Ou política externa correndo atrás do prejuízo?
Face ao crescente envolvimento chinês e indiano em África e especialmente em Moçambique, tem-se assistido a acções da diplomacia de alguns países europeus membros da União Europeia que deixam muito a desejar.
Numa acção supostamente destinada a contrariar a ofensiva económica chinesa, aparecem alguns Governos enveredando por caminhos que lesam a democracia de países como Moçambique.
Parece que os preceitos que guiam a política externa desses países está sempre em contramão do que são os reais e justos interesses dos cidadãos dos países receptores de ajuda económica.
Antes, a esquerda europeia afluía e apoiava Governos como o de Moçambique numa acção altruísta, romântica e cheia de incentivos, talvez julgando que desse modo o sistema socialista proposto fosse vingar e que os seus ideais sairiam concretizados em mais um país do mundo.
Numa deliberada acção de injecção de fundos supostamente para criar as condições de desenvolvimento económico de Moçambique, este país foi beneficiário de muitos milhões de dólares provenientes de programas de cooperação multilateral desenhados, por exemplo, pelos países nórdicos da Europa.
Se a ideia foi manter sempre uma esfera de influência, independentemente dos resultados práticos de tal cooperação, esse objectivo terá sido alcançado. Se, por outro lado, a intenção foi ajudar genuinamente um país novo a erguer-se, esse objectivo não foi conseguido. Ajudou-se a engordar uma oligarquia que tinha uma agenda dupla: vender ao público e aos doadores a ideia de que estava interessada no desenvolvimento de um país pela via da democracia e respeito pelos direitos humanos quando efectivamente a intenção era ascender ao poder e formar a elite detentora de um poder discricionário.
A consolidação da máquina repressiva dos tempos do partido único aconteceu bafejada por fundos europeus, ao mesmo tempo que o bloco soviético garantia o fornecimento de meios bélicos.
Diz-se que os Governos tomam decisões com base no realismo e nas suas considerações estratégicas. A duplicidade política e os critérios utilizados para interagir com Moçambique potenciaram a emergência de uma guerra fratricida de longa duração.
Reconhecer que a política externa e diplomática de Governos ocidentais falhou em Moçambique seria um começo para se encontrar uma via mais apropriada para lidar com o assunto.
A Rússia, após a sua declarada vitória sobre o “imperialismo” em África, desacelerou o seu envolvimento, porque se viu a abraços com problemas internos urgentes e muito importantes. O fim da Guerra Fria colocou novos desafios, e, nesse processo, a decisão terá sido de abandonar os seus satélites em África.
Mas, quando uns tinham dúvidas sobre o que fazer, o gigante chinês decidiu-se a intervir e a alavancar a sua presença em África.
Injecção maciça de capitais sem “linkage” a questões relacionadas com direitos humanos e outros de índole política trouxe alívio e fundos para oligarquias que precisavam desesperadamente de capital e meios bélicos para se aguentarem no poder.
Se antes a esquerda europeia se havia “distraído”, agora enfrenta um perigo efectivo de tornar-se irrelevante num continente em que os governantes não se importam de críticas aos seus modelos de governação.
Moçambique neste momento é um centro importante do confronto Este-Oeste, embora as chancelarias estrangeiras não queriam divulgar na íntegra as suas agendas reais. É como se não se estivesse passando nada, quando, na verdade, circulam rios subterrâneos carregando interesses dignos de referência. Ignorar que está em execução uma guerra pelos recursos minerais de Moçambique seria ingenuidade grave.
A multiplicação de fóruns internacionais encabeçados pelos EUA, União Europeia, França, China, Japão, Índia juntando países africanos demonstra quanto é África importante na esfera internacional. Importante não como interlocutor válido, mas como fornecer de matérias-primas, não nos iludamos. Mesmo quando um ou outro governante africano é condecorado na Europa ou China, isso inscreve-se numa óptica de “anestesia”.
Não tenhamos ilusões quanto ao significado e impacto da cooperação externa que Moçambique tem e teve no passado.
Somos um país aonde acorrem Governos e as suas companhias na mira dos recursos que temos como país. Não é porque alguém “goste da cara que temos”.
A subversão efectiva do processo democrático nacional visa manter condições para a continuação da pilhagem dos recursos minerais do país.
Quando ingenuamente se procura credibilizar eleições moçambicanas através de observadores internacionais directamente interessados nos desfechos, é a porta aberta para a ingerência nos assuntos políticos nacionais.
A braços com uma profunda crise económica e política, com o perigo de ver o poder escorregando para a extrema-esquerda e extrema-direita, as chancelarias ocidentais apostam em alternativas de cooperação externa que garantam a entrada de mercadorias de alto valor e na criação de fontes de emprego que ajudem a aliviar as suas economias combalidas. Tudo o que for feito no sentido de ganhar os próximos ciclos eleitorais é de importância vital para aqueles países.
Não admira que Cavaco e Silva, de Portugal, ou Hollande, da França, intervenham no apoio de grupos empresariais dos seus países. Não admira que se fechem os olhos a autênticos crimes económicos e financeiros orquestrados por políticos empresários de países como Portugal, França e Itália.
A Moçambique, objectivamente não interessa que a democracia sofra mais um percalço e seja desencadeado um processo de regresso às hostilidades político-militares.
O momento é grave, complicado e demasiado sério para que interesses de pequenos grupos de políticos se sobreponham à agenda da paz em Moçambique.
Acredito que haja clarividência interna suficiente e líderes experientes que podem ajudar a que uma saída airosa seja encontrada.
Não queremos baratas e fáceis da China nem do Brasil. Não queremos ingerência falaciosa da União Europeia ou da União Africana e muito menos da SADC.
Basta-nos serenidade, patriotismo e responsabilidade política activa de todos os interlocutores nacionais, oficiais e não oficiais.
Um amanhã de PAZ depende de um engajamento construtivo hoje.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
Numa acção supostamente destinada a contrariar a ofensiva económica chinesa, aparecem alguns Governos enveredando por caminhos que lesam a democracia de países como Moçambique.
Parece que os preceitos que guiam a política externa desses países está sempre em contramão do que são os reais e justos interesses dos cidadãos dos países receptores de ajuda económica.
Antes, a esquerda europeia afluía e apoiava Governos como o de Moçambique numa acção altruísta, romântica e cheia de incentivos, talvez julgando que desse modo o sistema socialista proposto fosse vingar e que os seus ideais sairiam concretizados em mais um país do mundo.
Numa deliberada acção de injecção de fundos supostamente para criar as condições de desenvolvimento económico de Moçambique, este país foi beneficiário de muitos milhões de dólares provenientes de programas de cooperação multilateral desenhados, por exemplo, pelos países nórdicos da Europa.
Se a ideia foi manter sempre uma esfera de influência, independentemente dos resultados práticos de tal cooperação, esse objectivo terá sido alcançado. Se, por outro lado, a intenção foi ajudar genuinamente um país novo a erguer-se, esse objectivo não foi conseguido. Ajudou-se a engordar uma oligarquia que tinha uma agenda dupla: vender ao público e aos doadores a ideia de que estava interessada no desenvolvimento de um país pela via da democracia e respeito pelos direitos humanos quando efectivamente a intenção era ascender ao poder e formar a elite detentora de um poder discricionário.
A consolidação da máquina repressiva dos tempos do partido único aconteceu bafejada por fundos europeus, ao mesmo tempo que o bloco soviético garantia o fornecimento de meios bélicos.
Diz-se que os Governos tomam decisões com base no realismo e nas suas considerações estratégicas. A duplicidade política e os critérios utilizados para interagir com Moçambique potenciaram a emergência de uma guerra fratricida de longa duração.
Reconhecer que a política externa e diplomática de Governos ocidentais falhou em Moçambique seria um começo para se encontrar uma via mais apropriada para lidar com o assunto.
A Rússia, após a sua declarada vitória sobre o “imperialismo” em África, desacelerou o seu envolvimento, porque se viu a abraços com problemas internos urgentes e muito importantes. O fim da Guerra Fria colocou novos desafios, e, nesse processo, a decisão terá sido de abandonar os seus satélites em África.
Mas, quando uns tinham dúvidas sobre o que fazer, o gigante chinês decidiu-se a intervir e a alavancar a sua presença em África.
Injecção maciça de capitais sem “linkage” a questões relacionadas com direitos humanos e outros de índole política trouxe alívio e fundos para oligarquias que precisavam desesperadamente de capital e meios bélicos para se aguentarem no poder.
Se antes a esquerda europeia se havia “distraído”, agora enfrenta um perigo efectivo de tornar-se irrelevante num continente em que os governantes não se importam de críticas aos seus modelos de governação.
Moçambique neste momento é um centro importante do confronto Este-Oeste, embora as chancelarias estrangeiras não queriam divulgar na íntegra as suas agendas reais. É como se não se estivesse passando nada, quando, na verdade, circulam rios subterrâneos carregando interesses dignos de referência. Ignorar que está em execução uma guerra pelos recursos minerais de Moçambique seria ingenuidade grave.
A multiplicação de fóruns internacionais encabeçados pelos EUA, União Europeia, França, China, Japão, Índia juntando países africanos demonstra quanto é África importante na esfera internacional. Importante não como interlocutor válido, mas como fornecer de matérias-primas, não nos iludamos. Mesmo quando um ou outro governante africano é condecorado na Europa ou China, isso inscreve-se numa óptica de “anestesia”.
Não tenhamos ilusões quanto ao significado e impacto da cooperação externa que Moçambique tem e teve no passado.
Somos um país aonde acorrem Governos e as suas companhias na mira dos recursos que temos como país. Não é porque alguém “goste da cara que temos”.
A subversão efectiva do processo democrático nacional visa manter condições para a continuação da pilhagem dos recursos minerais do país.
Quando ingenuamente se procura credibilizar eleições moçambicanas através de observadores internacionais directamente interessados nos desfechos, é a porta aberta para a ingerência nos assuntos políticos nacionais.
A braços com uma profunda crise económica e política, com o perigo de ver o poder escorregando para a extrema-esquerda e extrema-direita, as chancelarias ocidentais apostam em alternativas de cooperação externa que garantam a entrada de mercadorias de alto valor e na criação de fontes de emprego que ajudem a aliviar as suas economias combalidas. Tudo o que for feito no sentido de ganhar os próximos ciclos eleitorais é de importância vital para aqueles países.
Não admira que Cavaco e Silva, de Portugal, ou Hollande, da França, intervenham no apoio de grupos empresariais dos seus países. Não admira que se fechem os olhos a autênticos crimes económicos e financeiros orquestrados por políticos empresários de países como Portugal, França e Itália.
A Moçambique, objectivamente não interessa que a democracia sofra mais um percalço e seja desencadeado um processo de regresso às hostilidades político-militares.
O momento é grave, complicado e demasiado sério para que interesses de pequenos grupos de políticos se sobreponham à agenda da paz em Moçambique.
Acredito que haja clarividência interna suficiente e líderes experientes que podem ajudar a que uma saída airosa seja encontrada.
Não queremos baratas e fáceis da China nem do Brasil. Não queremos ingerência falaciosa da União Europeia ou da União Africana e muito menos da SADC.
Basta-nos serenidade, patriotismo e responsabilidade política activa de todos os interlocutores nacionais, oficiais e não oficiais.
Um amanhã de PAZ depende de um engajamento construtivo hoje.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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