Tuesday, 25 August 2009

ELEIÇÕES 2009 - MOÇAMBIQUE: A Campanha já mexe…


Beira (Canalmoz) - As proclamações não se fazem esperar e são de todo o tipo. Parece que os lagartos que estavam hibernando de repente foram sujeitos a uma operação de “acordar”. Mesmo os fósseis têm mensagens a transmitir. Fica a imagem de uma geração que não acredita nos seus continuadores, não deseja e jamais colocará o seu futuro em mãos alheias. E os supostos “delfins” sempre que há que apresentar serviço cometem erros inadmissíveis que lesam a imagem de seus partidos e chefes.
Temos de um lado um conjunto de individualidades pertencentes ao partido que tem estado no poder a aproveitar a ressaca da sua reunião do Comité Central, na Matola, para virem a público afirmar que serão os vencedores, claros, retumbantes e de tudo o que estiver em disputa a 28 de Outubro próximo. Até aí nada de errrado ou a questionar. Cada um tem o direito de dizer o que lhe apeteça ou lhe dê na gana apregoar. Também para gente que tem assitido ao que tem acontecido nos últimos anos no país não constitui surpresa que haja gente dizendo que vai ganhar tudo. Afinal são os mesmos que não ganhando coisa alguma fabricavam situações que lhes garantissem posições cimeiras.
Quem não se recorda de reuniões em que o único que era permitido dizer algo era o que fosse favorável aos orientadores de tal encontro?
Os PCA’s de empresas públicas e certas “privadas” devem ter sido especialmente convidados para essa reunião da Frelimo para receberem as últimas orientações sobre como proceder quanto a cedência de meios para o partido. Talvez tenha sido ensaiada ou decidida uma nova estratégia de uso dos recursos públicos detidos pelas empresas públicos com vista a contrariar a capacidade de fiscalizar que a oposição tem adquirido através dos tempos.
Não me admiraria que agora em vez de ceder carros se comprem os carros para o partido. Não me admira que desta vez se tenha decidido aumentar a contribuição dos próprios PCA’s para a campanha eleitoral e que tenham sido orientados a abrir mais os cordões da bolsa de “suas” empresas sem reclamar, e de forma diligente…
Na Era do partido único era assim que se procedia e nos dias de hoje pouca é a distância na maneira de estar e viver em relação àqueles dias.
O poder económico está cada vez mais concentrado nas mãos de um núcleo reduzido de pessoas e no domínio governamental temos um governo em que seu chefe é realmente todo-poderoso. Os ministros não passam de “paisagem”. São uns autênticos figurões no palco. Quem aparentemente decide, quem determina e quem aprova qualquer que seja o projecto é o chefe. Até a Primeira-ministra que em tempos queria aparecer foi positivamente ofuscada pela esposa do PR… “Cada macaco no seu galho” e que tenha muito juizinho quem queira brincar com o serviço!… Do outro lado, a oposição. Depois do descalabro de algumas candidaturas a PR parece que o campo está turvo e as lideranças confundidas sobre o próximo passo a dar. Será difícil termos ou vermos um cerrar fileiras entre os opositores. Será extremamente difícil vermos líderes da oposição aconselhando seus seguidores a votarem nos candidatos da oposição que sobraram depois da vassourada do Conselho Constitucional. Tudo indica que não vão ter o discernimento para se assumirem verdadeiramente como oposição ciente de que, de facto, o País precisa de mudança de liderança como nós precisamos de pão para a boca. Para que os fósseis se retirem e permita-se que o País finalmente dê o salto qualitativo de rejuvenescimento que falta vermos acontecer para que a auto-estima não passe de conversa fiada para fazer boi dormir.
A julgar pelo tom e conteúdo das primeiras manifestações de um dos candidatos pela oposição ao cargo de PR a natureza de algumas campanhas será de ataques pessoais e não aos programas. O populismo das proclamações e a escolha de temas que alegadamente agradam aos cidadãos votantes deixa antever algo que vai aquecer. Até é de considerar que se recorra à violência para impedir que os outros se manifestem.
Não me admira de que lado estará a Polícia da República (PRM) se tivermos em conta a histórias das últimas eleições. Outros partidos até já ensaiaram algumas manifestações de violência e de intolerância contra os demais, em alguns casos até estando eles na oposição. Decerto que não desistirão de suas práticas sempre que vejam ofuscada a sua mensagem.
Se os jovens não agarram isto para que Moçambique passe a ser o que desejam e os honre, muito se poderá deitar a perder a partir de agora. As mentiras e promessas falsas devem ser impedidas de prosseguir na esteira do costume e algo tem de ser feito para que a sociedade civil assuma de facto o poder em Moçambique.
O eleitorado não pode continuar a virar as costas às eleições.
Não ir às urnas significa permitir que certas coisas continuem a acontecer. E se nada se fizer para impedir que a violência regresse, ninguém vai ganhar com o que por aí virá. É fundamental agir para o que o Estado seja rejuvenescido. Ganhar é preciso. Voltar a perder, não! Só se o povo acordar é que poderá passar a ser respeitado.


(Noé Nhantumbo, CANALMOZ, 25/08/09)

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