O processo de passagem da presidência da SADC para Armando Guebuza, de Moçambique, passou quase ao lado do ponto de vista de projecção nos principais órgãos de comunicação social da África Austral e do mundo. O massacre sul-africano foi o principal destaque.
Terminou no último sábado a 32ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), um evento que ficou ofuscado pelo massacre de mais de 40 mineiros junto à mina de platina de Marikana, a cerca de 100 quilómetros de Joanesburgo.
A chacina promovida pela polícia sul-africana levou, sexta-feira última, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, a interromper a sua participação na cimeira e regressar ao seu país para acompanhar de perto o evoluir da situação daquele que é tido como sendo o maior massacre depois do fim do regime de segregação racial, vulgo Apartheid.
Tendo em conta que a cimeira tinha como pano de fundo o papel dos corredores de desenvolvimento na integração regional, a retirada de Zuma da cimeira acabou esvaziando o tema, tendo em conta que a África do Sul é, neste momento, a maior economia da SADC e qualquer estratégia nesse sentido depende muito da aprovação e parecer sul-africano.
A este dado, junta-se também o facto de o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, não ter vindo a Maputo e, em seu lugar, ter enviado o seu vice-presidente, Fernando Dias, por sinal uma figura que não fará parte do núcleo duro do poder de Angola nos próximos anos, já que não consta dos lugares cimeiros da lista apresentada pelo Movimento Popular para a Libertação da Angola (MPLA) às eleições de 31 de Agosto. É que, para além de certa a vitória do MPLA nas referidas eleições, o cargo de vice-presidente será ocupado por Manuel Vicente, actual ministro de Estado e de Coordenação Económica.
De acordo com estudos económicos, a economia angolana será uma das mais importantes de África com a posssibilidade de vir a suplantar a África do Sul dentro de uma década. Ou seja, não se pode falar de corredores de desenvolvimento na SADC sem a presença dos principais líderes das economias mais pujantes da região, no caso vertente, Angola e África do Sul.
O QUE os PRESIDENTES DEBATERAM?
Tendo o principal tema da cimeira caído em “saco roto”, os estadistas voltaram para aquilo que foi sempre a matriz destes encontros: discutir política e nunca chegar a resultados palpáveis, senão vejamos:
Em relação à crónica crise política no Zimbabwe, não foi tomada nenhuma posição de força apenas ouviu-se o já habitual “encorajamento” e “apelo ao diálogo” à Zanu-PF de Robert Mugabe e ao MDC de Morgan Tsvangirai. Diferente disto não seria de esperar tendo em conta também ao facto de o mediador da crise mandatado pela SADC, Jacob Zuma, ter abandonado cedo a cimeira para se dedicar à política interna do seu país, na sequência do massacre. Do ponto de vista político, Mugabe sai de Maputo fortalecido, uma vez que nada de substancial foi feito contra o seu desejo de organizar, ainda este ano, eleições mesmo sem uma nova constituição. O líder do MDC, Morgan Tsvangirai, acaba sendo o derrotado, visto que defende um referendo e entrada em vigor de um novo texto constitucional para a realização de eleições.
José Belmiro, O País
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