: até quando?
Maria Helena

JOSÉ said...

É evidente que há grandes problemas na drenagem das águas mas é tempo de corrigir estas anomalias.