Saturday 26 March 2011

A diferença entre líderes africanos e europeus


O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, anunciou, na noite de quarta-feira, o seu pedido de demissão do cargo que ocupa. Na mesma altura, revelou que será candidato às eleições antecipadas que deverão ter lugar ainda neste primeiro semestre. A demissão de Sócrates, motivada por chumbo ao Programa de Estabilidade e Crescimento, vem revelar a diferença existente entre as lideranças da Europa e África.
Enquanto um líder europeu demite-se por uma simples reprovação do seu projecto político, o africano força em manter-se no poder, mesmo consciente da contestação de que é alvo pela população que o elegeu; enquanto um líder europeu demite-se por uma simples crise financeira, o africano insiste que ainda tem condições de governar, mesmo reconhecendo a sua incompetência e limitação em resolver problemas gravíssimos pelos quais os países passam.
Por outro lado, um líder europeu demite-se pelo simples facto de se sentir responsável pela morte de apenas um cidadão, um africano orgulha-se e congratula as suas forças polícias por, numa manifestação contra injustiça, matarem mais de uma dezena de pessoas que o elegeram para o cargo que ocupa. Ou seja, um líder europeu pensa no povo e nas promessas que fez ao mesmo povo, quando o africano pensa nele e nos compromissos que assumiu com ele mesmo, visando o enriquecimento ilícito. É daí que mesmo perdendo as eleições, prefere mergulhar um país todo numa guerra civil a sair do poder, ainda que esteja consciente de que o povo lhe cuspiu. É igualmente, por isso, que temos em África presidentes com mais de 20 anos no poder – líderes vitalícios à imagem de líderes tradicionais. O que move os líderes africanos é, como dizia Nicolau Maquiavel, a luta pela conquista e pela manutenção do poder, não obstante reconhecerem que “é perigoso ser odiado pelo povo. Um governante que não é capaz de se manter em paz com o povo é inútil à protecção dos exércitos e fortificações”.

Lázaro Mabunda, O País

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