Muitas pessoas afirmam não
conseguirem compreender a razão do permanente impasse no processo de diálogo
entre o Governo e a Renamo no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Ora a
mim a razão parece-me bastante clara. Trata-se de um jogo de poder em que nenhum dos lados quer ceder perante o outro.
Por um lado temos o poder do partido Frelimo que se
manifesta através do seu controlo absoluto sobre a totalidade do Estado, desde os
orgãos do executivo aos do legislativo e do judicial.
Por outro lado temos o contra-poder da Renamo que
se manifesta através dos homens armados que mantém, em prontidão combativa, e
que podem causar uma muito séria desestabilização do país.
E nenhuma das partes parece com vontade de desistir
das suas vantagens.
Numa altura em que estavamos pertíssimo de começar,
de novo, aos tiros, o Governo assinou um memorando sobre a despartidarização do
Estado.Mas, diminuida a tensão, o partido Frelimo (ou quem manda neste momento
no partido Frelimo) deu ordens para fazer marcha atrás e congelar esse
documento, na medida em que ele punha em causa algum do poder que mantém sobre
o Estado.
Pelo seu lado a Renamo, enquanto o Estado continuar
capturado pelo partido Frelimo, não abdica de manter a sua força de pressão
militar/
psicológica e não entrega a lista dos seus homens
armados. Não diz quem são nem sequer quantos são ou onde estão. Sem confiança
no Governo, não aceita integrar os seus homens nas forças armadas, com receio
de que eles sejam colocados em posições de nenhum poder militar real, passando
a ser meros ornamentos (eventualmente bem pagos) mas sem capacidade de
contrariar as ordens do partido Frelimo.
E assim, batendo duro contra duro, vão saindo
faiscas mas não vamos ter, nunca, uma paz
definitiva e sustentável.
Só teremos paz com uma despartidarização efectiva
do aparelho de Estado. Quando os cidadãos
acreditarem que as instituições estão ali para servir igualmente a todos e não
a uma pequena camada que se esconde por trás do seu cartão vermelho.
Quando a Renamo confiar em que pode desarmar os
seus homens sem correr o risco de ser
esmagada no dia seguinte pelas forças de defesa
e segurança ao serviço do partido Frelimo.
E isso, infelizmente, não parece estar para
breve...
Machado da Graça, Savana
17-07-2015
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