A 18 de Dezembro de 1978, um telegrama “confidencial” relata o encontro entre as autoridades de Moçambique e os bispos católicos e que contou com a presença de todos os governadores provinciais.Segundo o mesmo aerograma, Sérgio Vieira, chefe de gabinete de Samora Machel que desempenhava na altura funções de governador do Banco de Moçambique, presidiu à reunião, acusando directamente os católicos de terem desempenhado o papel de “arma do colonialismo” e apontando o carácter contra revolucionário da igreja face aos princípios políticos que norteavam a República Popular de Moçambique comunicando novas medidas.“Todos os edifícios religiosos, incluindo respectivo recheio passariam a ser propriedade do Estado moçambicano; todos os actos de culto e catequese seriam doravante confinados ao interior dos templos; seria proibida a circulação de todo e qualquer documento eclesiástico sem aprovação prévia das autoridades moçambicanas", refere Sérgio Vieira, citado no telegrama.O mesmo dirigente da Frelimo comunica também que "seria proibida a constituição ou manutenção pela igreja de qualquer espécie de associação ou organização, que seria proibida a realização de manifestações públicas, bem como reuniões fora dos templos, não devendo os sacerdotes ir ao encontro dos fiéis mas apenas recebe-los quando procurados por eles" e que "seria proibida a realização de ataques e críticas à doutrina marxista-leninista”, informa a embaixada na mesma transmissão a partir de Maputo.Segundo o telegrama 1036/1978, a reação dos bispos teria sido de “estupefacção”, mas, apesar de tudo, a sensação que ficou entre os presentes foi que as medidas anunciadas por Sérgio Vieira nunca seriam publicadas “por óbvias razões de imagem política”, principalmente externa.Em todo o caso, mesmo sem publicar as normas, os responsáveis religiosos, refere a embaixada, jamais poderiam invocar “ignorância” porque os governadores provinciais, presentes na reunião, poderiam exercer pressão junto dos sacerdotes.“Informações que nos têm chegado indicam estarem muitos padres presos ou colocados sob residência fixa por motivos fúteis, prevalecendo a ideia de que o governo quer subjugar completamente a igreja católica”, vinca o telegrama da embaixada de Portugal sobre as relações entre a igreja e a FRELIMO três anos após a independência de Moçambique.Da consulta dos telegramas da embaixada de Portugal referentes aos anos entre 1975 e 1980, e que constam dos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, destacam-se em 1978 as perseguições contra sacerdotes, sobretudo portugueses, e nos anos anteriores as declarações do chefe de Estado, Samora Machel, contra Testemunhas de Jeová, podendo alguns deles ser consultados no "site" da Lusa sobre as independências.
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