POR estes dias, ouvir que um moçambicano é bem-vindo na África do Sul soa a ironia, mas a vuvuzela da fronteira de Komatipoort, sem o ruído do Mundial, desafia a xenofobia e convida os moçambicanos: “You Are Welcome.”
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias
A hostilidade de alguns sectores da população sul-africana pelos moçambicanos, como de resto por estrangeiros de outros países africanos, voltou a ser sentida na semana passada, quando dois moçambicanos foram feridos em Kya Sands, Joanesburgo, na mais recente onda de xenofobia no país vizinho.
Os moçambicanos já tinham sido visados pela crescente antipatia que os sul-africanos, de camadas mais pobres, nutrem pelos africanos, também pobres, quando em 2008 mais de 30 mil foram obrigados a fugir do país, perdendo o emprego e bens.
Logo após o final do Mundial de Futebol alguns moçambicanos optaram por voltar a casa, antecipando-se aos iminentes ataques contra estrangeiros, confirmados pelos incidentes de Kya Sands na semana passada.
Sem o êxodo de 2008, pelo menos por enquanto, graças à presença da Polícia e do Exército sul-africano nos bairros mais problemáticos dos subúrbios das maiores cidades do país, o principal posto fronteiriço entre Moçambique e África do Sul, na vila de Ressano Garcia, a cerca de 100 quilómetros de Maputo, vive uma situação normal, mas sente-se alguma tensão.
É precisamente a preocupação em garantir que os moçambicanos são “bem-vindos na África do Sul” que ajuda a não esconder o nervosismo. E uma vuvuzela entra na jogada.
No meio de casebres e cancelas dos agentes alfandegários, polícias de guarda-fronteira e funcionários migratórios dos dois países, é a foto da corneta mais famosa do mundo, colocada num painel gigante, de alumínio, que manda.
Um menino sopra uma vuvuzela pintada com as cores da Bandeira sul-africana, de onde sai não o ruído ensurdecedor e polémico dos estádios do Mundial, mas palavras de boas- vindas aos moçambicanos.
“Estamos prontos para vos receber, nossos visitantes”, lê-se no enorme quadro do painel, que as autoridades fronteiriças sul-africanas colocaram no posto de Komatipoort, logo à saída do posto moçambicano de Ressano Garcia.
O optimismo da corneta parece ser partilhado pelas centenas de moçambicanos que escolheram o fim-de-semana para atravessar a fronteira para a África do Sul.
“É lá onde tenho o meu trabalho, num salão de cabeleireiro, a mim nunca me aconteceu nada, só oiço falar de xenofobia. Acho que são alguns sulafricanos que não querem os moçambicanos, não todo o país”, diz, Ancha Zefanias, 26 anos, com o passaporte na mão e pronto a ser verificado pelos serviços de migração moçambicanos, antes do visto para a África do Sul.
Nuro Matibule, 38 anos, também concorda, porque viveu em “paz” com vizinhos sul-africanos durante os últimos 15 anos. “Vim renovar o visto e estou a voltar, porque não tenho medo de voltar, sou bem tratado lá”, diz, enquanto segue a fila para a migração.
A baixa intensidade dos ataques xenófobos deste ano também é testemunhada pelo polícia sul-africano Temba, que é condescendente com as travessias de curta duração para o lado sul-africano.
“Isso de xenofobia anda longe daqui. Se fosse sério tinhas muitas pessoas com as trouxas à cabeça. Agora só temos viajantes normais, cambistas e contrabandistas”, diz à LUSA, ao mesmo tempo que vocifera que “os edifícios do Estado não se filmam”.
Aos repelões, outros moçambicanos vão seguindo na fila, para o visto que lhes dará entrada no país onde pelo menos a vuvuzela promete que são “bem-vindos”.
Paulo Machicane, da Agência Lusa
Os moçambicanos já tinham sido visados pela crescente antipatia que os sul-africanos, de camadas mais pobres, nutrem pelos africanos, também pobres, quando em 2008 mais de 30 mil foram obrigados a fugir do país, perdendo o emprego e bens.
Logo após o final do Mundial de Futebol alguns moçambicanos optaram por voltar a casa, antecipando-se aos iminentes ataques contra estrangeiros, confirmados pelos incidentes de Kya Sands na semana passada.
Sem o êxodo de 2008, pelo menos por enquanto, graças à presença da Polícia e do Exército sul-africano nos bairros mais problemáticos dos subúrbios das maiores cidades do país, o principal posto fronteiriço entre Moçambique e África do Sul, na vila de Ressano Garcia, a cerca de 100 quilómetros de Maputo, vive uma situação normal, mas sente-se alguma tensão.
É precisamente a preocupação em garantir que os moçambicanos são “bem-vindos na África do Sul” que ajuda a não esconder o nervosismo. E uma vuvuzela entra na jogada.
No meio de casebres e cancelas dos agentes alfandegários, polícias de guarda-fronteira e funcionários migratórios dos dois países, é a foto da corneta mais famosa do mundo, colocada num painel gigante, de alumínio, que manda.
Um menino sopra uma vuvuzela pintada com as cores da Bandeira sul-africana, de onde sai não o ruído ensurdecedor e polémico dos estádios do Mundial, mas palavras de boas- vindas aos moçambicanos.
“Estamos prontos para vos receber, nossos visitantes”, lê-se no enorme quadro do painel, que as autoridades fronteiriças sul-africanas colocaram no posto de Komatipoort, logo à saída do posto moçambicano de Ressano Garcia.
O optimismo da corneta parece ser partilhado pelas centenas de moçambicanos que escolheram o fim-de-semana para atravessar a fronteira para a África do Sul.
“É lá onde tenho o meu trabalho, num salão de cabeleireiro, a mim nunca me aconteceu nada, só oiço falar de xenofobia. Acho que são alguns sulafricanos que não querem os moçambicanos, não todo o país”, diz, Ancha Zefanias, 26 anos, com o passaporte na mão e pronto a ser verificado pelos serviços de migração moçambicanos, antes do visto para a África do Sul.
Nuro Matibule, 38 anos, também concorda, porque viveu em “paz” com vizinhos sul-africanos durante os últimos 15 anos. “Vim renovar o visto e estou a voltar, porque não tenho medo de voltar, sou bem tratado lá”, diz, enquanto segue a fila para a migração.
A baixa intensidade dos ataques xenófobos deste ano também é testemunhada pelo polícia sul-africano Temba, que é condescendente com as travessias de curta duração para o lado sul-africano.
“Isso de xenofobia anda longe daqui. Se fosse sério tinhas muitas pessoas com as trouxas à cabeça. Agora só temos viajantes normais, cambistas e contrabandistas”, diz à LUSA, ao mesmo tempo que vocifera que “os edifícios do Estado não se filmam”.
Aos repelões, outros moçambicanos vão seguindo na fila, para o visto que lhes dará entrada no país onde pelo menos a vuvuzela promete que são “bem-vindos”.
Paulo Machicane, da Agência Lusa
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