A ver vamos…
Será um contra-relógio ou uma maratona sangrenta? A corrida para a reunião do Comité Central da Frelimo já começou.
Em jogo está toda a estabilidade de Moçambique, e ninguém tem a certeza de quais serão as decisões desta reunião fundamental.
Mas em termos práticos e simples, há que dizer que a soma dos interesses financeiros dos adversários num mesmo partido político se vão unir em defesa dos seus quinhões particulares.
Existe a percepção de que para eles não importa se eclodirá mais uma guerra, desde que as suas contas continuem a crescer.
Da política moçambicana muito se poderia dizer, mas, infelizmente, a soma dos erros que se cometem todos os dias não deixa espaço para que se espere algo de sábio, clarividente e sensato.
Há um jogo evidente de posições, que aumentam a cada dia que passa.
O país e os moçambicanos anseiam pelo desanuviamento concreto e real, mas os interesses em jogo empurram tudo para a confrontação.
Por causa dos recursos que se sentem ameaçados pela proposta de autonomização de províncias, há quem pense que vale a pena uma última guerra para resolver os diferendos.
Muito já se falou sobre a guerra pelos recursos, e, por causa dos recursos, o país caminha para ela de maneira invisível, mas real.
Desdobramentos militares, rearmamento, recrutamento de mancebos, declarações belicistas e contradeclarações enchem os noticiários, sem que se vislumbre aquela sensatez básica num país empobrecido por políticas estomacais.
A derrapagem para a guerra faz-se em dois tempos e manifesta a relutância dos actores políticos entrarem e estarem de acordo de que o percalço na construção de um Moçambique com uma democracia credível é possível, é superável.
Que ninguém se deixe enganar quanto às causas da intolerância. O açambarcamento das possibilidades concretas de criação de riqueza por um número reduzido de pessoas coloca a maioria em posição de indigência.
As explicações habituais de que a riqueza não se distribui são inaceitáveis, pois quem as utiliza enriquece sem trabalho visível. Os seus filhos enriquecem sem justa causa.
O cancro do “‘empoderamento’ económico negro” produz todos os dias úlceras de enriquecimento ilícito.
De uma Independência bem recebida e aplaudida, os detentores do poder têm sido incapazes de estruturar um Estado de Direito e democrático.
Convenhamos que é verdade que Moçambique se transformou numa bandalheira governativa em que se limpa o lixo quando há visita presidencial.
A montagem de um quadro institucional moderno com tudo o que recomendam as escolas de administração pública e governamental não tem trazido as soluções necessárias e desejáveis porque o tecido social está minado com vírus político-sociais.
Agora que aparecem analistas internacionais vaticinando estarem criadas as condições para o deflagrar de mais uma guerra, não se sente acções proactivas por parte dos interlocutores moçambicanos numa perspectiva de impedir que tal aconteça.
Testemunha-se todos os dias uma arrogância “legalista e constitucional” que resiste à mais pequena análise.
Uma maioria carente do mais básico, sem segurança alimentar, sem dignidade, constitui um extraordinário campo para recrutamento de soldados para engrossarem as fileiras das forças governamentais e da guerrilha.
A retórica com que se alimenta os meios de comunicação social é típica de quem não quer soluções pacíficas. Multiplicam-se intervenientes e aumenta de maneira clara a qualidade dos “disparos” de artilharia. Como os analistas arregimentados para a “media” nacional já perderam protagonismo e relevância, foram contratados de emergência novos intervenientes. Gente de peso e de algum gabarito, conferido pela sua participação indubitável nos esforços empreendidos para a construção da nação, aparece pronta a oferecer opiniões e perspectivas aparentemente diferentes, mas que, no fim, pouco alteram o conteúdo do discurso dos “duros”.
É a aliança dos que agora detêm o capital, antes abominado.
A elite libertadora engalfinhou-se e degenerou-se. Meteu as “mãos entre as pernas”, e agora não consegue vislumbrar saídas.
Quando se pensava que a aproximação a novas fontes de financiamento seria a solução para resolver as precariedades do país e dos seus cidadãos, chocam com a possibilidade de eclosão de uma guerra com contornos novos e imprevisíveis.
Num autêntico referendo popular, milhões de pessoas mostram que estão cansadas de um regime erigido na fraude, e isso obviamente que assusta certos quadrantes.
Há ainda tempo, espaço e oportunidade de concertação a favor da paz.
Mas tem de haver seriedade nos campos negociais que se multiplicam. Encontros ao mais alto nível são desejáveis e necessários, mas os interlocutores têm de ter mandato pleno para tomar decisões sem terem que esperar por “eminências pardas” encobertas por estatutos partidários.
Separar o Estado dos partidos políticos tornou-se uma urgência nacional.
Se de um lado existe aceitação e conformismo quanto ao homologado pelo Conselho Constitucional, do outro lado não se vê vontade de ceder de forma a oferecer à outra parte algo de valor.
Triste, mas verdade, que Moçambique “caminha em cima da faca”. Qualquer descuido ou insensatez pode fazer descarrilar o comboio político nacional.
E quando isso acontecer será tarde para lamentações.
Nunca foi tão verdade que “mais vale prevenir do que remediar”.
Discernir que um poder apoiado na corrupção é cancerígeno dispensa óculos.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
Em jogo está toda a estabilidade de Moçambique, e ninguém tem a certeza de quais serão as decisões desta reunião fundamental.
Mas em termos práticos e simples, há que dizer que a soma dos interesses financeiros dos adversários num mesmo partido político se vão unir em defesa dos seus quinhões particulares.
Existe a percepção de que para eles não importa se eclodirá mais uma guerra, desde que as suas contas continuem a crescer.
Da política moçambicana muito se poderia dizer, mas, infelizmente, a soma dos erros que se cometem todos os dias não deixa espaço para que se espere algo de sábio, clarividente e sensato.
Há um jogo evidente de posições, que aumentam a cada dia que passa.
O país e os moçambicanos anseiam pelo desanuviamento concreto e real, mas os interesses em jogo empurram tudo para a confrontação.
Por causa dos recursos que se sentem ameaçados pela proposta de autonomização de províncias, há quem pense que vale a pena uma última guerra para resolver os diferendos.
Muito já se falou sobre a guerra pelos recursos, e, por causa dos recursos, o país caminha para ela de maneira invisível, mas real.
Desdobramentos militares, rearmamento, recrutamento de mancebos, declarações belicistas e contradeclarações enchem os noticiários, sem que se vislumbre aquela sensatez básica num país empobrecido por políticas estomacais.
A derrapagem para a guerra faz-se em dois tempos e manifesta a relutância dos actores políticos entrarem e estarem de acordo de que o percalço na construção de um Moçambique com uma democracia credível é possível, é superável.
Que ninguém se deixe enganar quanto às causas da intolerância. O açambarcamento das possibilidades concretas de criação de riqueza por um número reduzido de pessoas coloca a maioria em posição de indigência.
As explicações habituais de que a riqueza não se distribui são inaceitáveis, pois quem as utiliza enriquece sem trabalho visível. Os seus filhos enriquecem sem justa causa.
O cancro do “‘empoderamento’ económico negro” produz todos os dias úlceras de enriquecimento ilícito.
De uma Independência bem recebida e aplaudida, os detentores do poder têm sido incapazes de estruturar um Estado de Direito e democrático.
Convenhamos que é verdade que Moçambique se transformou numa bandalheira governativa em que se limpa o lixo quando há visita presidencial.
A montagem de um quadro institucional moderno com tudo o que recomendam as escolas de administração pública e governamental não tem trazido as soluções necessárias e desejáveis porque o tecido social está minado com vírus político-sociais.
Agora que aparecem analistas internacionais vaticinando estarem criadas as condições para o deflagrar de mais uma guerra, não se sente acções proactivas por parte dos interlocutores moçambicanos numa perspectiva de impedir que tal aconteça.
Testemunha-se todos os dias uma arrogância “legalista e constitucional” que resiste à mais pequena análise.
Uma maioria carente do mais básico, sem segurança alimentar, sem dignidade, constitui um extraordinário campo para recrutamento de soldados para engrossarem as fileiras das forças governamentais e da guerrilha.
A retórica com que se alimenta os meios de comunicação social é típica de quem não quer soluções pacíficas. Multiplicam-se intervenientes e aumenta de maneira clara a qualidade dos “disparos” de artilharia. Como os analistas arregimentados para a “media” nacional já perderam protagonismo e relevância, foram contratados de emergência novos intervenientes. Gente de peso e de algum gabarito, conferido pela sua participação indubitável nos esforços empreendidos para a construção da nação, aparece pronta a oferecer opiniões e perspectivas aparentemente diferentes, mas que, no fim, pouco alteram o conteúdo do discurso dos “duros”.
É a aliança dos que agora detêm o capital, antes abominado.
A elite libertadora engalfinhou-se e degenerou-se. Meteu as “mãos entre as pernas”, e agora não consegue vislumbrar saídas.
Quando se pensava que a aproximação a novas fontes de financiamento seria a solução para resolver as precariedades do país e dos seus cidadãos, chocam com a possibilidade de eclosão de uma guerra com contornos novos e imprevisíveis.
Num autêntico referendo popular, milhões de pessoas mostram que estão cansadas de um regime erigido na fraude, e isso obviamente que assusta certos quadrantes.
Há ainda tempo, espaço e oportunidade de concertação a favor da paz.
Mas tem de haver seriedade nos campos negociais que se multiplicam. Encontros ao mais alto nível são desejáveis e necessários, mas os interlocutores têm de ter mandato pleno para tomar decisões sem terem que esperar por “eminências pardas” encobertas por estatutos partidários.
Separar o Estado dos partidos políticos tornou-se uma urgência nacional.
Se de um lado existe aceitação e conformismo quanto ao homologado pelo Conselho Constitucional, do outro lado não se vê vontade de ceder de forma a oferecer à outra parte algo de valor.
Triste, mas verdade, que Moçambique “caminha em cima da faca”. Qualquer descuido ou insensatez pode fazer descarrilar o comboio político nacional.
E quando isso acontecer será tarde para lamentações.
Nunca foi tão verdade que “mais vale prevenir do que remediar”.
Discernir que um poder apoiado na corrupção é cancerígeno dispensa óculos.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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