Friday, 24 July 2015

Despartidarização e desmilitarização

Muitas pessoas afirmam não conseguirem compreender a razão do permanente impasse no processo de diálogo entre o Governo e a Renamo no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Ora a mim a razão parece-me bastante clara. Trata-se de um jogo de poder em que nenhum dos lados quer ceder perante o outro.
Por um lado temos o poder do partido Frelimo que se manifesta através do seu controlo absoluto sobre a totalidade do Estado, desde os orgãos do executivo aos do legislativo e do judicial.
Por outro lado temos o contra-poder da Renamo que se manifesta através dos homens armados que mantém, em prontidão combativa, e que podem causar uma muito séria desestabilização do país.
E nenhuma das partes parece com vontade de desistir das suas vantagens.
Numa altura em que estavamos pertíssimo de começar, de novo, aos tiros, o Governo assinou um memorando sobre a despartidarização do Estado.Mas, diminuida a tensão, o partido Frelimo (ou quem manda neste momento no partido Frelimo) deu ordens para fazer marcha atrás e congelar esse documento, na medida em que ele punha em causa algum do poder que mantém sobre o Estado.
Pelo seu lado a Renamo, enquanto o Estado continuar capturado pelo partido Frelimo, não abdica de manter a sua força de pressão militar/
psicológica e não entrega a lista dos seus homens armados. Não diz quem são nem sequer quantos são ou onde estão. Sem confiança no Governo, não aceita integrar os seus homens nas forças armadas, com receio de que eles sejam colocados em posições de nenhum poder militar real, passando a ser meros ornamentos (eventualmente bem pagos) mas sem capacidade de contrariar as ordens do partido Frelimo.
E assim, batendo duro contra duro, vão saindo faiscas mas não vamos ter, nunca, uma paz definitiva e sustentável.
Só teremos paz com uma despartidarização efectiva do aparelho de Estado. Quando os cidadãos acreditarem que as instituições estão ali para servir igualmente a todos e não a uma pequena camada que se esconde por trás do seu cartão vermelho.
Quando a Renamo confiar em que pode desarmar os seus homens sem correr o risco de ser esmagada no dia seguinte pelas forças de defesa e segurança ao serviço do partido Frelimo.
E isso, infelizmente, não parece estar para breve...




Machado da Graça, Savana 17-07-2015

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