“No país dos ‘my love’ ainda não se chegou totalmente à paz” é o título de uma longa reportagem do jornal português “Público”, editado em Lisboa. A reportagem fala dos recuos e avanços no processo de desenvolvimento e de construção de Moçambique como Estado nos últimos 40 anos. A equipa de repórteres do jornal português constatou, com a ajuda de economistas moçambicanos entrevistados, que, apesar dos bons resultados macro-económicos que Moçambique apresenta, ainda há grandes deficiências de serviços públicos básicos. E um deles é o transporte urbano.
Eis a narração da imprensa portuguesa:
“As avenidas que dão acesso aos bairros periféricos enchem-se de automóveis e de transportes públicos como os chapas (mini vans), tão cheios de gente que os corpos se encavalitam lá dentro.
Os autocarros públicos quase não se vêem. Em meados de Maio, a Empresa Municipal de Transporte Público colocou cerca de 20 autocarros em circulação, aumentando a sua capacidade para 30 mil passageiros diários (…), mas, com mais de um milhão de habitantes, a cidade de Maputo precisaria de muito mais. Em 2008 e 2010 houve até greves por causa do aumento do preço dos transportes.
A face mais visível da deficiência de transportes é a proliferação dos “my love”, carrinhas de caixa aberta para onde se trepa e se vai de pé, agarrado ao passageiro do lado, por isso se chamam assim, seguindo a lógica do “agarra senão cai”. Só o nome é que tem humor, porque lá em cima, onde há vários tipos de pessoas, do camponês ao engravatado, da estudante universitária à vendedora ambulante, a segurança é zero.
Numa esquina de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, um monte de gente espera a passagem deste transporte público. À medida que o condutor pára, lá de cima grita-se o destino. Gente mais nova e gente mais velha, homens e mulheres. A esta hora é “um caos para apanhar transporte”, explica Hanifa, camisa branca e lenço ao pescoço, estudante de ciência política. Mora a 10 minutos de casa indo de “my love”. Se tivesse que apanhar transporte, demorava muito mais, pois as rotas e as paragens atrasam o percurso.
Subimos para a carrinha a abarrotar, encaixados e esmagados, agarrando-nos ao ombro da mulher do lado como vimos os outros fazer. Entra poeira na carrinha. O calor, que nesta altura do ano é menos forte, pois estamos em Maio, aumenta. “‘My love’ porque aqui dentro todos nos abraçamos, somos todos amor, temos medo de cair!”, explica Hanifa. “É uma questão de segurança, se me abraço estou segura”. Mas se o motorista trava de repente, não há corpo que a segure, só corpo que a ampare, e por vezes mal.
Dependendo do trajecto, paga-se sete a dez meticais ao motorista. O motorista que guia a carrinha onde agora vamos começou a fazer “my love” há oito meses: aproveitava que ia trabalhar ao final do dia e levava pessoal, muito por solidariedade, explica. Ajuda-o hoje nas contas porque consegue entre 280 a 300 meticais (entre 7 e 7,5 euros). “Estes carros andavam na zona rural, não aqui na cidade”, lembra, explicando que funcionavam como espécie de boleias. Só paga quem quer. Quem não quer, pode sair e entrar sem ser notado porque o condutor mal vê quem transporta”.
Sobre a economia em si, o jornal confirma que o sector informal é um dos pilares da economia moçambicana, ao calcular que emprega entre 70 a 85% da população.
Segundo o jornal, há uma prosperidade que se vê nas ruas, onde circulam carros, muitos deles topo de gama, que entopem as avenidas e artérias que dão acesso ao centro; vê-se nos prédios de dezenas de andares a serem construídos, nas lojas de marcas internacionais a abrirem, nos centros comerciais e restaurantes com gente, estrangeiros e moçambicanos. São a face visível da economia formal.
Um economista entrevistado pelo jornal diz que o crescimento não se tem reflectido numa redução da pobreza, na melhoria da qualidade dos serviços públicos, o que acaba por afectar o desenvolvimento do país.
A reportagem diz que o grande objectivo é a paz, que está refém dos entendimentos entre os dois ex-beligerantes: a Frelimo e Renamo.
(Redacção com Eugénio da Câmara, Canalmoz)
Os autocarros públicos quase não se vêem. Em meados de Maio, a Empresa Municipal de Transporte Público colocou cerca de 20 autocarros em circulação, aumentando a sua capacidade para 30 mil passageiros diários (…), mas, com mais de um milhão de habitantes, a cidade de Maputo precisaria de muito mais. Em 2008 e 2010 houve até greves por causa do aumento do preço dos transportes.
A face mais visível da deficiência de transportes é a proliferação dos “my love”, carrinhas de caixa aberta para onde se trepa e se vai de pé, agarrado ao passageiro do lado, por isso se chamam assim, seguindo a lógica do “agarra senão cai”. Só o nome é que tem humor, porque lá em cima, onde há vários tipos de pessoas, do camponês ao engravatado, da estudante universitária à vendedora ambulante, a segurança é zero.
Numa esquina de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, um monte de gente espera a passagem deste transporte público. À medida que o condutor pára, lá de cima grita-se o destino. Gente mais nova e gente mais velha, homens e mulheres. A esta hora é “um caos para apanhar transporte”, explica Hanifa, camisa branca e lenço ao pescoço, estudante de ciência política. Mora a 10 minutos de casa indo de “my love”. Se tivesse que apanhar transporte, demorava muito mais, pois as rotas e as paragens atrasam o percurso.
Subimos para a carrinha a abarrotar, encaixados e esmagados, agarrando-nos ao ombro da mulher do lado como vimos os outros fazer. Entra poeira na carrinha. O calor, que nesta altura do ano é menos forte, pois estamos em Maio, aumenta. “‘My love’ porque aqui dentro todos nos abraçamos, somos todos amor, temos medo de cair!”, explica Hanifa. “É uma questão de segurança, se me abraço estou segura”. Mas se o motorista trava de repente, não há corpo que a segure, só corpo que a ampare, e por vezes mal.
Dependendo do trajecto, paga-se sete a dez meticais ao motorista. O motorista que guia a carrinha onde agora vamos começou a fazer “my love” há oito meses: aproveitava que ia trabalhar ao final do dia e levava pessoal, muito por solidariedade, explica. Ajuda-o hoje nas contas porque consegue entre 280 a 300 meticais (entre 7 e 7,5 euros). “Estes carros andavam na zona rural, não aqui na cidade”, lembra, explicando que funcionavam como espécie de boleias. Só paga quem quer. Quem não quer, pode sair e entrar sem ser notado porque o condutor mal vê quem transporta”.
Sobre a economia em si, o jornal confirma que o sector informal é um dos pilares da economia moçambicana, ao calcular que emprega entre 70 a 85% da população.
Segundo o jornal, há uma prosperidade que se vê nas ruas, onde circulam carros, muitos deles topo de gama, que entopem as avenidas e artérias que dão acesso ao centro; vê-se nos prédios de dezenas de andares a serem construídos, nas lojas de marcas internacionais a abrirem, nos centros comerciais e restaurantes com gente, estrangeiros e moçambicanos. São a face visível da economia formal.
Um economista entrevistado pelo jornal diz que o crescimento não se tem reflectido numa redução da pobreza, na melhoria da qualidade dos serviços públicos, o que acaba por afectar o desenvolvimento do país.
A reportagem diz que o grande objectivo é a paz, que está refém dos entendimentos entre os dois ex-beligerantes: a Frelimo e Renamo.
(Redacção com Eugénio da Câmara, Canalmoz)
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