Tuesday 18 August 2009

Eleições livres. Mas transparentes?

Em todos os 15 anos da história eleitoral em Moçambique que a oposição vem-se queixando de não estar a receber dos órgãos de administração das eleições o tratamento que lhe é devido, sendo essa a causa que agita como justificação das suas sucessivas derrotas.
Em alguns momentos tomámos essas reclamações como típicas da narrativa de quem nunca quer admitir a sua responsabilidade no insucesso, tentando atribuir culpas a outrem.
Mas precisamos de mudar de attitude, e começar a olhar para os processos eleitorais em Moçambique com olhos de quem tem benefícios a colher de um processo eleitoral íntegro, sujeito a uma fiscalização minuciosa desde o princípio até ao fim.
O nosso envolvimento em eleições não se pode reduzir a acordar cedo no dia da votação, ficar na fila até que chegue a nossa vez e depois ir tomar copos e comentar com os amigos. Precisamos de nos envolver mais a fundo, para que as eleições não sejam apenas livres e justas, mas para que acima de tudo sejam transparentes e íntegras.
E essa integridade e transparência não se pode esperar que sejam o fruto exclusivo do trabalho da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do seu braço executivo, o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE ), que como todos nós sabemos são compostos por seres humenos como nós, e que individualmente têm as próprias preferências eleitorais.
Desde os preparativos para o recenseamneto eleitoral, passando pelo registo eleitoral, as próprias eleições e contagem dos votos todos precisamos de estar vigilantes. Não sendo possível que todos os eleitores exerçam essa vigilância, poderia se esperar que eles o fizessem através do envolvimento activo dos partidos politicos que os representam , procurando a cada passo do processo inteirar-se detalhadamente das actividades que estão a ser realizadas.
Mas é isto que não aconteceu nos preparativos das eleições que estão marcadas para o dia 28 de Outubro deste ano, um processo totalmente conduzido à margem de todos os intervenientes, que como se sabe só começaram a emergir como cogumelos em tempo de chuva com o fim do aproximar do fim do prazo do seu registo na CNE.
É mesmo uma vergonha esta nossa classe política, a qual só não pedimos o seu banimento total para que a simulação de democracia no nosso país não desapareça para sempre.
Enquanto os partidos politicos moçambicanos estavam no gozo das suas ferias quinquenais , a CNE e o STAE conseguiram, fora da nossa vigilância colectiva, tomar uma decisão sobre o o sistema informático a ser usado no recenseamento eleitoral e sua actualização. Não se sabe se houve concurso público para a aquisição do referido equipamento, como mandam as regras sobre aquisições para as instituições do Estado, não se conhecendo também a identidade e os proprietários da empresa a quem a sorte foi bater à porta. E com este estado de coisas não fiquemos surpreendidos se um dia viermos a descobrir que a empresa que forneceu esse equipamento pertence a um dos candidatos, coisa que deveria ser expressamente proibida por lei.
Não se tem memória de alguma auditoria pública independente ter sido realizada em relação ao referido equipamento e respective software, não se sabendo se este é de fabrico caseiro ou seja o que for.
Pelo que fomos acompanhando ao longo da última actualização do recenseamento eleitoral, esse processo foi um fiasco, não se sabendo se propositado ou por falhas técnicas genuínas, típicas de um equipamento de qualidade e origem duvidosas.
Mesmo assim, e para serem consequentes com a sua atitude de despreocupação total em relação a processos onde deveriam prestar uma atenção especial, nenhum dos partuidos politicos veio a público questionar o STAE, quando este órgão afirma ter atingido, e em alguns casos até ultrapassado, a meta projectada para a actualização do recenseamento recentemente concluído.

( Editorial no Savana de 14/08/09, citado aqui )

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