A denúncia é feita pelo jornalista alemão Bartholomäus Grill, que esteve recentemente em Moçambique, com o fotógrafo Toby Selander, para investigar a caça furtiva de rinocerontes. Foram detidos e acusados de espionagem.
Em meados de fevereiro, Bartholomäus Grill e o sueco Toby Selander estiveram no Parque Nacional de Limpopo, no sul de Moçambique, para fazer investigações sobre a caça furtiva de rinocerontes.
Foram acusados de serem "espiões da polícia secreta sul-africana" por populares de Mavodze, uma pequena aldeia perto do Parque Nacional do Limpopo, quando procuravam o chefe de uma rede de caça ilegal, visto pela população como um benfeitor. Os repórteres acabaram por ser detidos e só foram libertados após intervenção das embaixadas dos seus países.
Em 30 anos de carreira como jornalista, Bartholomäus Grill diz que esta foi a primeira vez que temeu pela sua vida. "Fomos sequestrados na aldeia onde vive um dos chefes da rede de caçadores furtivos, um homem de nome Navara, e fortemente ameaçados pela população. Ameaçaram que nos iriam violar e linchar, deitar fogo aos nossos corpos", contou à DW África.
Quando foram detidos na esquadra da polícia local "ficou bem claro que não era o chefe da polícia da localidade que detinha a autoridade e sim os caçadores furtivos", sublinha.
"As pessoas apoiam Navara porque ele lhes dá trabalho", afirma Grill, lembrando que se trata de uma região muito pobre e que "a caça furtiva dá lucros e dá a oportunidade de ganhar algum dinheiro, sobretudo aos mais jovens", que de outro modo não teriam trabalho nem perspectivas de futuro.
"Daí que a fúria fosse grande contra nós como representantes de uma Europa branca e rica, para os quais se criam parques nacionais, que praticamente não beneficiam os moçambicanos", explica.
"Conivência policial"
O jornalista descreve tudo o que aconteceu em Moçambique na reportagem que escreveu para a revista alemã Der Spiegel. E denuncia a cumplicidade "assustadora" que diz existir. "Estávamos em perigo de vida, nas mãos de caçadores furtivos que, como se tornou bastante óbvio, agem com a conivência da polícia."
Algo que, segundo o jornalista, faz com que se tenha "muito pouca confiança" nas estruturas estatais de Moçambique. "Ouvem-se muitas histórias de corrupção, desvio de fundos, entidades nas quais não se pode confiar. Ficámos com a impressão de que na região onde estivemos, em Massingir, ainda falta muito para que lá chegue o Estado de direito e a democracia", diz.
Nos últimos anos, Moçambique tornou-se num corredor para o contrabando de chifres de rinoceronte com destino à Ásia. E com a complacência das autoridades locais, segundo várias organizações ambientais.
Como deveria, então, o Governo de Maputo agir para combater de forma eficaz a caça furtiva? "Pode começar por governar e combater a corrupção, pois há bastantes indícios que apontam para o envolvimento de altas entidades governamentais nestes negócios criminosos", responde Bartholomäus Grill.
Mais pressão internacional
O jornalista também defende que a comunidade internacional devia exercer mais pressão. E dá um exemplo: "O Parque Nacional do Limpopo, que está associado ao Parque Nacional Transfrontier, que é maior, beneficia de assistência de organizações estrangeiras, como do banco alemão para o de desenvolvimento KfW, o banco (comercial) alemão Deutsche Bank e a agência do desenvolvimento da França. Penso que seria uma boa oportunidade para aumentar a pressão e ameaçar com a suspensão da assistência caso não sejam cumpridos certos critérios."
Bartholomäus Grill e Toby Selander foram notificados pelo procurador do Estado em Maputo que está em curso uma investigação por invasão de propriedade alheia. "Tentámos encontrar um dos líderes dos caçadores furtivos, Navara, estivemos diante da casa dele, perguntámos pelo seu número de telefone, mas nunca invadimos propriedade alheia. Não obstante, Navara apresentou queixa contra nós por invasão de propriedade alheia", conta o repórter.
Uma "acusação sem fundamento", na opinião de Grill. "Pelo contrário, nós é que podíamos apresentar queixa por coerção, ameaças, sequestro." Dos resultados da investigação dependerá se será movido um processo contra eles ou não.
Ainda assim, nada o desincentiva de um dia voltar ao país, garante o jornalista alemão. "Já vivi várias situações perigosas em diversos países de África. Esta foi de certeza a situação mais perigosa de todas, mas isso não me vai impedir de regressar a Moçambique para informar também sobre os aspectos positivos deste país."
DW
Foram acusados de serem "espiões da polícia secreta sul-africana" por populares de Mavodze, uma pequena aldeia perto do Parque Nacional do Limpopo, quando procuravam o chefe de uma rede de caça ilegal, visto pela população como um benfeitor. Os repórteres acabaram por ser detidos e só foram libertados após intervenção das embaixadas dos seus países.
Em 30 anos de carreira como jornalista, Bartholomäus Grill diz que esta foi a primeira vez que temeu pela sua vida. "Fomos sequestrados na aldeia onde vive um dos chefes da rede de caçadores furtivos, um homem de nome Navara, e fortemente ameaçados pela população. Ameaçaram que nos iriam violar e linchar, deitar fogo aos nossos corpos", contou à DW África.
Quando foram detidos na esquadra da polícia local "ficou bem claro que não era o chefe da polícia da localidade que detinha a autoridade e sim os caçadores furtivos", sublinha.
"As pessoas apoiam Navara porque ele lhes dá trabalho", afirma Grill, lembrando que se trata de uma região muito pobre e que "a caça furtiva dá lucros e dá a oportunidade de ganhar algum dinheiro, sobretudo aos mais jovens", que de outro modo não teriam trabalho nem perspectivas de futuro.
"Daí que a fúria fosse grande contra nós como representantes de uma Europa branca e rica, para os quais se criam parques nacionais, que praticamente não beneficiam os moçambicanos", explica.
"Conivência policial"
O jornalista descreve tudo o que aconteceu em Moçambique na reportagem que escreveu para a revista alemã Der Spiegel. E denuncia a cumplicidade "assustadora" que diz existir. "Estávamos em perigo de vida, nas mãos de caçadores furtivos que, como se tornou bastante óbvio, agem com a conivência da polícia."
Algo que, segundo o jornalista, faz com que se tenha "muito pouca confiança" nas estruturas estatais de Moçambique. "Ouvem-se muitas histórias de corrupção, desvio de fundos, entidades nas quais não se pode confiar. Ficámos com a impressão de que na região onde estivemos, em Massingir, ainda falta muito para que lá chegue o Estado de direito e a democracia", diz.
Nos últimos anos, Moçambique tornou-se num corredor para o contrabando de chifres de rinoceronte com destino à Ásia. E com a complacência das autoridades locais, segundo várias organizações ambientais.
Como deveria, então, o Governo de Maputo agir para combater de forma eficaz a caça furtiva? "Pode começar por governar e combater a corrupção, pois há bastantes indícios que apontam para o envolvimento de altas entidades governamentais nestes negócios criminosos", responde Bartholomäus Grill.
Mais pressão internacional
O jornalista também defende que a comunidade internacional devia exercer mais pressão. E dá um exemplo: "O Parque Nacional do Limpopo, que está associado ao Parque Nacional Transfrontier, que é maior, beneficia de assistência de organizações estrangeiras, como do banco alemão para o de desenvolvimento KfW, o banco (comercial) alemão Deutsche Bank e a agência do desenvolvimento da França. Penso que seria uma boa oportunidade para aumentar a pressão e ameaçar com a suspensão da assistência caso não sejam cumpridos certos critérios."
Bartholomäus Grill e Toby Selander foram notificados pelo procurador do Estado em Maputo que está em curso uma investigação por invasão de propriedade alheia. "Tentámos encontrar um dos líderes dos caçadores furtivos, Navara, estivemos diante da casa dele, perguntámos pelo seu número de telefone, mas nunca invadimos propriedade alheia. Não obstante, Navara apresentou queixa contra nós por invasão de propriedade alheia", conta o repórter.
Uma "acusação sem fundamento", na opinião de Grill. "Pelo contrário, nós é que podíamos apresentar queixa por coerção, ameaças, sequestro." Dos resultados da investigação dependerá se será movido um processo contra eles ou não.
Ainda assim, nada o desincentiva de um dia voltar ao país, garante o jornalista alemão. "Já vivi várias situações perigosas em diversos países de África. Esta foi de certeza a situação mais perigosa de todas, mas isso não me vai impedir de regressar a Moçambique para informar também sobre os aspectos positivos deste país."
DW
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