Friday, 31 August 2012

EDITORIAL

CONTRA todas as expectativas, face aos receios da transferência do recinto da Feira Internacional de Maputo (FACIM), do centro da capital do país para a região de Ricatla, cerca de 30 quilómetros do centro da cidade de Maputo, a exposição regista pelo segundo ano consecutivo uma concorrência digna de assinalar.
Decorrendo na sua quadragésima oitava edição, a FACIM 2012 inscreveu, no total, 1800 empresas contra 1678 registadas em 2011. A participação oficial estrangeira na edição deste ano tem a presença de dezanove países, mais um que no ano passado.
Os empresários nacionais e estrangeiros que participam no evento, terão certamente, ganhos a colher, a julgar pelas oportunidades de investimentos expostos nos diversos stands. Este ano, há também a assinalar a presença razoável de empresas que operam no sector de hidrocarbonetos e carvão.
O facto não causa estranheza, sobretudo a avaliar pelo cenário favorável aos negócios que o país apresenta e ainda os desenvolvimentos recentes na área dos recursos naturais. Na verdade, Moçambique tornou-se em 2004, no maior produtor de gás natural na África Austral e as reservas identificadas até agora são de cerca de 170 triliões de pés cúbicos (TCF), o que coloca o nosso país entre os 10 com maiores jazidas no mundo. O país possui igualmente, dos maiores depósitos universais de carvão mineral.
Para manter um ambiente favorável aos negócios e aos investimentos, o país propôs-se atingir objectivos ambiciosos para 2012, que passam pelo alcance de uma taxa de crescimento real da economia em torno dos 7,5 por cento e de uma taxa de inflação média anual de 7,2 por cento.
Todavia, no cenário internacional existe, de entre vários constrangimentos, o risco da volatilidade dos preços de algumas mercadorias com provável impacto nos preços domésticos de produtos alimentares e energéticos, ameaçando os objectivos de crescimento definidos.
A contínua crise da dívida soberana nos países da Zona Euro, com impacto na volatilidade dos mercados financeiros e no fraco desempenho das economias daquela região e pelo efeito contágio à escala global, não obstante os sinais de recuperação da economia americana, apresenta-se também como outra ameaça.
Estes e outros elementos exigem uma reflexão sobre como Moçambique se pode desenvolver com um crescimento inclusivo.
Julgamos que o “boom” que se regista no sector dos recursos minerais lança ao país o desafio de fazer com que as receitas provenientes da exploração gerem reservas e oportunidades para o desejado desenvolvimento.
Mais do que uma oportunidade para se fazer negócios, a FACIM deve ser catalizador de parcerias entre as multinacionais e as empresas nacionais para que estas também possam tirar proveito da exploração dos recursos.
Um dos grandes despiques para o Governo é garantir que a exploração dos recursos não renováveis, seja feita de forma sustentável e se traduza no desenvolvimento económico, em que a formação de mão-de-obra especializada, a geração de emprego, o desenvolvimento de infra-estruturas, o fortalecimento do empresariado nacional sejam prioridade.
O sucesso da FACIM contribui para o desenvolvimento de Moçambique, porque concorre para aumentar a demanda de diversos produtos que podem ser gerados com a utilização de recursos como o gás natural, por exemplo. Referimo-nos a produtos como fertilizantes, combustíveis líquidos sintéticos, produtos da indústria metalúrgica ou metalomecânica, só para citar alguns exemplos.
O sector privado em geral e a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), também tem o dever de estabelecer as sinergias necessárias e possíveis entre as empresas nacionais e estrangeiras fora da indústria extractiva para assegurar a produção de bens e serviços necessários à economia.
O Governo e o sector privado devem também aproveitar os vários encontros realizados na feira para o diálogo orientado para a criação de oportunidades para que as micro, pequenas e médias empresas tenham a possibilidade de prestar serviços e fornecer produtos aos megaprojectos.
De igual modo, mesmo reconhecendo que as novas instalações da FACIM estão a beneficiar de melhoramentos em termos de infra-estruturas, somos de opinião que o sonho de se adequar o actual recinto aos parâmetros de uma feira de dimensão internacional, com um pavilhão multiuso, requer uma permanente determinação.

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