Sunday, 31 January 2010

Maputo: dois recantos que eu amo


Jardim dos Namorados, vendo-se ao fundo um dos meus Cafés preferidos, o Surf 2.



A Pérola, excelente Café-Pastelaria com ambiente tranquilo, perto da ex-Facim.

Linhas de desânimo



"...Quis lutar por Moçambique como Chivambo Mondlane
Ser homem de uma causa como Uria Simango
Inspirar a resistência como André Matsangaiça
E cravar uma azagaia no coração da injustiça

Mas o que me desanima não é o grito dos maus,
é o silêncio dos bons quando se aproxima o caos
Eu caguei-me para as pedras, caguei-me para os paus
Aprendi a confiar apenas nas minhas mãos..."


(escrevi quando a CNE assassinou a democracia e nem sequer fomos ao velório)



(Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia. Conheça o seu blog aqui.)

Saturday, 30 January 2010

Aritmética estranha ou vitória retumbante?

“ Nestes sete anos conseguimos vitórias gigantescas. Baixámos em 20% o analfabetismo, mas ele ainda ultrapassa os 70 % ”.



Sérgio Vieira, in www.frelimo.org.mz, citado recentemente no Canal de Moçambique.


Família moderna




Hilariante, embora não seja em Português dá para perceber a situação.

Friday, 29 January 2010

Maputo a Nadar




O JPT anda tão ocupado entre livros e blogues e a docência e a dolce vita da Sommerschield, que não deve ter reparado que depois de uma valente carga de água, a baixa de Maputo, um pouco como acontece com Veneza nas marés vivas, inundou mais uma vez ontem. Mas as minhas fontes secretas de informação discretamente tiraram as fotos que se seguem, captadas ontem na baixa da capital moçambicana e enviadas para o centro de operações ribatejano do Maschamba.

O que é curioso é que a cidade de Maputo, um invulgar aglomerado urbano especialmente se se tiver em conta que as cidades criadas pelos portugueses são invariavelmente um intragável e quase medieval emaranhado de casas e ruas, e que tem um traçado considerado moderno e bem conseguido, tem apenas um, incontornável, indesculpável, inexplicável calcanhar de Aquiles: a baixa.

Porquê?

As razões do problema são fáceis de explicar. Como o erro ocorreu é mais difícil explicar, pois acho que dava para perceber o que iria acontecer.

Antes de Maputo ser o que era, a Lourenço Marques original era uma língua de praia que quando a maré subia ficava uma espécie de ilha onde hoje de situam os terrenos entre a Praça 25 de Junho e a estação dos caminhos de ferro.

Eventualmente, essa “ilha” foi ligada aos terrenos confinantes, aterrando a depressão que a separava dos então chamados Altos do Maé (que nem suspeito quem tivesse sido) e logo por cima foi construída a actual Avenida 25 de Setembro.

Só que alguém se enganou e deixou ali ficar uma depressão em relação aos terrenos (sobre os quais já se tinha construído) onde hoje ficam as ruas do Bagamoyo e Consiglieri Pedroso.

O resultado? Quando chove muito, a zona entre o Hotel Tivoli e o Mercado Central inundam, sem apelo nem agravo. É por essa razão que a actual sede do Millennium-BIM, começada a construir ainda antes de 1974 para ser a sede do então BCCI, e que tem quatro andares por baixo do piso térreo, tem uma estranha configuração no seu piso térreo. Literalmente, são barreiras dissimuladas para impedir que, numa cheia, as águas entrem para dentro do edifício. Mas já aconteceu.

Já houve vários esforços feitos para tentar resolver o problema, o mais recente dos quais durante a memorável vereação do Dr. Eneias Comiche, mas em última instância a área de recolha das águas que para ali fluem – praticamente metade da cidade de Maputo cimento – é demasiado grande para que a baixa aguente um tal embate.

Portanto, para quem está na baixa, a solução para já e estar atento aos boletins meteorológicos e mexer-se depressa na eventualidade de uma chuva torrencial.

E ter um barco a remos.


(ABM, no ma-schamba)

SERA GUEBUZA UM XADREZISTA NATO? Ou seja o Dilema Existencial de Dhlakama!

E com inusitado interesse que observo as movimentacoes politicas e diplomaticas de Armando Emilio Guebuza! Me parece que registou-se uma mudanca na sua forma de actuar. E como sempre das duas uma: ou se trata de gestos genuinos resultados de um crescimento genuino na parte do Chefe do Estado e sua equipa de estrategas ou entao estamos perante um xadrezista nato.
Explico-me: Nos ultimos tempos Guebuza e sua equipa tem sabido jogar com mestria as suas cartadas, dando autenticos kos tecnicos a oposicao quando lhe interessa. E esta, na sua miopia tem caido nas armadilhas de Guebuza que nem patos!

Senao vejamos:

Durante o processo eleitoral, quando Guebuza se apercebeu do perigo que o MDM e Davis Simango representavam, urdiu uma estrategia visando limitar o MDM e Davis. E para alcancar esse objectivo pediu ajuda a Dhlakama e a Renamo. Solicitadamente Dhlakama aceitou a encomenda envenenada pensando que tinha um aliado!
Alcancado o objectivo de amputar Davis e o MDM, Guebuza avanca para a segunda tacada ao ordenar ao Conselho Constitucional para considerar improcedente a iniciativa da Renamo de mandar cessar os seus ex-deputados na AR, que por deliberacao da Comissao Permanente havia decidido que os seus ex-deputados que se filiaram no MDM haviam perdido o mandato. Contentando assim o MDM.
Quando a Renamo decidiu nao tomar posse, estava claro que os deputados do MDM tomariam. Caso passassem os 30 dias sem que estes deputados tomasem possem tomariam os seus suplentes e caso os suplentes nao tomassem, o MDM passaria a oposicao oficial!
Dhlakama se esqueceu que o factor MDM obriga a 'certas flexibilidades' e seu cmportamento ja nao pode guiar-se ou ter como referencias um pasado recente onde o sistema era bipolar!
E foi o que se viu! A rebeliao interna, liderada pelo Circulo Eleitoral da Zambezia e a consequente tomada de posse dos restantes deputados pois tendo perdido Sofala para Davis e o MDM, e com Nampula solidamente com Guebuza e com a Frelimo, Dhlakama nao poderia sobeviver sem a Zambezia, sua ultima tabua de salvacao!!
Nao foi por acaso que Dhlakama teve que engolir em seco a 'rebeliao zambeziana', e aceitar as 'imposicoes deste circulo eleitoral': Vice-Presidencia da AR, a Comissao das Relacoes Internacionais, e os relatores de todas as comissoes! Se Dhlakama seguisse o mesmo criterio que usou quando Davis se rebelou, teriamos uma bancada da Renamo independente do seu lider, do mesmo geito que vimos que a expulsao de Davis levou a criacao do MDM. Nao nos esquecamos que o regimento da AR reza que mais de 11 deputados podem formar bancada!
Encurralado e humilhado, e perante a posibilidade e ter uma bancada independente, Dhlakama nao podia expulsar os deputados rebeldes! A unica saida que tinha para manter algum poder era mandar os outros deputados tomar posse (caso contrario estes tomariam a sua revelia) pois aproximava-se a sessao que elegeria os membros das comissoes, suas chefias e os vice-presidentes da AR. Se os leais deputados de Dhlakama nao tomassem posse, a lideranca da bancada ficaria com os 'rebeldes'! E a solucao foi uma negociacao e enxertia dos leais deputados em orgaos de decisao: Gania Mussagy, eleita pelo Circulo Eleitoral de Inhambane, na Comissao Permanente, Angelina Enoque, eleita pelo Circulo Eleitoral de Manica na chefia da bancada e Macuaiana, tambem eleito pelo circulo eleitoral de Manica, como relator da bancada!
A rebelde de Nampula, ficou com a chefia da Comissao de Defesa! Com quem ficou o poder efectivo na bancada da Renamo na AR? Com os rebeldes ou com os leais? Os proximos tempos nos dirao.
Acto continuo, Guebuza joga a terceira tacada: sabendo que Dhlakama nao viria, decide convidar os dois candidatos mais votados a Ponta Vermelha. Como ra de esperar Dhlakama nao vai e Davis se apresenta! Com esta jogada de mestre, Guebuza atira para o tapete Dhlakama, pois circulava em varias chancelarias Ocidentais a acusacao de que Guebuza nao era democrata pois no mandato anterior nao mantivera encontros de cortesia com o lider da oposicao! Uma acusacao que pesava nas contas das chancelarias tanto em Maputo como nas capitais ocidentais por onde tenho passado!
que o seu objectivo e recuperar a Beira e para provar isso a Frelimo nao cede, por enquanto (?) a exigencia mais do que justa do MDM de exigir uma bancada parlamentar, plataforma segura para lancar novos reptos! Que preco exigira a Frelimo para dar em troca a bancada que o MDM desesperadamente necessita para sobreviver?
Entretanto, o Secretario Geral da Frelimo, Filipe Paunde nao perde a oportunidade para mostrar que os apetites da sua formacao politica nao estao saciados e anuncia que o objectivo essencial e instalar a Frelimo no Mnicipio da Beira, onde governa Davis Simango!

O Dilema de Dhlakama

Se fosse ao jantar, antes de organizar as ditas manifestacoes cairia no ridiculo, pois estaria a mostrar ao seu eleitorado que e um faminto! Se nao fosse, estaria a dar a Guebuza o pretexto que ha muito procurava: Que a culpa da nao convivencia nao era sua mas sim do propro Dhlakama! 'Que ate para provar convidei-o e nao apareceu!' Querendo, Davis apareceu!

O Golaco de Davis

Ao aceitar o jantar e Guebuza, Davis Simango e o MDM marcaram um golaco, ao serem de facto a oposicao oficial. ou seja ao aceitar jantar na Ponta vermelha, Davis passou a ser o 'Lider da Oposicao Oficial', a sua esposa a 'Segunda Dama Oficial, o MDM a 'Segundo Partido Oficial' e Dhlakama, Dona Rosalia e a Renamo passaram a ser a oposicao de facto!
Com este ensaio, Guebuza pode, querendo convidar Davis a jantares, encontros com diplomatas, individualidades estrangeiras e quica ate convida-lo a fazer parte de banquetes e Visitas de Estado ao exterior, deixando Dhlakama em terra, frgilizando-o interna e externamente!
Ao nao falar a comunicacao social depois do jantar, Guebuza das duas uma ou marcou um auto-golo, ou entao ofereceu um golacao a Davis. Se ofereceu tagolaco qual e o preco? Como se viu, a comunicacao social fez as suas manchetes com Davis, que passou a ser o pota-voz oficial do jantar. A unica voz autorizada a falar ao povo mocambicano sobre o conteudo do jantar! O maior presente para Davis e o MDM seria que Guebuza mandasse autorizar a mudanca do regimento e deixasse que o MDM formasse bancada! Podera Guebuza arriscar a tanto? Tera Davis conseguido convencer Guebuza a engolir a isca? Os proximos tempos dirao!
Qual sera a proxima tacada de Guebuza? E quando e que os dois lideres da oposicao acordarao para perceber que a sobrevivencia de cada um deles e da oposicao no geral depende deles e nao de Guebuza? Quando e que Davis e Dhlakama vao perceber que estao a ser usados um contra o outro para beneficio de outrem? E para a destruicao da democracia em Mocambique?

Um abraco,

MA

(Manuel de Araújo)

Hoje em Maputo: encontro de ciclistas







Encontramo-nos sexta-feira, 29 de Janeiro, às 18h30 na Praça da Independência, ao pé da catedral. Pega na bicicleta e junta-te a nos para o primeiro de muitos passeios na cidade.


No dia 29 de Janeiro a partir das 18h:30m, a Praça da Independência será o ponto de partida de um passeio de bicicleta pela cidade de Maputo.

O movimento Critical Mass é uma espécie de chamada de atenção pacífica e silenciosa, onde um grupo de pessoas junta-se e com as suas bicicletas faz um passeio numa determinada cidade. Segundo Andreia Portugal, uma das participantes na “pedalada” do próximo dia 29, este movimento e feito espontaneamente por quem estiver interessado e tem como objectivo a promoção dos veículos alternativos, transportes não poluentes, como forma de criar nos munícipes e na sociedade em geral um consciência de protecção do meio ambiente assim como é uma oportunidade para que as pessoas possam apreciar a cidade num passeio mais divertido e livre.

Em Maputo o movimento é trazido por amantes desta iniciativa que o viram realizar na Itália, Portugal e outros países da Europa. A “ pedalada” ira consistir num passeio pela cidade, com partida na Praça da Independência, tendo seguida por uma via onde os participantes acharem melhor. De esclarecer que este passeio não cumpre nenhum guião e os participantes são livres sugerir uma via a seguir. Ao aderir a este movimento Moçambique torna-se no terceiro país Lusófono, depois de Portugal e Brasil, segundo país africano e terceira cidade africana, seguindo Cape Town e Joanesburgo.

80.000 Participantes é o recorde atingido ate o momento pelo movimento e pertence a cidade de Budapeste, tendo sido realizado ate ao momento em mais de 300 cidades. São convidados todos citadinos da cidade de Maputo a participarem do evento bastando para tal que se façam presentes a praça da independência com as suas bicicletas no dia 29 do mês corrente. O ambiente agradece.


Confira aqui.

Thursday, 28 January 2010

Rugby no fim do apartheid (COM TRAILER)






‘Uma equipa, uma nação’ foi a campanha promovida por Nelson Mandela nos anos 90 para acabar com o fosso racial que dividia a África do Sul, aproveitando a participação da selecção na Taça do Mundo de Rugby, agora recordada num filme de Clint Eastwood.
‘Invictus’ é um plano. E um sonho. De como construir um país em que reine a harmonia entre brancos e negros que ainda há pouco se debatiam ferozmente sem respeito nem dignidade humanas.
Nelson Mandela acreditou que a África do Sul podia ser um país harmonioso, onde as raças coabitassem pacificamente. O sonho demorou a cumprir-se mas uma bola, pouco redonda, ajudou a diluir as divergências entre as cores.
O rugby e a Taça do Mundo de 1995 que levou a fraca e desconcentrada equipa à vitória improvável, elevou também o espírito de união de um país fracturado, selando as feridas (ou dando o primeiro passo nesse sentido, pelo menos) de um passado amargo muito recente.
Morgan Freeman é Mandela, o primeiro presidente negro de uma África do Sul racista e apartada. Matt Damon é Piennar, capitão de uma equipa de rugby desmoralizada mas que mantém a arrogância dos opressores.
De um lado, os miúdos negros, franzinos, a jogar futebol num campo pelado, rodeado de vedações de arame; do outro, os jovens brancos, corpulentos, de verde e ouro vestidos (o equipamento da selecção), num campo verde entre belas cercas de madeira. Assim se faz o primeiro plano de ‘Invictus’; assim se faz jus à expressão de que “uma imagem vale mais do que mil palavras.”
Mas Clint Eastwood não poupa nas palavras, sempre certeiras, de Mandela, um presidente sonhador e crente num futuro melhor, que venceu e convenceu pela força do diálogo, pela inspiração das palavras, pela motivação da poesia.
Freeman e Damon, numa ligação improvável que sela a total fé nos homens são os senhores do filme, trama de um senhor realizador-actor que, aos 79 anos, mostra um coração mais brando e que foi sendo domado pela força dos afectos e emoções num trajecto recheado de história – e estórias.


Confira aqui.

Wednesday, 27 January 2010

Dilúvio em Maputo


ENCHENTE EM MAPUTO! PALAVRAS, PARA QUE SE UMA FOTO VALE MIL PALAVRAS?

(www.manueldearaujo.blogspot.com)

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Estado em que ficou a baixa (e nomeadamente a Avenida 25 de Setembro) da cidade de Maputo hoje após chuva torrencial. Fotos enviadas por SM (que disse tê-las recebido de pessoa amiga), a quem agradeço.
Adenda às 19:02: segundo a Rádio Moçambique, as consequências da chuva foram graves na zona suburbana.

(www.oficinadesociologia.blogspot.com)

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Chuva volta a complicar a vida no Grande
Maputo

A CHUVA voltou ontem a fazer das suas no Grande Maputo, levando aos bairros residenciais e até à baixa da capital o mesmo cenário de caos e angústia que se repete cada vez que ela cai com alguma intensidade. Outra vez, por causa da chuva, numerosas famílias foram desalojadas, muitas empresas e instituições fecharam as portas ou funcionaram a “meio-gás” devido à ausência dos trabalhadores, muitos dos quais foram impedidos de entrar para o centro da cidade devido ao caudal de águas que isolava praticamente toda a zona baixa da urbe. Tanto Maputo, como Matola, voltaram a revelar toda uma fragilidade dos mecanismos de escoamento das águas pluviais, mesmo naqueles construídos há relativamente pouco tempo.
Os maiores focos de inundação registaram-se nos bairros da Mafalala, Chamanculo, Urbanização, Maxaquene, Polana-Caniço, 25 de Junho, Bagamoyo, Inhagóia, Ferroviário das Mahotas e Hulene, na cidade Maputo, e Liberdade, T3, Zona Verde, Ndlavela e Matola – Santos, no município da Matola. Nestes bairros muitos cidadãos foram surpreendidos pelas águas da chuva, que começou a descarregar com intensidade a meio da madrugada, reduzindo as chances de conseguirem tomar medidas para evitar que os danos se avolumassem.
É assim que nalguns bairros o dia começou em cheio, com homens, mulheres e crianças envolvidos em operações tanto de escoamento das águas no interior dos quintais e das próprias residências, como a construir pequenas barreiras para impedir que mais águas se introduzisse nos seus domínios.
Mau grado, grande parte deste esforço acabou não resultando, uma vez que as águas iam invadindo quintais e mais quintais no seu longo percurso em direcção ao mar.
Aliás, foi já na ponta final deste percurso, sobretudo na cidade de Maputo, que as águas encontraram dificuldades de escoamento no recém-reabilitado sistema de escoamento, acabando por alagar, literalmente, toda a extensão da Avenida 25 de Setembro, dividindo a zona baixa em pequenas ilhas que permaneceram inacessíveis por várias horas. A pouco e pouco o sistema foi escoando as águas até que a via ficou desobstruída, deixando o chão coberto de lodo e muito lixo arrastado de vários pontos da cidade.
Para os residentes dos bairros do município da Matola cujas obrigações profissionais os levam a escalar a vizinha cidade de Maputo a vida também se complicou. Com efeito, a ligação rodoviária entre as duas urbes esteve impraticável durante toda a manhã, levando à paralisação da circulação dos “chapa” e até de viaturas particulares, muitas das quais levaram horas a fio disputando a estrada em direcção à capital, numa marcha lenta e enfadonha.
Uma das poucas soluções para este problema foi o recurso aos autocarros da empresa dos Transportes Públicos de Maputo (TPM), que também não foram capazes de responder à demanda nas várias rotas das cidades de Maputo e Matola.
Entretanto, o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) prevê continuação de mau tempo nas cidades de Maputo e Matola. Segundo o INAM, a Estação Pluviométrica de Mavalane registou 115 milímetro de precipitação, 80 foi na cidade de Maputo e 30 em Changalane.


Quando a chuva é maldita

OS bairros residenciais da cidade de Maputo, com particular saliência para Ferroviário, Mafalala, Munhuana, Urbanização, Maxaquene A, B e C, Polana-Caniço A e B, fazem parte dos que enfrentaram na manhã de ontem penosos problemas de inundações, difícil acesso e intransitabilidade em consequência das enxurradas que resultaram das intensas chuvas que caíram nas cidades de Maputo e Matola.
As chuvas, que segundo as autoridades meteorológicas fizeram-se sentir com maior intensidade nas estações pluviométricas de Mavalane e da cidade, com 110 e 80 milímetros de precipitação respectivamente, não só impediram a evacuação do tráfego, como destruíram infra-estruturas de grande utilidade social, como casas, muros de vedação, entre outras.
No bairro da Urbanização, por exemplo, exactamente em frente à segunda faixa da Avenida Joaquim Chissano, uma mulher ficou ferida quando um muro de vedação caiu sobre si ao ceder à forte corrente de água que corria pelo local onde foi erguida a infra-estrutura.
Os residentes destas zonas foram forçados a desviar-se das suas habituais actividades para travarem as enxurradas, improvisando barreiras e desfazendo-se das poças que teimavam em invadir as suas residências.
As fortes descargas pluviométricas, que se iniciaram cerca das três horas de madrugada, abrandando a meio da manhã, transformaram as ruas destas zonas em pequenas lagoas, onde pessoas e viaturas estavam quase impedidas de passar.
Não só nestas zonas o trânsito esteve paralisado, mas a principal drenagem da cidade de Maputo, que parte do bairro da Malhangalene até ao vale do Infulene, que também é alimentada com “afluentes” vindos dos bairros do Aeroporto, Mavalane, Urbanização e Mafalala, ficou pequena para escoar as águas pluviais, tendo as enxurradas galgado as margens, dificultando a circulação geral.
Uma vez mais, as fortes chuvas vieram por à prova as obras de reabilitação de raiz feitas na Praça dos Combatentes, também conhecida por “Xikhelene”. Esta infra-estrutura e a Avenida das FPLM, igualmente reabilitada recentemente, continuavam a revelar fragilidades, estando as águas da chuva a correr para o sentido onde eram direccionadas pelas viaturas em trânsito.


(Notícias, 28/01/10)

Quando é que vamos respeitar quem partilha o nosso esforço?

Não me é possível, por razões que adiante explicarei, continuar a assistir ao que se passa no país que me viu nascer, e pelo qual meu pai pereceu em prol da suposta melhoria face ao estado das coisas até 1974.
Sou quadro de uma multinacional e já tive a oportunidade de pousar nos quatro cantos do mundo. Já experimentei ser preta, de raça negra africana, tal como sou, em solo asiático, europeu e americano..
Percebi rapidamente que éramos diferentes na igualdade! O respeito de um ocidental para com uma negra, preta, africana e nem sequer muito bonita é mais do que institucional - é sagrado!, tal como o é se for um árabe, um chinês, um caucasiano!
Percebi então porque países como a Finlândia passarem do jugo soviético para o topo do mundo civilizado: com respeito pelos outros, com formação escolar, com um não-racismo supremo!
Também já experimentei ser eu mesma no meu país, entrando de malas e bagagens para umas férias em família, com sonhos e saudades para cumprir em pouco tempo, e encontrar um bando armado como cartão de visita, desventrando tudo o que eram meus haveres apenas com o intuito de me sacar algum dinheiro, numa deplorável figura de faroeste!
Já experimentei permanecer em mais do que um país ocidental para além do prazo permitido pelo visto e pagar apenas o preço do papel gasto para o revalidar sem qualquer penalidade. Sei do roubo que os estrangeiros sofrem no meu país e do calvário que percorrem para um banal processo se revalidação, como se da permanência no céu se tratasse.
Sei de gente que viveu 50 anos em Moçambique e deu o seu melhor nas profundezas da Zambézia, e a quem foi negado o direito de permanecer no país para além da reforma, como se essa gente tivesse passado meio século da vida ao mero acaso no meu país!
Tenho agora conhecimento de um cidadão, estrangeiro, mas o mais importante, branco, a viver e trabalhar no meu país há duas décadas,..e mais uma vez na capital da Zambézia, que recebeu misteriosamente uma adolescente em sua casa, enviada não se sabe por alma de quem. Conhecendo as possíveis consequências, pagou-lhe a viagem para o destino que ela pretendeu, mas pelos vistos perdeu-se pelo caminho..
Encontra-se agora com os bastardos dos seus progenitores à sua porta a reclamar uma "indemnização" de 200.000.00 meticais. Não procuraram saber da sua filha; não procuraram a empresa MECULA do Sr Chipande, que a transportou; não foram à policia, apenas se colaram às costas do branco com o objectivo de roubar, de extorquir, por ser branco, não podemos sequer duvidar.
Quem não viu a agonia do mega projecto "Indian Ocean"? O roubo doméstico simplesmente comeu um projecto maior que a "Aquapesca" na Zambézia! Impotentes, os proprietários "atiraram a toalha ao chão" e partiram!
Quem não se lembra daquele grupo de farmácias "Gestfarma", à data, o maior aglomerado de Farmácias e Ópticas em todo o território? Entregaram a gestão corrente a gente loca; fizeram gerentes, fizeram quadros.
Não faliram porque venderam a saldo, antes que tal aconteceram,..e partiram sem honra nem glória!
Quem não conhece as famosas queixas de violação contra estrangeiros levadas a cabo por gente da prostituição? Quantos foram os quadros da Visabeira; do Entreposto, da CMC, presos e chulados, com a conivência daquilo a que por aí se chama "autoridade"?
Por força da minha profissão, dou por mim a escrever do nosso país irmão Cabo Verde. Foi talvez isso e a nova história do branco em vias de ser roubado de forma impotente, que me fez escrever,..ou melhor, gritar!
Cabo Verde é seco, íngreme, teoricamente pobre, se solo pouco produtivo.
Foi este arquipélago o território mais desprezado pelo colonizador. Construiu-se muito pouco, não era economicamente atractivo mas estrategicamente útil.
Cabo Verde não chora o passado, não hostiliza o colono, mantém os laços, está acolhido no seio da União Europeia por força desse despreconceito.
Cabo Verde tem escolas, tem vida, tem dinheiro, tem políticos honestos de nível ocidental, não tem corrupção, as instituições funcionam com a mesma qualidade das homologas Europeias.
Cabo Verde não é "UM EXEMPLO"! Cabo Verde é "O EXEMPLO" que nos assenta como uma luva!!
Não houve guerras de independência; não houve "genocídios de desestabilização". Cabo Verde é turismo, é musica, é paz social e harmonia política!!
Moçambique, o meu país, é racismo, é chulice a todos os níveis, é maltratos a quem nos visita, é racismo contra quem connosco quer partilhar a vida, o esforço e o trabalho de reconstrução do que jamais deveria ter sido destruído.
O mínimo seria tratarmos os outros, leia-se, os estrangeiros, leia-se, os de outra raça e cultura, do mesmo modo como nos tratam a nós!! Só a Europa alberga 25 milhões de africanos negros, dos quais 2 milhões são ilegais, ou sem papeis como lhe chamam os franceses. Estão lá, têm casa social, não são presos nem perseguidos.
O mínimo que nos resta é tratarmos os que se nos juntaram com IGUALDADE DE TRATAMENTO E RESPEITO, sem a arrogância que nos caracteriza, a prepotência da ignorância que nos atira para onde nos encontramos!
Tenhamos a humildade de copiar o que os outros fazem bem, e a decência de sermos gratos com quem não nos faz mal nenhum!


( M.Matias, e-mail citado no Moçambique para todos)

Marrabenta volta a “marrabentar” em Moçambique!

Realiza-se, de 28 de Janeiro a 12 de Fevereiro, a 3ª Edição consecutiva do Festival Marrabenta 2010, sob o lema “ Marrabenta Presente, Passado e Futuro”. Segundo um comuninicado recebido o Centro Cultural Franco-Mocambicano vai ser novamente o palco da estreia deste evento cultural que reacende os ritmos e sons da música tradicional moçambicana. Para além de Maputo, o Festival vai realizar-se também na cidade da Matola, Vila de Marracuene – no famoso Gwaza Muthine, Matalene - Chibuto e Chokwé.

A Marrabenta é um Património Cultural Nacional e com esta perspectiva a empresa Logaritimo Producões decidiu criar um Festival que aglutinasse a parte significativa do seu percurso histórico musical moçambicano denominado Festival Marrabenta.

O objectivo é prestar a devida homenagem aos artistas que, ao longo de anos, têm contribuído para que a Marrabenta se torne naquilo que toda a sociedade reconhece: Património Cultural Moçambicano. O Festival celebra anualmente os grandes momentos que marcaram a história da Marrabenta, procurando compreender ompreender o percurso da música popular urbana e seus conteúdos. Documenta também os depoimentos dos astros percursores da Marrabenta, para que os seus feitos não desapareçam e se continue a aproximar gerações vindouras.

Com um elenco de luxo, a programação aposta nos astros da Marrabenta Dilon Ndjindji, Xidiminguana, António Marcos, Conjunto Djambo, Banda Real, Joana Coana, Cecília Ngwenya e Banda Marracuene, Helena Nhantumbo, Mário Ntimana, Narciso Macuácuá, Alberto Mula, Tomás Urbano, João Bata, Ernesto Dzevo, Alberto Mutcheca, Vítor Bernardo, o jovem Ta-Basily, reafirmando a procura de promessas musicais.

Todos os trabalhos resultantes deste Festival vão ser partilhados com o público, em formato audiovisual, numa perspectiva de resgatar a Marrabenta desde o ensino e aprendizagem, à troca de experiências.

( A Verdade)

Tuesday, 26 January 2010

Marco do correio, de Machado da Graça

Bom-dia, Jacinto

Desejo que continues de saúde, bem como todos os teus. Do meu lado tudo bem, felizmente.

Só que ando já com dores nos ouvidos, por causa de todas as sirenes que percorrem a cidade, em todas as direcções, em altos berros.

Ao longo de todo o dia e, muitas vezes, à noite lá vão as sirenes, pó-pi, pó-pi, pó-pi, a quebrar o nosso sossego e a fazer chegar a adrenalina onde ela não é minimamente necessária.

É claro que não sou contra o uso das sirenes em casos de necessidade. Uma ambulância com um doente grave, que precisa de chegar urgentemente ao hospital, está perfeitamente justificada ao usar a sua sirene. Os bombeiros, a caminho de apagar um fogo, podem e devem usar da sirene.

Até mesmo um dirigente, por qualquer motivo com urgência de chegar a um qualquer destino, pode usar desse instrumento para conseguir o seu objectivo.

O que já não concordo é que qualquer dirigente, seja a que nível for, tenha urgência ou não tenha, sinta que, pelo facto de ser dirigente tem o direito de nos sirenar o juízo.

Na zona da Malhangalene, diariamente, uma coluna de veículos da Polícia passa em direcção à

Polana-Caniço e, mais tarde, de regresso. Vão lentamente, sem nenhum sinal de que esteja a ocorrer uma emergência (de resto, muito mau seria se houvesse, todos os dias, uma emergência naquele ponto da cidade). Mas vão todos eles com as sirens a tocar. Uma barulheira louca.

Creio, portanto, que alguém deve tornar claro que o uso da sirene é um meio excepcional, utilizado para atingir algum objectivo, também ele excepcional. Não é algo para ser usado no dia-a-dia apenas para que quem vai no veículo principal se sinta uma pessoa importante.

Ou, no caso da coluna policial, para que os seus componentes sintam o poder que lhes dá esse meio posto à sua disposição para outros fins.

Creio que era útil sair uma qualquer orientação geral sobre este assunto, porque tenho a impressão de que, neste momento, é cada dono de sirene que decide se e quando a deve ligar.

E dá a impressão que há cada vez mais donos de sirenes. Todos eles com vontade de nos sirenarem a paciência.

Como se devem sentir bem, refastelados nos seus cómodos bancos, a circularem pelas ruas, enxotando para os lados os pacatos concidadãos, mesmo sem terem pressa nenhuma de chegar a qualquer lado.

Se o país avançasse à velocidade a que avançam esses sirenudos dirigentes já nós estávamos a par da Suécia em termos de desenvolvimento.

Só que já estive duas vezes na capital sueca e não me lembro de ter ouvido nenhuma sirene.

Costuma-se dizer que “cão que ladra não morde”.

Será que isto se pode traduzir por algo como “sirene não quer dizer eficiência”?

Estamos no início de um novo mandato presidencial.

Talvez seja boa ocasião para Armando Guebuza dar o recado aos membros do seu governo no sentido de calarem as suas sirenes e darem paz aos ouvidos dos moçambicanos.

Recado que, ao que suponho, só será necessário para alguns deles. Outros há que tenho visto passar sem nenhum estardalhaço desse tipo.

Porque, se isto continua assim, qualquer visitante estrangeiro vai pensar que está numa cidade em pé de guerra ou debaixo de uma enorme calamidade, tal o gritar das sirenes que a cruzam.

E, um dia que elas se possam justificar a sério, ninguém lhes vai ligar a mínima importância.

Recordo, a-propósito, que, no dia em que rebentou o paiol, andei a fazer reportagem nas zonas afectadas, quando os projeécteis ainda caíam. Só encontrei um dirigente deste país: o Ministro da Saúde, que andava de hospital em hospital a ver como estavam a responder à emergência.

E andava sem sirenes.

Os outros dirigentes, quer militares, quer policiais, brilhavam pela ausência total. Deviam estar em casa, debaixo da cama, que é onde se esconde o meu gato quando há trovoada.

E, nesse sítio, também não precisavam de sirenes...

Um abraço para ti do

Machado da Graça


(Correio da Manhã, 22/01/10)

Luísa Diogo de saída?


Correm com insistência rumores de que a ex-Primeira–Ministra de Moçambique, Luísa Diogo, se prepara para renunciar ao seu mandato como deputada do Parlamento moçambicano.

Foi noticiado que Luísa Diogo tenciona fixar residência em Portugal, acompanhada da sua família.

Será verdade?

Os 68 Parabéns de Eusébio


por ABM (Cascais, 25 de Janeiro de 2010)

O antigo jogador de futebol Eusébio completa hoje 68 anos de idade.

Aproveito assim para abordar brevemente esta figura do desporto português e moçambicano.

Ao contrário do clã BM, eu nunca liguei quase nada ao futebol, que em Moçambique antes da independência era uma total obsessão para muita gente. Fui a muitos jogos de futebol em Lourenço Marques, mas mais como castigo e para não causar distúrbios em casa aos fins de semana.

Olhando retrospectivamente, o futebol estabelecia uma das diferenças visíveis entre a África portuguesa e as colónias e ex-colónias inglesas, que rodeavam Moçambique, onde os desportos seguiam padrões raciais e culturais muito específicos. Na África do Sul, o futebol era, e ainda é, regra geral, um desporto predominantemente de e para os negros, enquanto que os brancos se cingiam quase exclusivamente ao râguebi e ao cricket e desprezavam o futebol como “desporto de preto”. Presumo que pouca gente então se apercebeu que o piropo também se dirigia aos portugueses, que aos olhos de muitos dos boers e dos sul-africanos brancos, eram uma raça “cafrealizada” – os kaffirs from the sea, como diziam alguns (touché).

Em Moçambique aquilo era mais um pagode, tudo ao molho e fé em Deus. Toda a gente ia e toda a gente vibrava com o futebol, independentemente das questões raciais, económicas e sociais que os analistas de hoje possam congeminar. Aos fins de semana muita gente ia ver o futebol e durante a semana falava-se do que tinha acontecido no fim de semana anterior. Os jogos eram transmitidos pelo rádio clube em simultâneo em português e em ronga. Nesse aspecto, fazia parte do ídílio africano de que falarei mais tarde e que pelos vistos se tornou desporto das classes literadas de hoje desafiar.

Se no esquema geral das coisas essa paixão partilhada entre brancos e negros na África portuguesa valia o que valia, ela existia e pelo menos baralhava um pouco as cartas em termos da dialéctica de então. Os portugueses do regime usavam-na para apontar credenciais não racistas ao mundo, enquanto que os restantes a desvalorizavam, apontando que praticamente não havia quaisquer moçambicanos negros em posições de poder e influência na nomenclatura nacional e colonial.

Mas, só para chatear – excepto no futebol.

Esta realidade foi a meu ver algo injusta em termos de verdadeiros talentos como Eusébio, Coluna e Hilário (por exemplo, mas há mais, como o Vicente, o Shéu, o Matateu, o Matine, o Abel) cujo valor deveria estar acima destas questões mas acabou, durante algum tempo, por ser questionado por temas que nada têm que ver com o facto de que eram atletas de invulgar talento.

As estrelas que Moçambique produziu foram muitas e brilharam. Outro dia ouvi um comentário que achei interessante e parcialmente correcto, não me lembro de quem, mas que dizia que a primeira “verdadeira” selecção de Moçambique foi a que Portugal levou ao Mundial de 1966 em Londres. Sem descurar os restantes jogadores, o talento moçambicano reunido naquela equipa era verdadeiramente excepcional.

E Eusébio, filho de um senhor branco e de uma senhora negra do Xipamanine (pois…) foi a estrela cadente desse conjunto de homens notáveis. Ao ponto de integrar, nas mentes do povão, com a tal de vidente Lúcia e a fadista Amália Rodrigues, uma espécie de santa trilogia do Portugal da segunda metade do salazarismo: Fátima, Fado e Futebol.

Ele era um deus em Moçambique quando eu era pequeno. Um dia, não sei bem por que razão, nos anos 60, ele visitou a casa onde os meus pais viviam na Polana. Não sei como, a palavra passou que ele estava lá, e em cinco minutos a casa estava rodeada de uma multidão a querer vê-lo e a pedir autógrafos. Diligente, eu passei o meu tempo a recolher livrinhos de autógrafos e levá-los ao Eusébio enquanto ele estava calmamente sentado a falar com o pai BM – e ia assinando os livrinhos.

Como um simbolo inescapável de Portugal, difícil foi, e tem sido, a reconciliação com o regime moçambicano, que, antes e depois da independência, nunca o viu como seu, e que nunca aceitou o portuguesismo de Eusébio – apesar de ele ser logicamente também tão moçambicano como qualquer outro, produto genuíno do Xipamanine e da Mafalala dos anos 50 do século passado.

Também não ajudou o facto de que, ao se nacionalizarem os bens imóveis em 1976, incluíram-se os investimentos que quer Coluna quer Eusébio tinham feito na sua terra. Na base da ideologia e de que não podiam abrir excepções, deixaram-nos mais pobres e mais ressabiados. Coluna, que regressou a Moçambique independente e refez lá a sua vida, ficou quase na miséria. Mas isso é história que dava panos para mangas.

Independentemente de todas essas questões, acho que a História já colocou Eusébio no seu lugar devido: o de ter ele sido um dos maiores talentos do futebol que o mundo jamais viu.

Um talento moçambicano.

E, também por isso, lhe dou hoje, e a nós também, os parabéns.


(ABM, em www.ma-schamba.com)

Monday, 25 January 2010

Para quando abertura da “pequena” Scala?



É JÁ um facto consumado que a lendária Pastelaria Scala, na esquina das avenidas 25 de Setembro e Samora Machel, na cidade de Maputo, foi tomada. Jamais voltará a ser aquele emblemático centro de lazer e de debate de ideias na zona da baixa da cidade, que o foi durante décadas.

Mas, quando no ano passado nos explicaram as confusas razões da transformação daquele ponto de venda de pasteis, café, sumos e demais comidas leves em local de comercialização de calçado e de vestuário minimizaram o nosso drama, garantido-nos que uma pastelaria, uma “pequena” Scala entraria em funcionamento. Embora receosos, acreditamos.

A fonte que nos assegurou que mesmo com o edifício grandemente transformado em lojas de roupas uma pequena sala manter-se-ia como pastelaria - a Direcção de Turismo da Cidade de Maputo – reavivou a nossa esperança de que parte da História da Cidade das Acácias seria preservada.

Contudo, vários meses passam desde então e nada se efectiva nesse sentido. As lojas de roupa estão a funcionar em pleno, mas a pastelaria, pequena que fosse, nega a aparecer.

Desde o último trimestre do ano passado que o estabelecimento está vedado como se estivesse em obras de montagem de equipamento para o funcionamento de uma pastelaria, mas não se vislumbra algo de concreto que tranquilize os citadinos, ansiosos em voltar a ter uma casa do género na zona baixa da cidade capital.

Afinal, para quando a abertura da tal pequena pastelaria?


Notícias, 25/01/10

MDM

Sem direito a formar bancada parlamentar

Deputados do MDM eclipsados na Assembleia da República

Maputo (Canalmoz) – Os oito deputados do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) - eleitos para a presente VII legislatura da Assembleia da República (AR) - estão acantonados no Parlamento. Até agora, ainda não lhes foi concedido o direito de formar uma bancada parlamentar, dado que o regimento do Parlamento exige para isso que um determinado grupo parlamentar tenha pelo menos 11 deputados.
Na sessão da última sexta-feira, enquanto se esperava que algo fosse feito no sentido de se alterar o regimento da AR que fixa o mínimo de 11 deputados para que se possa formar uma bancada, os deputados do MDM acabaram por assistir aos deputados das duas bancadas – Frelimo e Renamo – a trabalharem no parlamento sem que eles pudessem participar em pleno como era suposto pelo facto de terem sido eleitos legalmente. Foi-lhes concedido apenas 1 minuto para falarem no plenário.
Por força do regimento da AR, que apenas concede privilégios aos deputados organizados em bancadas, os do MDM foram excluídos de poder fazer parte das 8 Comissões de Trabalho ou da Comissão Permanente da AR.
Assim, enquanto nada for feito no sentido de alterar o regimento, facto que depende absolutamente da bancada da Frelimo, os oito deputados do MDM pouco farão no Parlamento em termos de intervenção no plenário. O seu trabalho, contudo, como nos disseram vários deles irá incidir na fiscalização da governação em defesa dos interesses do seu eleitorado, dado que, segundo eles, terão muito tempo disponível para o efeito.
A possibilidade dos que detém a maioria parlamentar virem a alterar o regimento da Assembleia que contraria o que a Constituição permite, parece cada vez mais remota, na medida em que as Comissões de Trabalho que são compostas pelos deputados indicados, de acordo com a representatividade das bancadas, já foram compostas e o MDM ficou de fora.

MDM reage

No dia 13 do mês em curso, o deputado do MDM, Lutero Simango, disse em plenário da AR - durante o único minuto concedido ao MDM - que o seu grupo requereu à Presidência do Órgão Legislativo a sua constituição em bancada parlamentar - estando até ao momento a aguardar a decisão sobre a petição.
“Nós já requeremos e esperamos que algo seja feito para que possamos trabalhar em pé de igualdade para melhor representarmos o povo que nos elegeu. Esperamos que haja bom senso do lado dos deputados das outras bancadas, e que ao MDM seja concedido o direito de formar uma bancada.

Composição da Comissão Permanente

Com o MDM fora das contas, a Comissão Permanente da Assembleia da República (CPAR) acabou sendo eleita por aclamação e consenso, fazendo parte apenas membros da Frelimo e da Renamo - os únicos partidos que constituem bancadas. Assim fazem parte desta comissão os seguintes deputados: Verónica Macamo, Lucas Chomera, Margarida Talapa, Maria Angelina Enoque, Tobias Dai, ex-ministro da Defesa, Manuel Tomé, antigo Chefe da Bancada da Frelimo, Paulina Mateus Nkunda, Edson Macuácua, actual porta-voz da Frelimo, Bonifácio Gruveta Massamba, Mateus Katupha, Joaquim Veríssimo, Cidália Chaúque, José Chichava e Gania Manhiça.
Alcido Nguenha, Alberto Chipande, Conceita Sortane, Elisa Amisse, Xavier Chicutirene, Joana Mondlane, Vicente Ululu e Albino Ducuza Muchanga serão os suplentes da CPAR.


(Matias Guente, CANALMOZ, 25/01/10)



MDM quer maior inserção no país - partido reuniu-se na Beira em seminário sobre estratégia pós-eleições

O MOVIMENTO Democrático de Moçambique (MDM) procura maior inserção no país para permitir que nas próximas eleições alcance resultados satisfatórios. Tal desejo foi ontem manifestado na cidade da Beira pelo chefe do Departamento de Estudos e Projectos daquela formação política, João Colaço, afirmando que o alastramento das bases passa necessariamente pela capacitação dos seus correligionários.

O MDM, de Daviz Simango, encontra-se reunido em Seminário Nacional sobre a Estratégia Pós-Eleições. Colaço entende que a partir deste encontro será possível coordenar com os membros uma melhor planificação de trabalhos políticos, com o único objectivo de alcançar o poder.

“Os meios de como implantar o partido e alargar as acções para alcançarmos o poder são os nossos maiores objectivos”, disse, Colaço para depois acrescentar que o povo já mostrou que está com a sua organização política.

A formação de quadros do MDM provenientes de todas as províncias está a ter o suporte da Fundação Konrad, um organismo da Alemanha. A sua representante, Anneth Schuarz Bauer, disse na ocasião que os partidos políticos devem fazer um trabalho contínuo, tal como a sociedade civil, apontando o exercício daquela formação política como uma acção importante para o pulsar político nacional.

O MDM concorreu nas eleições presidenciais, legislativas e provinciais de Outubro do ano passado, tendo conseguido um total de oito mandatos na Assembleia da República e 24 assentos nas assembleias provinciais, 20 em Sofala, dois em Nampula e outros dois em Niassa.

O seu candidato às presidenciais, Daviz Simango, posicionou-se em terceiro lugar.

Notícias, 25/01/10


Deputados do MDM sentem-se excluídos

O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) considera-se excluido por nao integrar nenhuma das oito comissoes da Assembleia da Republica (AR), Parlamento, cujos membros foram eleitos esta sexta-feira, na primeira sessao extraordinaria deste orgao legislativo. Lutero Simango, deputado do MDM, defende que a AR precisa ser mais participativa, abrangente e inclusiva, o que, segundo ele, passa por aceitar que esta nova força política, com oito assentos, constitua bancada.

“Nós estamos excluídos das Comissões de Trabalho, quando se pretende que tenhamos um Parlamento participativo, abrangente e inclusivo. Nós esperamos que se tome uma decisão certa e que reine o bom senso para que possamos formar a nossa bancada e contribuirmos mais nos trabalhos destes órgãos”, disse.

Simango, falando esta sexta-feira no fim da primeira sessão extraordinária do Parlamento, revelou que o seu partido apresentou, no passado dia 13 do corrente mês, um requerimento pedindo a alteração do Regimento da AR para que com os seus oito deputados o MDM possa constituir bancada. Apesar da incerteza que paira sobre o acolhimento da proposta de o MDM criar uma bancada, que depende da boa vontade dos outros partidos representandos no Parlamento, Simango afirmou que os seus deputados não ficarão de braços cruzados.

“Nós vamos continuar a trabalhar e a manter contacto permanente com o nosso eleitorado. Mesmo sem palavra, vamos colocar as questões que preocupam o povo moçambicano, porque como partido temos uma estratégia própria de actuação”, afirmou. O MDM exige que possa formar bancada parlamentar e integrar as comissoes de trabalho.

Sobre esta materia, a Constituição da Republica diz, no ponto 1 do artigo 196, que os deputados eleitos por cada partido podem constituir bancada parlamentar, e no ponto 2 do mesmo artigo refere que a constituicao e organizacao da bancada parlamentar sao fixadas no Regimento da Assembleia da Republica. A Constituicao não especifica com quantos assentos um partido deve ou pode formar uma bancada, mas o Regimento da AR estabelece um mínimo de 11 deputados para o efeito.

Sem revisao do Regimento, o MDM nao tera bancada, e consequentemente os deputados deste partido, eleitos por 152.836 moçambicanos, em quatro circulos eleitorais, serao meros espectadores, embora usufruindo de todas as regalias a que tem direito.

AIM/A Verdade


Sunday, 24 January 2010

DANÇA LENTA

Já alguma vez observaste as crianças num carrossel…ou ouviste a chuva a bater no chão?

Já alguma vez seguiste o voo errático de uma borboleta…ou fixaste o olhar no sol, ao anoitecer?

É melhor diminuíres o passo.
Não dances tão depressa… o tempo é curto, a música vai acabar.

Corres, apressado, em cada dia que passa…
E quando perguntas “Como vai?” ouves a resposta?

No fim do dia, ficas deitado na cama, com os afazeres a encherem-te a cabeça?

É melhor diminuíres o passo.
Não dances tão depressa… o tempo é curto, a música vai acabar.

Alguma vez disseste a uma criança:
“Vamos deixar isto para amanhã?”
sem veres na tua pressa, a tristeza no seu olhar?

Perdeste o contacto ou deixaste morrer uma boa amizade, porque nunca tinhas tempo para ligar e dizer “Olá” ?
É melhor diminuíres o passo.
Não dances tão depressa… o tempo é curto, a música vai acabar.

Quando corres tão depressa para chegar a algum lugar…perdes metade da satisfação de lá chegar.

Quando, no teu dia-a-dia, te preocupas e te apressas, cada um desses momentos, é como se fosse um presente que não foi aberto…um presente desperdiçado!

A vida não é uma corrida!
Leva-a mais devagar…

Ouve a música…
antes que a canção ACABE!



Este poema foi escrito por uma menina em estado terminal de doença oncológica, num hospital de Nova York.
As suas palavras são as de alguém que, vivendo os seus últimos dias, alerta-nos para a importância de valorizarmos cada momento das nossas vidas…

Moçambique Já tem enfermaria-modelo


A CIRURGIA II do Hospital Central de Maputo passou desde ontem a constituir a primeira e única enfermaria-modelo do país, após o reconhecimento formalmente feito pelo Ministério da Saúde.

Com capacidade para 48 camas e cinco extras, a enfermaria difere das restantes por ter atingido padrões aceites internacionalmente para que faça parte desse patamar, do ponto de vista de humanização, com um atendimento personalizado. O pessoal médico é semanalmente submetido à uma avaliação pelos pacientes através de votação numa urna colocada à disposição do utente e ainda por um inquérito anónimo, que o doente preenche na altura da alta.

Os resultados dessa avaliação são posteriormente divulgados e servem de indicadores para a “Medida de Satisfação do Utente”. 80 porcento é o padrão aceitável para que uma enfermaria seja considerada modelo.

Há três anos e meio que a enfermaria funciona na perspectiva de atingir o patamar ora alcançado. Para tal, observou com rigor os requisitos exigidos, como o atendimento personalizado, alto nível de higiene e limpeza e de controlo.

A ideia de criação de enfermaria-modelo nos hospitais surge, segundo o ministro da Saúde, Ivo garrido, do facto de muitos doentes manifestarem insatisfação face ao atendimento que recebem nos hospitais. Assim, decidiu-se que cada hospital tivesse uma enfermaria-modelo que serviria de exemplo para as restantes.

Garrido explicou que tudo começa em 2006, com a enfermaria da Cirurgia II a candidatar-se a este nível e, um ano depois, a experiência chegava a outros hospitais centrais e provinciais. Actualmente, o HCM tem outros departamentos que manifestaram a intenção de fazer parte daquele nível a saber, as enfermarias de Pediatria, Maternidade, Medicina, Ortopedia. “Estamos a crescer assim. O que queremos é paciência e perseverança para que, daqui a cinco anos, em vez de uma em cada hospital, tenhamos duas e daqui a 10 anos, em vez de duas termos quatro!”, disse Garrido.

Mariamo Jamaldine é uma paciente internada na enfermaria-modelo desde a passada quarta-feira. Faz uma avaliação positiva do atendimento que encontrou que marca diferença na maneira de servir do HCM, sobretudo no que diz respeito ao esmero.

“A diferença é de noite para dia. Acredito que o melhoramento do meu estado de saúde tem a ver com o ambiente em que estou. Já estive de baixa sete vezes, mas exceptuando a clínica que não posso fazer comparação, nunca estive num ambiente hospitalar tão acolhedor e simpático como este. Os trabalhadores são simpáticos e atenciosos tudo diferente do que nos já habituamos.

Com cinco quartos, 44 trabalhadores, entre o serventuário, de enfermagem e médico, a enfermaria possui uma área social na qual os doentes recebem visitas familiares ou mesmo espiritual. É uma área que dá ao paciente uma sensação de estar em casa por ser aberto. As camas estão identificadas não só pelos números, como também pelos nomes dos respectivos ocupantes.

Sobre os desafios do MISAU para este novo mandato, Garrido disse que a prioridade vai para os recursos humanos, através da formação em qualidade e quantidade de todo o pessoal da Saúde. Paralelamente a esta formação, a aposta é expandir a rede sanitária para fazer com que moçambicanos percorram menos distância em busca dos serviços sanitários.


Saturday, 23 January 2010

Hoje: Festival na Mafalala


Realiza-se hoje o Festival da Mafalala que engloba várias actividades culturais. A entrada é livre e tem parque de estacionamento seguro no Campinho da Mafalala.

A não perder!


ADENDA:


Começa hoje no bairro da Mafalala, apartir das 10 horas e até as 19 horas o Festival Mafalala que realizar-se-á durante 4 meses, numa iniciativa da Associação IVERCA em parceria com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo, com o apoio da Embaixada de Espanha, Instituto Nacional do Turismo – INATUR, SNV e demais parceiros.
Este Festival, segundo um comunicado recebido na nossa redacção, vai acontecer no Círculo da Mafalala, cruzamento entre a Rua de Goa (entrada pela Marien Ngouabi) e a Rua de Timor Leste (entrada pela Avenida de Angola) e insere-se no Projecto Mafalala Turística, um projecto levado a cabo pela Associação IVERCA, uma associação liderada por jovens estudantes e profissionais de Turismo, e visa contribuir para a diversificação da oferta turística da Cidade de Maputo, a partir do desenvolvimento de um novo e atractivo pólo de turismo cultural e suburbano, explorando a história, as tradições e os demais elementos que constituem a identidade deste Bairro e quiça do país.
Entre os variados atractivos previstos para este Festival destaque para a documentação do evento, através de filmagens que acontecerão antes, durante e depois do festival, e que permitirá a posterior apresentação como um documentário cinematográfico, e ainda, guardar um legado para recordação assim com para as Visitas Guiadas que possibilitarão aos visitantes,um passeio guiado pelo bairro da Mafalala.


Confira aqui.

Com a já prevista ausência de Dhlakama, Chefe do Estado almoça com Daviz







Com a ausência de Afonso Dhlakama, o presidente da Renamo, o Chefe do Estado, Armando Guebuza, almoçou na tarde de sexta-feira com Daviz Simango, candidato derrotado na eleição presidencial de 28 de Outubro último.
Na mesa redonda colocada no centro de uma espaçosa sala no palácio da Ponta Vermelha, duas cadeiras permaneceram vazias durante o almoço que o Presidente da República e sua esposa ofereceram aos candidatos vencidos na eleição presidencial de 28 de Outubro último.
Trata-se das cadeiras onde deviam sentar-se Afonso Dhlakama, presidente da Renamo e segundo candidato mais votado, e sua esposa. O “líder da Perdiz” mais uma vez declinou o convite para dialogar com o mais alto magistrado da Nação sobre assuntos de interesse nacional e partidário.
Até às 12 horas dezenas de jornalistas já se encontravam na Ponta Vermelha para cobrir o primeiro encontro formal entre Guebuza e Daviz, dois políticos que em Outubro último foram adversários na disputa presidencial.
Marcado para às 13 horas, o almoço começou com 15 minutos de atraso, apesar de os dois casais terem chegado ao local com alguma antecedência. Depois de captar as imagens, a Imprensa foi convidada a abandonar a sala para permitir maior tranquilidade aos dois dirigentes políticos acompanhados pelas respectivas esposas.

Uma hora depois, os jornalistas eram chamados para o pequeno “briefing” que Daviz concedeu momentos após o encontro. “Falámos de vários assuntos políticos, sociais e económicos do país”, disse o também edil da Beira, a segunda maior cidade moçambicana. Em declarações à imprensa, Daviz fez notar que a questão do processo eleitoral – muito contestado pelo Movimento Democrático de Moçambique – não foi abordado.
Aliás, o presidente do MDM tinha arrolado para o almoço dois pontos de agenda: a formação de uma bancada parlamentar na Assembleia da República (AR) por parte do MDM e a questão de partidarização do Estado. Lembrar que o MDM, que fez eleger oito deputados para a presente legislatura, a VII, está impossibilitado de formar uma bancada e de beneficiar dos poderes decorrentes do acto.
É que o Regimento da AR estabelece um mínimo de 11 deputados para a formação de uma bancada. Mas negociações prosseguem junto de outras bancadas, sobretudo com a da Frelimo que detém a maioria qualificada no sentido de o terceiro maior partido saído das últimas eleições ter uma bancada. “Trocámos ideias e tenho esperança que o diálogo vai continuar porque só assim é possível desenvolver o Estado de Direito”.
Apesar de não ter precisado as respostas o Chefe do Estado deu quanto às principais preocupações do MDM, Daviz mostrou-se confiante no diálogo e disse que encontros similares vão continuar sempre que uma das partes ache oportuno.
“A mensagem do Presidente da República é de que todos nós devemos estar dispostos a desenvolver o país, a consolidar a democracia e a unidade nacional”, indicou, acrescentando que o MDM vai colaborar com o Governo da Frelimo e com outros partidos políticos na criação de melhores condições de vida para os moçambicanos.
À sua saída, Daviz foi acompanhado por Hilário Matusse, um dos assessores do Chefe do Estado.


(Rui Lamarques, A Verdade)

Friday, 22 January 2010

O que o Povo quer é mais obras e menos conversa politiqueira

Editorial

Maputo (Canalmoz) - O novo governo central acaba de tomar posse. Pouco mudou, relativamente ao mandato anterior: “O Estado Sou Eu”. Estamos, agora, numa espécie de dinastia do “Rei Sol”. Está tudo nas mãos de um só homem. E, como está patente na composição do governo anunciado e já investido, a etnicidade e o regionalismo voltam a ser preocupação, a par da fidelidade. Veremos se a competência corresponde.
Para quem, como nós, tem por critério a competência e não a origem étnica de quem é chamado a exercer cargos nos órgãos de soberania, do Estado e nas instituições subjacentes, toda e qualquer tentativa de se resolver problemas por essa via, preocupa-nos sobremaneira; isto porque:
- O Povo quer obras.
- O Povo está farto de politiquices.
- O Povo quer habitação.
- O Povo tem fome.
- O Povo quer vender o que produz, quer estradas para o escoar e ir ao encontro de mercado a preços compensatórios.
- O povo quer viver bem, como vive quem vai para o governo e só se tem preocupado com o seu umbigo – valha-nos a ponte sobre o Zambeze, construída com fundos externos!...
Se importância se deve, ainda, dar aos factores étnico e regional, não deve ser, em nossa opinião, para satisfazer quem quer excluir os que eventualmente, por mérito, possam opor-se-lhes ou possam obstruir as aspirações de quem vê na sua origem uma oportunidade para derrotar quem é mais capaz.
As pessoas querem é obras. Pouco ou nada lhes interessa se fulano é do Niassa ou de Inhambane.
Temos vindo a ver que, para se fazer crer que se está a lidar com a política tendo em conta a necessidade de se promover equilíbrios étnicos e regionais, nomeiam-se pessoas tendo isso em conta, mas, no fundo, o essencial acaba por não ser feito, ou porque os escolhidos não são os melhores para orientar o que deve ser feito, ou porque foram investidos nos cargos apenas para parecer o que convém a alguém.
Para quem tem, essencialmente, o intuito de se rodear de obedientes servidores, para satisfação dos seus desejos pessoais, este governo pode estar certo, como o anterior esteve, nessa perspectiva. Mas, que fique claro: os resultados oficiais das últimas eleições são de mais de dois terços, mas não do todo do eleitorado que se recenseou. São de apenas 45% do eleitorado que foi às urnas e, mesmo assim, usando, o beneficiário, de instituições claramente manipuladas, para a obtenção de tão “retumbante vitória”.
Em algumas províncias, os resultados deram 80% aos vencedores, mas, nesses mesmos círculos, foram às urnas menos de 25% dos habilitados a votar.
As engenharias étnico-regionais podem dar a sensação que o Mundo teve quando caiu o Muro de Berlim: euforia. Mas não é só depois da tempestade que vem a bonança. A bonança também tem precedido os grandes desastres…
Infelizmente, as engenharias étnico- regionais têm sido um preconceito estratégico, cínico, que deu origem à mentalidade política que a entidade que tudo faz para fazer crer que está empenhada em construir uma verdadeira democracia, criou, no seu seio, ao longo da respectiva história.
O que a população quer é uma melhor distribuição da riqueza; só que o mesmo critério étnico e regional não tem servido, quando disso se trata. Tem-se visto, isso sim, aos duques proporcionar-se algum fausto, para que o rei engorde.
Os cidadãos do Centro e do Norte, mesmo até os do Sul mais afastado de Maputo, e até mesmo os que embora próximos e na mesma cidade mais se afastam do centro privilegiado da cidade, não se importam que o seu dirigente seja originário de outras latitudes ou longitudes ou desta ou daquela etnia. Os cidadãos, o que querem é ver obras serem feitas nos seus centros de interesse. Querem ver os usurpadores do património comum bem longe do Poder, para que quem quer, realmente, o bem de todos, possa evidenciar-se livremente e ascender aos cargos a que estão conferidos poderes de decisão.
As pessoas querem no Poder quem faz, não quem diz que faz para dar conversa a distraídos.
As pessoas querem, por exemplo, ver o porto de Nacala ter accionistas residentes em Nacala, mas o que está a acontecer é que as pessoas de onde estão os empreendimentos nunca são chamadas a adquirirem acções nesses empreendimentos. São, sempre, os mesmos nomes, de residentes em Maputo, que se andam a tornar proprietários de tudo, ao longo do País. E é isso que está a afastar os cidadãos, da dita construção de uma democracia em Moçambique. As pessoas deixaram de acreditar nos processos de escolha de quem querem que as dirija e faça a gestão do bem comum.
O desemprego, a miséria de quem tem de andar, de madrugada até altas horas da noite, a vender para ter um pão para a boca, o tal combate à pobreza absoluta tem sido, até agora, um fracasso, embora em retórica se diga o contrário.
Quem é eleito por tanta margem como a anunciada e promulgada tem, geralmente, mais povo na rua no dia da posse. O povo não fica indiferente como se viu.
O povo não anda contente – verdade se diga.
O povo quer alternativas. Não quer uma oposição comprometida. Quer uma oposição que realmente tenha propostas novas e novas caras.
Os reais desequilíbrios regionais continuam a existir e há muita gente que já chama aos senhores que do alto império falam de um mundo novo e de um futuro melhor, os novos colonialistas.
Já se fala em “colonialismo interno”, nas muitas regiões do País onde as pessoas produzem, mas não vêem resultados dos seus esforços.
Não basta nomear pessoas apenas originárias de todas as regiões do País, quando se sabe que todas elas têm as suas raízes e interesses actuais, em Maputo.
É preciso nomear pessoas cujos interesses não estejam na capital do País, independentemente de elas serem originárias daqui ou de acolá. Já estamos – e ainda bem – demasiado misturados para que a etnia continue a ser factor preocupante.
Os cidadãos querem ter quem os dirige, todos os dias, próximos de si. Não querem deixar de trabalhar, para receber visitas que lhes vão dizer, no seu próprio espaço, o que devem fazer e como.
Os cidadãos de Pemba não querem deputados por Pemba que vivem na Sommerschild, em Maputo. Querem deputados de Pemba, por Pemba.
O País precisa de um governo que governe, de facto e trabalhe para o que é necessário.
O País precisa de governantes que não governem com os olhos postos nos seus interesses pessoais.
Será que este governo vai, mesmo, governar ou vamos continuar a assistir aos governantes a enriquecerem nos cargos?
Terá o presidente investido, a coragem de publicar, ele próprio, a sua lista de bens e os da Senhora Primeira Dama e respectivos filhos, neste início de mandato e levar o seu Conselho de Ministros e governadores provinciais a fazerem o mesmo? Esse seria um exemplo inédito.
A Lei não obriga a isso, mas, com 2/3 da Assembleia da República, só não muda a Lei quem apenas anda a dizer-nos que quer combater a corrupção, mas, depois, arranja todo o tipo de subterfúgios para que o Povo não conheça as suas próprias habilidades mágicas.
É com exemplos que se deve passar a fazer política. É com gentes de cada terra que as obras se fazem. O povo sabe o que quer. Não precisa que vá alguém do governo à sua terra, para que as coisas sejam feitas. É preciso, sim, que, na terra, não haja quem, ao serviço de alguém em Maputo, esteja lá para impedir os empreendedores. É isso que tem de mudar: menos governantes e mais obras. Menos despesas com futilidades, mais empreendimentos concretizados. Menos conversas, mais coisas que se vejam. Menos impedimentos do governo e mais liberdade para empreender.
É esta a nossa primeira sugestão, a bem de um bom desempenho deste governo. Será que vão aceitar o repto?
Um bom prenúncio foi já termos ouvido que “quem critica quer o bem do País”. Já não se fala dos “apóstolos da desgraça”. Valeu a pena gozarmos com tal disparate. Esperamos que este saudável estímulo à crítica seja, mesmo, do fundo do coração. Até que enfim!?...Veremos!?

(Canalmoz / Canal de Moçambique)

Um texto augusto


Não sendo, actualmente, leitor habitual do semanário Domingo, não me tinha apercebido que ele iniciou o ano brindando-me com uma página inteira de críticas, misturadas com abundantes, e cinicamente irónicos, elogios.
Mas mão amiga fez-me chegar o augusto texto, que li com atenção.
E comecei, é claro, pela assinatura: Tadeu Phiri. Não conheço. Pelo menos não conheço por esse nome, que há gente que usa um nome diferente para cada coisa que faz e eu já estou habituado a que os textos que me criticam ou atacam sejam quase sempre assinados com pseudónimos.
Pois o tal Tadeu Phiri, chamemos-lhe assim à falta de nome mais augusto, apresenta-se como jovem, provavelmente universitário e filho de um antigo admirador meu.
E desenvolve, ao longo de todo o texto, a tese de que eu mudei completamente as minhas posições, em relação a alguns dos temas candentes da actualidade desde “o período quase pré-histórico” em que era a favor da Revolução, do Homem Novo e da Ditadura do Proletariado.
E faz alarde dos seus arquivos, citando textos meus de 1990 e 1991. Se atribuirmos hoje a esse jovem uns 30 anos de idade, pode-se dizer que começou a fazer o arquivo muito cedo.
Mas voltemos ao tema central da prosa de quem se assina Phiri:
Pois o articulista procura lançar a ideia de que eu mudei radicalmente, deixando no ar a presunção de que nada mais mudou.
Eu era um entusiasta defensor da política da Frelimo e hoje com muita frequência critico a política desse partido.
E aqui começa a intencional confusão.
Porque a mudança principal é precisamente no seio da Frelimo.
O actual partido com esse nome nada tem a ver com aquele que dirigiu a chamada Primeira República.
O actual Chefe de Estado, com todas as suas qualidades e defeitos, pouco ou nada tem a ver com Samora Machel, com todas as suas qualidades e defeitos.
O regime que procurava implantar o Socialismo entre nós era o oposto do regime desbragadamente capitalista em que estamos mergulhados neste momento.
O regime, severo e austero, do “primeiros nos sacrifícios e últimos nos benefícios” estava a anos luz da corrupção que mina hoje a nossa sociedade e em que cada um procura encher os bolsos o mais possível, sem grande preocupação com a desgraça que existe na maioria da população. Casos de corrupção muitíssimo menos graves do que os que hoje assistimos, levaram os culpados a punições muito severas. Exageradamente severas, nos casos em que foi aplicada a pena de morte, na minha opinião.
Que eu saiba, Samora Machel morreu, pra­ticamente, sem nada de seu.
Que eu saiba, Armando Guebuza é um dos mais importantes empresários deste país. Há quem diga que é o mais importante de todos.
Nem uma nem outra das coisas é, objec­tivamente, errada. Mas indicam duas atitudes diametralmente opostas na vida. E na condução da política nacional.
Comenta Tadeu Phiri que escrevi bastante contra os primeiros partidos que foram surgindo ao abrigo da nova Constituição. E é verdade. Os Palmos, Unamos, Coinmos e outros que tais, eram uma verdadeira desgraça. E, honra lhes seja feita, esses não mudaram nada. Continuam a ser uma verdadeira desgraça. O Monamo era melhor que os outros mas pouco mais longe ia do que a figura do Dr. Máximo Dias. Não sei sequer se hoje ainda existe, mas creio que não. E não foram as minhas crónicas que con­tribuíram para a falência precoce dessas experiências políticas, como diz o meu augusto crítico. Foi a sua falta de qualidade interna.
Onde Phiri começa a mijar fora do penico é quando pretende usar a carta do racismo. Segundo ele, eu acredito que os africanos são incapazes de construir o roteiro do seu próprio desenvolvimento. E associa, sabe-se lá porquê, a minha designação de “patrioteiros” a jovens.
Ora eu começo por não fazer generalizações do tipo “os africanos são...” ou “os africanos não são...”.
Há africanos que são e há africanos que não são. Sendo todos eles africanos, Mandela não é igual a Mugabe. Seretse Kama foi muito diferente de Mobutu e por aí adiante.
E patrioteiros há-os de todas as idades. Eu diria mesmo que os jovens estão em minoria nessa categoria de gente.
Segue o bom do Phiri adiante chamando a atenção de que os países do G 19 não podem exigir que tenhamos bons sistemas de Justiça e combate à corrupção, em pouco tempo quando eles, nos seus países, demoraram séculos a conseguir isso.
É um argumento interessante. Leva-me, no entanto, a perguntar se devemos deixar de usar automóveis, telefones, aviões, com­putadores, etc. porque tudo isso levou muitos séculos a ser inventado noutros países.
Por fim vem a questão das mangedouras.
Phiri tenta virar contra mim a afirmação de que os patrioteiros podem estar à procura das benesses da sua atitude. Mas é difícil. Eu vivo de uma reforma da RM, tenho uma empresa em permanente crise, escrevo para jornais de poucos meios e faço uma ou outra tradução para arredondar algum fim do mês. Fraca mangedoura, a minha.
Já o amigo Phiri, quem sabe usando nome mais augusto, pode ter outras actividades. Quem sabe se não é mesmo sócio de alguma das empresas do cidadão Armando Guebuza?
Elas são tantas que é bem possivel...

P.S. – Uso nesta crónica o adjectivo “augusto”, aplicado quer ao texto em análise, quer a nomes próprios.
Segundo o dicionário de Francisco Torrinha, augusto significa “magestoso, respeitável, solene”.
Trata-se, portanto, de um elogio.


( Machado da Graça, SAVANA, 15/01/10 )


NOTA: Recorde esta controvérsia aqui.