Wednesday, 12 August 2009

"Não é este o país pelo qual negociei e sonhei"



“Naturalmente que este não é o país pelo qual negociei e sonhei. Gostaria de ter um país em que o multipartidarismo vingasse...”


O negociador-chefe da Renamo no processo de paz que em 1992 pôs fim à guerra de 16 anos em Moçambique, Raul Domingos, considera que “o país está longe” do que sonhou quando negociou o fim do conflito.
Raul Domingos, expulso da Renamo em Julho de 2000, dirigiu a delegação deste partido, na altura um movimento de guerrilha, nas negociações com a Frelimo, partido no poder em Moçambique, visando o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992.
Após a sua expulsão do principal partido da oposição, por alegada negociação de favores pessoais com a Frelimo, Raul Domingos fundou o Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento de Moçambique (PDD), de que é hoje presidente.
Em entrevista à Lusa, Raul Domingos afirmou que as eleições gerais (presidenciais, legislativas e provinciais) de 28 de Outubro deste ano traduzem a abertura política pela qual a RENAMO lutou e negociou até à paz de 1992 na capital italiana.
Mas o multipartidarismo e as eleições até agora realizadas (três eleições gerais desde 1994), tal como o processo conducente ao próximo escrutínio, “estão longe dos padrões de democracia exigidos”.
“Naturalmente que este não é o país pelo qual negociei e sonhei. Gostaria de ter um país em que o multipartidarismo vingasse, os partidos tivessem igualdade de oportunidades na realização das suas tarefas político-partidárias e que o terreno fosse mais nivelado”, sublinhou o ex-número dois da Renamo.
A realidade política moçambicana, critica Raul Domingos, é caracterizada pela partidarização da função pública, onde a Frelimo montou células, e pelo controlo dos órgãos de comunicação social do sector público e das universidades públicas pelo partido no poder.
“Estou céptico em relação a esta forma de se fazer política, penso que nalgum momento tem de se pôr travão a isso, sob pena de conduzirmos o país ao monopartidarismo”, acrescentou o líder do PDD.
Para Raul Domingos, o actual quadro faz antever eleições gerais “não livres, nem transparentes, muito menos justas, pois a Frelimo tem aproveitado a oportunidade de fazer uso de recurso públicos”.
“O Estado de Direito não é uma realidade no país, os cidadãos não são todos iguais perante a lei e a divisão dos poderes não é clara. Não é esse o país que eu sonhei quando negociávamos a paz em Roma, pelo qual eu luto e acredito que um dia viveremos”, insistiu Raul Domingos.
Por outro lado, as divisões na oposição moçambicana, devido a ambições pessoais e interesses de grupo, também fragilizam a possibilidade de uma frente comum contra a hegemonia da Frelimo na cena política moçambicana, desde a proclamação da independência do pais em 1975, reconheceu o líder do PDD.
Escusando-se a avaliar o estágio actual do seu antigo partido, “por não interessar falar dos outros que estão na oposição”, Raul Domingos diz que a meta do PDD “é roubar votos à Frelimo, como forma de evitar o retorno ao monopartidarismo”.

( LUSA, citado em O País )

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