Fora dos relvados, é preciso reconhecer que o verdadeiro Campeão do Mundial de Futebol 2010 é a África do Sul. O país acabou de demonstrar o que vale, e o que com determinação, sentido de propósito, boa administração e um pouco de recursos qualquer país pode alcançar.
Contrariando o receio que veio de muitos quadrantes, incluindo dentro da própria África do Sul, ninguém foi morto, ninguém foi violentamente assaltado, e ninguém foi raptado. O receio não era injustificado. A África do Sul é uma das sociedades mais violentas do planeta. E os ataques xenófobos do ano passado contribuíram para uma atitude de maior pessimismo.
E as informações de alegadas bases de grupos terroristas em Moçambique, que se preparavam para cometer crimes durante a prova só podem ter tido valor por terem obrigado as autoridades sul africanas a redobrarem os esforços de segurança.
Nos estádios, todos eles de classe mundial, o entusiasmo dos adeptos, mesmo depois da selecção anfitriã ter sido eliminada, substituiu-se ao medo da iminência de qualquer catástrofe que podia ocorrer a qualquer momento.
De facto, as baixas expectativas e o cepticismo que reinavam em alguns círculos sobre a capacidade da África do Sul de organizar uma boa competição foram a maior virtude que o país teve. Quanto mais a tragédia tardava a chegar, o entusiasmo multicolor, multinacional e multi-racial tomou conta dos estádios. E o negócio das vuvuzelas nunca mais olhou para trás. O frio severo que se regista por estas alturas do ano nas terras altas do interior da África Austral deve ter sido o único factor negativo para os visitantes que vieram do Hemisfério Norte, onde o verão é tão curto como o inverno nos trópicos. Aliás, o Campeonato Mundial de Futebol nunca foi concebido para ser realizado em África. O facto de se ter convencionado o mês de Junho para a sua realização deve-se ao facto de ser época do verão no Hemisfério Norte, quando muitos saem de férias, permitindo uma maior afluência aos estádios.
O custo total da operação? Mais de 5 biliões de dólares, um pouco mais que o lucro de mais de 3 biliões de dólares isentos de impostos que a FIFA ganhou. Para a África do Sul, numa avaliação de custo e benefício, a sua projecção como uma potência de nível mundial justifica o investimento, se as infra-estruturas erguidas não vierem a transformar-se em elefantes brancos. Agora querem mais: candidatar a Cidade do Cabo ou Durban para os Jogos Olímpicos de 2020 ou 2024.
Desde o princípio que os sul africanos vincaram a posição de que o torneio, mais do que um acontecimento na África do Sul, era sobretudo uma oportunidade africana. E tudo fizeram para que África pudesse sentir-se parte de toda a organização e tirar o máximo de benefícios. De várias formas, não se sabe exactamente quais, alguns países africanos terão tirado benefícios deste Mundial.
E pode-se dizer que África está de parabéns. Contudo, é preciso frisar que os países africanos não se podem esconder por detrás desta vitória colectiva para se furtarem das suas responsabilidades individuais de organização como nações independentes.
Fernando Gonçalves, no Savana de 16/07/10, citado no Diário de um Sociólogo
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