Thursday, 27 May 2010

DIALOGANDO - Esta mãe-África!

JÁ disse aqui que nutro sincero fascínio por quem se orgulha do sítio onde nasceu, neste caso do continente onde nasceu. Até porque um estudioso disse que o lugar onde se nasce é o lugar onde mais por acaso se está, por isso é necessário respeitá-lo e principalmente valorizá-lo para o bem de todos.


Maputo, Quinta-Feira, 27 de Maio de 2010:: Notícias

Por conseguinte, tal valorização passa pela busca constante de soluções reais e verdadeiras para os inúmeros problemas que afligem esse local ou continente, muito mais quando uma organização continental criada para servir de mecanismo orientador desse processo (busca de soluções), vai ficando cada vez mais “madura”.

Deve-se, igualmente, valorizar o local ou continente onde se nasce, na perspectiva de que quando mais a sua organização vai “envelhecendo”, signifique, efectivamente, o erguer de um compromisso que é compartilhado por todos em relação às práticas democráticas, objectividade na apreensão do real e da imparcialidade, embora teoricamente utópicos, deve continuar sendo a bússola do jornalismo.

Porém, precisamos de dirigentes que não encarem os “medias” e/ou os jornalistas considerados mais críticos como adversários políticos, logo como alvos a abater, para que a democracia para a mãe-África não seja uma mera projecção. Para que pedir voto numa eleição de um determinado país do continente seja submeter-se ao mecanismo da democracia representativa, declarando objectivos, respeitando o eleitor que vota e o cidadão que se mantém na expectativa de ver cumpridas as promessas feitas pelos políticos.

Isto vem a-propósito do 25 de Maio, Dia de África (dia da criação da Organização Unidade Africana, hoje União Africana, UA), o nosso continente, continente com muitos recursos, mas com vários problemas, tais como golpes de Estado, analfabetismo, pobreza, corrupção, tribalismo, racismo, HIV/SIDA, malária, fome, violência étnica, guerras, desenvolvimento humano, desigualdades sociais e outros tantos que precisam de líderes à altura destes e doutros desafios que se lhes impõem no desempenho das suas funções.

Líderes que não só prometem coisas para o povo, sabendo que os seus projectos estão mal elaborados e particularmente distanciados da realidade étnica, tribal, social, económica, política e cultural do povo. Não são precisos líderes que só fomentam o clima de intolerância, mas sim, que trabalhem para reduzir o fosso que separa a África da Europa e América do Norte desenvolvidas e prósperas. Que trabalhem para resolver o fenómeno de imigração ilegal e de refugiados no continente.

É que num continente como o nosso, de poder volátil e situações políticas instáveis, pelo menos em muitos países, é na credibilidade que os actores políticos, protagonistas da vida na nossa mãe-África, encontram a substância capaz de os impor perante os seus cidadãos.

Não pode haver muitos discursos grandiloquentes que não correspondam ao quotidiano de cada africano pobre ou sem um mínimo de recursos para a sua sobrevivência. Ou por outra, se o que há de “bom” dos africanos é a má opinião que têm de si próprios, mas como filho de África tenho dificuldades em orgulhar-me de algumas coisas que acontecem neste continente, por isso sinto-me no direito de opinar sobre o meu continente.

A mãe-África não pode continuar a dar-se ao luxo de investir na formação e aquisição de conhecimentos, para depois “dispensar” muitos dos seus quadros qualificados (estamos a falar da fuga de cérebros) para Europa e América, onde alegadamente têm melhores condições de trabalho, para além de bons salários.

Espero que a União Africana nos “dê” uma África verdadeiramente democrática e destituída de preconceitos étnico-tribais. É que nalguns países do nosso continente é cada vez mais clara a dificuldade de coexistência pacífica entre as pessoas de diferentes etnias e tribos.

É certo que outros países, como Moçambique, têm a sorte de não estar muito atravessados por grandes conflitos culturais, étnicos e raciais, alguns dos quais incentivam as tensões políticas, mas isso não significa que os seus líderes não sejam exigidos para que sejam mais intransigentes defensores da consolidação da Unidade Nacional.

Se a resolução dos complexos problemas que afligem a África actualmente não parece ter sido fácil durante a vigência da Organização da Unidade Africana, então é necessário e imperioso que a União Africana demonstre o que vale, para que desta vez mais as coisas caminhem doutra maneira.

Porém, e sem optimismos exagerados, a África de hoje não é a África de ontem, alguns dos grandes desafios que se impõem ou se impuseram, estão a ter soluções, claro em parceria com países desenvolvidos do mundo, alguns dos quais foram potências colonizadoras. Acima de tudo, espero que a nossa grande mãe-África esteja cada vez mais à altura, através da sua união, de esboçar e levar avante os sues projectos de desenvolvimento, contando também com os seus próprios meios e fundos resultantes de vários recursos naturais de que dispõe.
  • Mouzinho de Albuquerque

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