No início ninguém levava a sério o apelo aos protestos em Angola. Apenas mais um caso de mimetismo internacional de jovens que passam demasiado tempo na Net. Mas a coisa começa a ganhar alguma dimensão e as elites do MPLA começam a ficar apreensivas. O nervosismo com o protesto de dia 7 levou o partido do poder a marcar uma outra manifestação para dois dias antes, dando ainda mais visibilidade aos seus opositores. O mais provável é que o protesto, marcado por anónimos, nunca chegue a acontecer. Mas pelo menos os angolanos estão a falar dele. Já é qualquer coisa.
Mas o governo está apreensivo porquê? Sendo Angola uma democracia, o protesto não deveria ser encarado com naturalidade? Num país com tanta riqueza e tanta pobreza não deveria ser um acontecimento banal? Não. Porque Angola não é uma democracia. Numa democracia nenhum partido tem os resultados eleitorais que o MPLA teve. Numa democracia o Presidente não fica décadas no lugar sem nunca ter sido eleito. Numa democracia a filha do Presidente não é dona de grande parte da economia. Numa democracia há corrupção, como nós bem sabemos, mas ela não é a base de todo o Estado e de todas as empresas. Numa democracia os jornalistas não são perseguidos. Numa democracia a oposição não é sistematicamente comprada para que, na prática, se viva num sistema de partido único.
O o secretário-geral do MPLA, o general Dino Matross, afirmou na rádio estatal que não se devia confundir "o que se passa nos países do Magrebe com a realidade angolana". E, deixando claro porque são alguns paralelismos legítimos, garantiu que, se fosse caso disso, o regime tomaria "medidas sérias" em relação a estes protestos.
Como em vários países do Norte de África, os silêncios compram-se primeiro com luvas e depois com a repressão. Como em vários países do Norte de África, há eleições simuladas. Como em vários países do Norte de África, há um homem que se julga dono do País e que entrega aos seus descendentes o poder. Como em vários países do Norte de África, compram-se cumplicidades externas com negócios irrecusáveis. Como aconteceu com vários países do Norte de África, o mundo será solidário com os que em Angola se batem pela liberdade e pela democracia. Mas só quando eles, sem aliados nem amigos, a tiverem conquistado.
Daniel Oliveira, Expresso
Mas o governo está apreensivo porquê? Sendo Angola uma democracia, o protesto não deveria ser encarado com naturalidade? Num país com tanta riqueza e tanta pobreza não deveria ser um acontecimento banal? Não. Porque Angola não é uma democracia. Numa democracia nenhum partido tem os resultados eleitorais que o MPLA teve. Numa democracia o Presidente não fica décadas no lugar sem nunca ter sido eleito. Numa democracia a filha do Presidente não é dona de grande parte da economia. Numa democracia há corrupção, como nós bem sabemos, mas ela não é a base de todo o Estado e de todas as empresas. Numa democracia os jornalistas não são perseguidos. Numa democracia a oposição não é sistematicamente comprada para que, na prática, se viva num sistema de partido único.
O o secretário-geral do MPLA, o general Dino Matross, afirmou na rádio estatal que não se devia confundir "o que se passa nos países do Magrebe com a realidade angolana". E, deixando claro porque são alguns paralelismos legítimos, garantiu que, se fosse caso disso, o regime tomaria "medidas sérias" em relação a estes protestos.
Como em vários países do Norte de África, os silêncios compram-se primeiro com luvas e depois com a repressão. Como em vários países do Norte de África, há eleições simuladas. Como em vários países do Norte de África, há um homem que se julga dono do País e que entrega aos seus descendentes o poder. Como em vários países do Norte de África, compram-se cumplicidades externas com negócios irrecusáveis. Como aconteceu com vários países do Norte de África, o mundo será solidário com os que em Angola se batem pela liberdade e pela democracia. Mas só quando eles, sem aliados nem amigos, a tiverem conquistado.
Daniel Oliveira, Expresso
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