Wednesday, 21 July 2010

Mundial de Futebol 2010: Um sucesso sem igual

Fora dos relvados, é preciso reconhecer que o verdadeiro Campeão do Mundial de Futebol 2010 é a África do Sul. O país acabou de demonstrar o que vale, e o que com determinação, sentido de propósito, boa admi­nis­tração e um pouco de recursos qualquer país pode alcançar.

Contrariando o receio que veio de muitos qua­drantes, incluindo dentro da própria África do Sul, ninguém foi morto, nin­guém foi violentamente assaltado, e ninguém foi raptado. O receio não era injustificado. A África do Sul é uma das sociedades mais violentas do planeta. E os ataques xenófobos do ano passado contri­buíram para uma atitude de maior pessimismo.

E as informações de alegadas bases de grupos terroristas em Moçam­bique, que se preparavam para cometer crimes du­rante a prova só podem ter tido valor por terem obri­gado as autoridades sul africanas a redobrarem os esforços de segurança.

Nos estádios, todos eles de classe mundial, o entu­siasmo dos adeptos, mes­mo depois da selecção anfitriã ter sido eliminada, substituiu-se ao medo da iminência de qualquer catástrofe que podia ocor­rer a qualquer momento.

De facto, as baixas expectativas e o cepti­cismo que reinavam em alguns círculos sobre a capacidade da África do Sul de organizar uma boa competição foram a maior virtude que o país teve. Quanto mais a tragédia tardava a chegar, o en­tusiasmo multicolor, mul­tinacional e multi-racial tomou conta dos estádios. E o negócio das vuvuzelas nunca mais olhou para trás. O frio severo que se regista por estas alturas do ano nas terras altas do interior da África Austral deve ter sido o único factor negativo para os visitantes que vieram do Hemisfério Norte, onde o verão é tão curto como o inverno nos trópicos. Aliás, o Cam­peonato Mundial de Fute­bol nunca foi concebido para ser realizado em África. O facto de se ter conven­cionado o mês de Junho para a sua reali­zação deve-se ao facto de ser época do verão no He­misfério Norte, quando muitos saem de férias, permitindo uma maior afluência aos estádios.

O custo total da ope­ração? Mais de 5 biliões de dólares, um pouco mais que o lucro de mais de 3 biliões de dólares isentos de impostos que a FIFA ganhou. Para a África do Sul, numa avaliação de custo e benefício, a sua projecção como uma po­tên­cia de nível mundial justifica o investimento, se as infra-estruturas ergui­das não vierem a trans­formar-se em elefantes brancos. Agora querem mais: candidatar a Cidade do Cabo ou Durban para os Jogos Olímpicos de 2020 ou 2024.

Desde o princípio que os sul africanos vincaram a posição de que o torneio, mais do que um acon­tecimento na África do Sul, era sobretudo uma opor­tunidade africana. E tudo fizeram para que África pudesse sentir-se parte de toda a organização e tirar o máximo de benefícios. De várias formas, não se sabe exactamente quais, alguns países africanos terão tirado benefícios deste Mundial.

E pode-se dizer que África está de parabéns. Contudo, é preciso frisar que os países africanos não se podem esconder por detrás desta vitória colectiva para se furtarem das suas respon­sabili­dades individuais de orga­nização como nações independentes.

É verdade que o suces­so do Mundial na África do Sul mudou comple­ta­mente os preconceitos do resto do mundo em rela­ção à África, particu­larmente a África Austral. Mas também não é menos verdade que o resto do mundo continuará a ver os vários países africanos como casos indepen­dentes.

Fernando Gonçalves, no Savana de 16/07/10, citado no Diário de um Sociólogo

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