Maputo (Canalmoz) – O caso da pastelaria “Continental” está um autêntico pingue-pongue e o protagonista é o tribunal. Depois de, na quarta-feira da semana passada, a 5.ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) ter ouvido as partes envolvidas, nesta segunda feira o mesmo tribunal apareceu com uma nova providência cautelar de restituição de posse provisória em nome de Mushin Ibrahim. Assim, enquanto o tribunal não emite a decisão definitiva sobre a acção principal, Mushin Ibrahim é o novo proprietário. Isso implica que Manuel Pinto deve abandonar o local, retirando os seus bens. Diferentemente da ocasião passada, em que a providência cautelar do tribunal ficou sem efeito pela fúria dos trabalhadores, tendo sido necessário chamar a Polícia para conter os ânimos, desta vez não houve tensão, nem por parte dos trabalhadores, nem por parte de Manuel Pinto, embora este não concorde e afirme que o juiz do tribunal está a agir de má-fé. Sem tumultos, Manuel Pinto acatou as ordens do tribunal e entregou as chaves do “Continental” a Mushin Ibrahim. Até ao fecho desta edição, Manuel Pinto não havia retirado os seus bens da pastelaria “Continental”, até porque a mesma continuou a funcionar normalmente. Contactado pelo nosso jornal, Manuel Pinto disse que vai acatar a decisão do tribunal e vai desocupar o estabelecimento. Mesmo sabendo do efeito imediato da providência cautelar, Manuel Pinto não adianta o dia em que vai abandonar a pastelaria “Continental”. “Assim como decidiu o Tribunal, eu vou desocupar o café “Continental”, mas não sei quando, porque tenho lá dentro as máquinas, que não posso transportar de qualquer maneira. Mas vou abandonar o local, como decidiu tribunal”, disse Manuel Pinto ao nosso jornal.
O desespero dos trabalhadores
Enquanto o tribunal não decide em definitivo de quem é a pastelaria “Continental”, há quem já não aguenta tanta incerteza e angústia – os trabalhadores. O desespero é indisfarçável no rosto dos trabalhadores, pois alguns não entendem sobre providência cautelar, até porque, mais do que entender o significado de uma providência cautelar, o que querem, neste momento, é o emprego para sustentar as suas famílias. Para além do posto de trabalho, os trabalhadores da pastelaria “Continental” exigem igualmente cerca de 10 meses de salários, que ainda não foram pagos pelos anteriores gestores, neste caso Maria helena Pinto, que, neste momento, está incomunicável e em parte incerta. Depois de Manuel Pinto ter feito a entrega das chaves, o desânimo tomou conta dos trabalhadores. Durante o período da tarde, os trabalhadores preferiram ficar sentados, numa tentativa de esboçar o futuro, que se afigura espinhoso.
Ninguém vai perder emprego e serão pagos os salários em atraso
Apesar de os trabalhadores não depositarem muita confiança no novo proprietário, Mushin Ibrahim reiterou que ninguém vai perder o emprego por sua causa. Disse que vai manter todos os postos de trabalho e está disposto a pagar, já no final do mês, um mês de salário em atraso. “Ninguém vai perder emprego. Só para veres que não tenho nenhuma intenção em prejudicar ninguém, vou pagar, já neste mês, um mês de salário em atraso. Isto é, terão dois salários” disse. Mushine garantiu que vai continuar com o mesmo ramo de actividade e os seus produtos já estão a caminho.
Um “manipulador”, outro “burlador”
Facto interessante é o tratamento que Mushin Ibrahim tem para com Manuel Pinto e vice-versa. Desde que se instalou a confusão, é cada um a puxar a brasa para a sua sardinha, com troca de acusações à mistura. Mushin Ibrahim acusa Manuel Pinto de manipulador, porque, segundo as suas palavras, “ele manipula os trabalhadores, envenena-os contra a minha pessoa. O Pinto quer chamar a atenção das pessoas, para que pensem que ele está sendo injustiçado, mas a verdade, e ele sabe disso, é que ele já não é gestor da pastelaria Continental”. Por seu turno, Manuel Pinto diz que está a ser injustiçado e que “o Mushin Ibrahim é burlador, por ter estado em conluio com Maria Helena Pinto, na venda obscura do café Continental”.
Venda e procuração
O Canalmoz apurou, entretanto, de acordo com documentos constantes dos autos, Maria Helena Pinto vendeu o “Continental” a Mushin Ibrahim antes do seu ex-marido Pedro Pinto ter conferido a procuração de gestão ao sobrinho Manuel Pinto. Falta apurar se Maria Helena Pinto tinha legitimidade para vender o estabelecimento sem conhecimento do seu ex-marido. Aqui parece residir o imbróglio. (Matias Guente, CANALMOZ, 11/10/11)
FOTO: O PAÍS |
No comments:
Post a Comment