Wednesday, 11 March 2015

MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça



 
Olá amigo Luís
Como vai a tua saúde e a da tua família? Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Queria hoje falar-te da marcha que fizemos, aqui em Maputo, para protestar contra o assassinato do Prof. Gilles Cistac.
Não sei quantas pessoas éramos. Sou mau a fazer esse tipo de contas. Amigos meus calcularam entre 2000 e 4000. Mas éramos muitos e profundamente indignados. Havia gente de todas as raças, de to­das as religiões, de todas as idades. Muitos jovens, provavelmente estudantes universitários.
Vi lá dirigentes do MDM, nomeadamente Manuel de Araújo e Lutero Simango, e da Renamo, de que recordo Ivone Soares e António Muchanga.
Só não vi ninguém do partido Frelimo nem do Governo. Apesar de ambas as entidades terem, nos dias anteriores, declarado publicamente o seu choque com o assassinato, nem um só dos seus dirigentes, a qualquer nível, encontrou na sua ocupada agenda espaço para estar presente na marcha.
De resto o Governo só se fez representar ali mesmo em frente à Faculdade de Direito. Eram talvez uns 20 a 30 representantes e, tal como ti­nham pedido os organizadores da marcha, estavam totalmente vestidos de preto. Parecem é não ter percebido que se tratava de uma marcha pacífica porque estavam armados até aos dentes. E, curio­samente, virados no sentido contrário ao de todos os outros manifestantes.
Com estas atitudes Frelimo e Governo deram mais um tiro no seu próprio pé. Em vez de saírem à rua para protestar contra o assassinato de um cidadão colocaram-se, de alguma forma, do lado dos assassinos. Ao não aderirem à marcha e, pelo contrário, ao hostilizá-la, mostraram a sua opinião tão claramente como os milhares de manifestantes mostraram a deles.
Não é que eu tivesse grandes dúvidas sobre qual seria a posição dessas duas entidades, mas tenho de dizer que não esperava uma demonstração tão aberta e clara. Tão pouco inteligente.
A mediocridade com que fomos governados nos últimos anos estampou-se ali, à nossa frente, com fardas negras dignas de filmes de ficção científica. Fardas para as quais houve aquele dinheiro que nunca existe quando é necessário para coisas úteis.
E não houve ali bicefalia nenhuma. Frelimo e Governo estiveram unidos.
Uma enorme tristeza.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 10.03.2015

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