Beira (Canalmoz) – Era dia de semana, mas a Beira parou para celebrar o 1.º Aniversário do 28 de Agosto de 2008, que ficou para a história como o dia em que as bases da Renamo se revoltaram contra a liderança do seu partido, por ter apontado Manuel Pereira como candidato à sucessão de Daviz Simango no cargo de presidente do Município da Beira. A Frelimo passou a cantar vitória e a anunciar que o desmoronamento da Renamo era o garante da vitória antecipada do seu candidato. Abriram-se centenas de garrafas de champanhe. Espalhou-se um sentimento de vitória na Frelimo que dificilmente se poderia admitir que alguém pudesse virar o sentido dos acontecimentos.
Nada mais se admitia possível que não fosse a vitória do então secretário provincial da Frelimo, Lourenço Bulha, indicado como candidato a render o até então edil da capital de Sofala que fora eleito a primeira vez, proposto pelo partido liderado por Afonso Dhlakama.
Do dia 28 de Agosto de 2008 em diante a política em Moçambique numa mais foi a mesma coisa. Um movimento informal cedo se formou e em meia dúzia de dias organizou-se e foi a tempo de inscrever Daviz como candidato independente.
Concorreu e venceu com larga margem. Não tinha partido. Foi proposto pelo Grupo de Reflexão e Mudança, uma organização cívica de munícipes.
Os eleitores deram-lhe cerca de 63% dos votos.
Na última sexta-feira, numa marcha em que tomou parte o Eng. Daviz Simango, a cidade da Beira viu-se invadida por uma apreciável moldura humana que caminhou por algumas das suas artérias. Celebrou-se o primeiro aniversário do que já ficou para a história sob a designação de “Revolução de 28 de Agosto de 2008”.
Depois disso veio o Movimento Democrático de Moçambique que se formalizou como organização legalmente constituída para discutir a vida do País.
Havia e há motivo para comemorar se tivermos em conta que o 28 de Agosto foi o despoletar de toda uma série de acções que culminou com a criação do MDM.
Este partido, ao tomar-se em consideração o que tem sido as reacções de seus opositores, veio fazer alguma, senão muita, diferença no panorama político nacional.
As referências ou acções de membros da Frelimo em Gaza, durante a recente visita efectuada pela liderança do MDM a Xai-Xai, mostram que existe uma tendência de feroz intolerância de algumas das forças políticas moçambicanas. Ciúme.
Há uma tentativa de molestar quem não conjuga o verbo Frelimo e isso pode provocar fricções cuja direcção se pode tornar incontrolável. O MDM, o que vale, é uma organização que se afirma não violenta.
O uso de agentes provocadores para intimidar os outros pode receber resposta do mesmo tipo e envenenar as eleições que se avizinham se os nervos se vierem a exaltar, o que de todo será conveniente evitar-se.
A comemoração do 28 de Agosto na Beira mostrou que existe firmeza nas hostes do MDM em avançar com o seu projecto. Será, no entanto, recomendável que os outros se mantenham calmos e evitem violência. Os eleitores precisam de tranquilidade para poderem escolher quem querem que governe o País e quem o represente na Assembleia da República e nas assembleias provinciais.
O aniversário do 28 de Agosto de 2008 veio mostrar ao mundo que Moçambique é um País que quer mudar, de facto e está farto de mudanças cosméticas.
As forças do passado monolítico dizem que são democráticas mas no momento da verdade optam por caminhos que não são nada democráticos. A violência e a falta de civismo mostram bem que têm muito verniz que lhes cai em momentos cruciais.
Esperemos que os partidos abram os olhos e compreendam que a única possibilidade é a tolerância mútua e a aceitação prática de que o país é de todos e não um cativo de determinadas figuras.
O que o 28 de Agosto significa já era esperado há muito pelos moçambicanos. Aconteceu que se deu crédito a quem o tem e se pôs termo a quem quer decidir sozinho pelos outros.
Há erros que se comentem em processos políticos. Erros pagam-se. E quem os comete deve aceitar as consequências. É de esperar, contudo, que quem vê os seus erros serem-lhe cobrados saiba manter uma postura e atitude cívica elevada. É necessário que haja abertura e não se diga apenas que se é contra a violência.
Entre os políticos e respectivas formações políticas é preciso que haja civismo e se pratique a não violência. É indispensável que se deixe trabalhar os outros, sem provocações de baixo nível.
Quem não teme, tolera. Quem é realmente democrático, tolera. Quem teme precisa de recorrer a meios obscuros para fazer valer suas ideias e posições.
Uma coisa parece por demais evidente. Os moçambicanos já experimentaram que a mudança é possível. Na Beira viram que a mudança foi possível. Em muitas partes do País acredita-se que é possível.
Mesmo os papagaios de determinados partidos políticos já se aperceberam de que as coisas jamais serão como antes...
( Noé Nhantumbo, CANALMOZ, 31/08/09 )