Zimbabwe
O jornal The Zimbabwean cita Robert Mugabe como tendo publicamente reconhecido que os confrontos que abalaram as províncias da Matabelelândia Ocidental e Midlands pouco depois da proclamação da independência do Zimbabwe em Abril de 1980, marcaram “um triste período” na história do jovem país. Falando durante as exéquias do antigo vice-presidente, Joseph Msika, o líder da ZANU-PF admitiu que esses acontecimentos “nunca deveriam ter tido lugar”.
Antes, o primeiro-ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, havia apelado para a instauração de um Comissão da Verdade e Reconciliação para apurar responsabilidades pelos massacres naquelas duas províncias, e de outros casos de violação de direitos humanos ocorridos antes e depois da conquista da independência.
Mugabe, que até à data nunca assumiu responsabilidade directa pelo sucedido, nem tão pouco teve para com os familiares das vítimas uma simples palavra de conforto, defende que o povo do Zimbabwe deve “enterrar o passado”, esperando assim que os entes queridos das mais de 20,000 pessoas massacradas nas duas províncias, passem uma esponja sobre a memória dos anos da carnificina orquestrada pelo regime da ZANU-PF e executada a rigor pela 5ª Brigada do Exército Nacional do Zimbabwe (ZNA) no âmbito da Operação Gukurahundi.
O jornal The Zimbabwean cita Robert Mugabe como tendo publicamente reconhecido que os confrontos que abalaram as províncias da Matabelelândia Ocidental e Midlands pouco depois da proclamação da independência do Zimbabwe em Abril de 1980, marcaram “um triste período” na história do jovem país. Falando durante as exéquias do antigo vice-presidente, Joseph Msika, o líder da ZANU-PF admitiu que esses acontecimentos “nunca deveriam ter tido lugar”.
Antes, o primeiro-ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, havia apelado para a instauração de um Comissão da Verdade e Reconciliação para apurar responsabilidades pelos massacres naquelas duas províncias, e de outros casos de violação de direitos humanos ocorridos antes e depois da conquista da independência.
Mugabe, que até à data nunca assumiu responsabilidade directa pelo sucedido, nem tão pouco teve para com os familiares das vítimas uma simples palavra de conforto, defende que o povo do Zimbabwe deve “enterrar o passado”, esperando assim que os entes queridos das mais de 20,000 pessoas massacradas nas duas províncias, passem uma esponja sobre a memória dos anos da carnificina orquestrada pelo regime da ZANU-PF e executada a rigor pela 5ª Brigada do Exército Nacional do Zimbabwe (ZNA) no âmbito da Operação Gukurahundi.
A 5ª Brigada em Moçambique
Treinada por instrutores militares oriundos da Coreia do Norte, a 5ª Brigada do ZNA foi desdobrada nas duas províncias zimbabweanas numa altura em que Mugabe se propunha destruir o principal partido da oposição no país, a ZAPU de Joshua Nkomo, cuja base de apoio eram os ndebeles da Matabelelândia e de Midlands.
Essa unidade do exército zimbabweano chegou a operar em Moçambique durante a guerra civil que opôs a guerrilha da Renamo ao regime do Partido Frelimo. Uma das ocasiões em que a 5ª Brigada do ZNA interveio no nosso país foi para tomar parte na Operação Cabana que decorreu entre os finais de 1982 e princípios de 1983, nas províncias de Inhambane, Gaza, Manica e Sofala.
A Operação Cabana tinha como objectivo desferir um golpe fatal sobre a guerrilha da Renamo, tendo o regime de Samora Machel empenhado meios nunca dantes vistos no teatro de guerra. A Operação Cabana, que ditaria o curso da guerra civil moçambicana, contou com assessores soviéticos nas fases de planeamento e execução. Segundo declarou Machel na altura, foram desdobrados no terreno cerca de 10,000 homens. Tratou-se da primeira operação semi-convencional lançada pelas Forças Armadas de Moçambique-FPLM, ao contrário de outras que haviam sido executados contra a guerrilha da Renamo desde o início do conflito, e que se pautaram pelo uso de tácticas tipicamente convencionais e que se revelaram ineficazes como esforço de contra-subversão. Com efeito, a Operação Cabana recorreu à utilização de grupos de pseudo-guerrilheiros cuja missão era o reconhecimento de posições da Renamo para que os postos de comando avançados das FAM-FPLM interviessem num mais curto espaço de tempo. Trajando à civil e fazendo-se passar entre as populações civis como membros da Renamo, a unidade de pseudo-guerrilheiros havia sido treinada por instrutores das forças especiais soviéticas, as Spetsnaz.
A missão da 5ª Brigada do ZNA no âmbito da Operação Cabana foi a de impor um cordão de segurança a norte do Rio Save, tendo para o efeito forças dessa unidade zimbabweana sido desdobradas nas províncias de Manica e Sofala. Desenvolveram acções de assalto contra bases da Renamo em Jambe, Dombe, Chibabava e Chitaússe, arrasando todos os vestígios de vida humana e actividade agrícola que lhe surgiam pela frente. Era seu objectivo pôr a guerrilha em debandada em direcção à fronteira com o vizinho Zimbabwe.
A faixa fronteiriça Pafúri-Espungabera, entre Moçambique e o Zimbabwe, foi selada por unidades da 1ª Brigada do ZNA, cujo quartel-general era em Masvingo. Essas unidades foram coadjuvadas pela 4ª Brigada do ZNA estacionada em Gonarezhou. Na parte moçambicana da faixa Pafúri-Espungabera o regime do Partido Frelimo havia criado uma chamada “zona de matança”, depois de ter procedido à transferência forçada de famílias inteiras de camponeses que aí residiam. Era objectivo dos que haviam concebido a Operação Cabana, encurralar os guerrilheiros da Renamo nessa zona, à medida que, a par das operações a norte do Rio Save, tropas fiéis ao regime, provenientes da 1ª e 8ª Brigadas Motorizadas, da 1ª Brigada Mecanizada, da 6ª Brigada de Tanques e das 2ª e 5ª Brigadas das Tropas de Guarda-Fronteira (TGF) das FAM-FPLM procediam a operações de limpeza nas províncias de Inhambane e Gaza.
Caberia às 1ª e 2ª Brigadas das TGF a função de aniquilar tudo quanto se movimentasse na já referida “zona de matança” formada pelo triângulo Pafúri-Massangena-Espungabera, cumprindo assim as orientações do comandante-em-chefe, que, em Chibuto em Fevereiro de 1983, afirmava que “aqueles que levam informação e comida ao bandido, ou que tenham algo a ver com o bandido, devem morrer com o bandido.” Por outras palavras, vociferou o Marechal da República, “no campo de batalha, a ideia é matar. A nossa missão não é de ferir, mas de matar”.
A seca então prevalecente no sul de Moçambique jogou a favor dos estrategas da Operação Cabana na medida em que isso facilitava a movimentação das suas tropas e a fácil detecção da guerrilha no terreno. A queda da base provincial da Renamo em Mabyli a 23 de Agosto de 1982 assinalou o início da gigantesca operação militar do regime do Partido Frelimo. Apercebendo-se das intenções de quem havia meticulosamente planeado a Operação Cabana, e tendo interpretado o objectivo por detrás da evacuação forçada da população civil do triângulo Pafúri-Massangena-Espungabera, o Estado-Maior da Renamo, numa manobra clássica de diversão, optou por furar o cerco que lhe havia sido montado. Com efeito, em vez de contra-atacar as forças do regime em cada momento da Operação Cabana, a guerrilha, nas províncias de Gaza e Inhambane iniciou uma marcha para Sul, e de forma dispersa transpôs o cordão de segurança edificado pelas FAM-FPLM. A norte do Rio Save, a guerrilha dispersava, evitando o contacto directo com as unidades governamentais apoiadas pela 5ª Brigada do ZNA.
Do fiasco de Nkomati à intervenção militar estrangeira
Uma das consequências imediatas da Operação Cabana foi a de provocar o alastramento da guerrilha até às portas da capital moçambicana. E uma vez terminada, sem sucesso, essa operação, a guerrilha voltou a ser reactivada nas zonas designadas como teatro de guerra da Operação Cabana. Esta operação assinalou o ponto de viragem da guerra civil moçambicana, tendo forçado o regime a apostar numa maior intervenção de contingentes estrangeiros no conflito depois do fracasso diplomático de Nkomati em Março de 1984.
A intervenção maciça de unidades especiais do ZNA e das Forças Populares de Defesa da Tanzânia (TPDF), apoiadas por meios aéreos, a partir de 1985, resultou em grandes fluxos populacionais internos e externos, que tinham como objectivo fundamental privar a guerrilha da sua base natural de apoio. Perante a opinião pública mundial, o regime de Maputo esforçou-se por apresentar a condição de deslocados e refugiados a que haviam sido forçados milhares de moçambicanos como sendo o resultado directo, não dessa estratégia militar, mas antes corolário da acção da guerrilha.
A emprestar credibilidade ao maquiavelismo do regime, surgiram os Estados Unidos que através do seu Departamento de Estado contrataram Robert Gersony para elaborar um relatório cujas linhas mestras eram em tudo coincidentes com aquilo que vinha sendo propalado a partir de Maputo.
Servindo-se de um funcionário recrutado entre os quadros da USAID na capital moçambicana, que passou a desempenhar as funções de “intérprete no terreno”, Gersony movimentava-se com inaudita facilidade por entre os corredores do poder, que lhe franqueava o acesso a elementos sob sua custódia – o mesmo repetir-se-ia no Zimbabwe – para finalmente trazer a público, com o beneplácito do «Bureau of African Affairs», um “estudo” flagrantemente faccioso, pago a peso de ouro pelo erário público norte-americano, e cuja nota dominante era a de responsabilizar a guerrilha por uma calamidade que outros haviam deliberadamente provocado, e que afectava para cima de 1 milhão de moçambicanos.
( CANAL DE MOÇAMBIQUE – 19.08.2009, citado em www.macua.blogs.com )
Uma das consequências imediatas da Operação Cabana foi a de provocar o alastramento da guerrilha até às portas da capital moçambicana. E uma vez terminada, sem sucesso, essa operação, a guerrilha voltou a ser reactivada nas zonas designadas como teatro de guerra da Operação Cabana. Esta operação assinalou o ponto de viragem da guerra civil moçambicana, tendo forçado o regime a apostar numa maior intervenção de contingentes estrangeiros no conflito depois do fracasso diplomático de Nkomati em Março de 1984.
A intervenção maciça de unidades especiais do ZNA e das Forças Populares de Defesa da Tanzânia (TPDF), apoiadas por meios aéreos, a partir de 1985, resultou em grandes fluxos populacionais internos e externos, que tinham como objectivo fundamental privar a guerrilha da sua base natural de apoio. Perante a opinião pública mundial, o regime de Maputo esforçou-se por apresentar a condição de deslocados e refugiados a que haviam sido forçados milhares de moçambicanos como sendo o resultado directo, não dessa estratégia militar, mas antes corolário da acção da guerrilha.
A emprestar credibilidade ao maquiavelismo do regime, surgiram os Estados Unidos que através do seu Departamento de Estado contrataram Robert Gersony para elaborar um relatório cujas linhas mestras eram em tudo coincidentes com aquilo que vinha sendo propalado a partir de Maputo.
Servindo-se de um funcionário recrutado entre os quadros da USAID na capital moçambicana, que passou a desempenhar as funções de “intérprete no terreno”, Gersony movimentava-se com inaudita facilidade por entre os corredores do poder, que lhe franqueava o acesso a elementos sob sua custódia – o mesmo repetir-se-ia no Zimbabwe – para finalmente trazer a público, com o beneplácito do «Bureau of African Affairs», um “estudo” flagrantemente faccioso, pago a peso de ouro pelo erário público norte-americano, e cuja nota dominante era a de responsabilizar a guerrilha por uma calamidade que outros haviam deliberadamente provocado, e que afectava para cima de 1 milhão de moçambicanos.
( CANAL DE MOÇAMBIQUE – 19.08.2009, citado em www.macua.blogs.com )
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