Monday 3 August 2009

McRoger bajula Guebuza

Na noite do dia 21 de Julho, através do programa Debate da Nação, da stv, os telespectadores aperceberam-se da falta de carácter do músico McRoger. Desrespeitou as regras do programa, destoando o debate. Por ignorância ou molequismo, disse que os Acordos de Roma foram assinados por Armando Guebuza. Quando corrigido, menosprezou Joaquim Chissano, dizendo que, apenas, rubricou. É um insulto ao ex-estadista moçambicano que, quanto se sabe, assegurou, com moderação, a transição para a democracia. McRoger atirou-se contra tudo e todos, num esforço diabólico, para agradar Armando Guebuza.
Para as crianças e McRoger, dizer que os Acordos de Roma foram assinados pelo então Chefe do Estado, Chissano, e pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, aos 04 de Outubro de 1992, sob a intermediação do estado italiano, comunidade de Sant’Egídio e Igreja Católica de Moçambique. Armando Guebuza e Raul Domingos eram chefes das delegações do governo e da Renamo, respectivamente. McRoger perdeu uma bela ocasião de ficar calado. Intitular-se exemplo de sucesso é, tão somente, falta de modéstia. McRoger tem talento, logo, não precisa de se pendurar aos ombros de Guebuza nem da primeira-dama, Maria da Luz, para ter visibilidade.
Não é por acaso que o McRoger tem, por vezes, estacionado a sua viatura em plena faixa de rodagem, suscitando comentários nada abonatórios a seu respeito, sob o olhar cúmplice da polícia que, ao invés de fazer respeitar a lei, põe-se a sorrir e a acenar-lhe a mão. A nossa polícia ainda não ouviu falar que Michael Jackson, que Deus o tenha em paz, uma vez ficou retido, pela polícia do seu país, por ter sido surpreendido a conduzir sem a devida carta de condução? Para se ser referência, não é preciso bajular. Basta esforçar-se para triunfar.
Em épocas eleitorais, músicos, media e pessoas notáveis, habitualmente, declaram seu apoio a candidato mais próximo dos seus ideais, aspirações e pontos de vista. Não há pecado nenhum nisso. As recentes eleições norte-americanas evidenciaram este facto. O ex-secretário de estado, Colin Powel, republicano de gema, anunciou seu apoio ao democrata Barack Obama. Quando a colagem vira um sério problema estomacal, o artista torna-se indigno da simpatia do público. Em geral, os artistas esforçam-se pela independência nas suas criações. McRoger é um caso atípico.
McRoger canta o patrão. Quando sai do palco almoça com o Chefe do Estado e é recebido, em salas nobres, por altas individualidades do governo. Ao contrário, Azagaia, situado no pólo oposto, canta o povo no poder. Depois do concerto, é convidado pela Procuradoria Geral da República, para trocar em quinhentas o conteúdo das suas canções, tomadas como subversivas. McRoger canta horizontal, enquanto Azagaia apela à verticalidade. O sucesso não se caracteriza por pôr gente a dançar marrabenta, mas, em consciencializar o povo para se bater por mudanças. Azagaia é uma fonte de inspiração da juventude inconformada.


Edwin Hounnou, em A TribunaFax de 29/07/09

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