Sunday 6 December 2009

Construtores devastam mangal da Costa do Sol

A floresta de mangais que protege a cidade de Maputo está a ser destruída para dar lugar a construções de residências de luxo ao longo da orla marítima da capital moçambicana. O facto que deixa por completo a cidade de Maputo, vulnerável a calamidades e outros efeitos negativos da natureza está a alastrar-se perante um olhar impávido das autoridades municipais, onde consta que muitos deles têm interesses no negócio de terrenos.
O triste cenário que poderá levar a cidade capital ao abismo é mais crítico na zona que vai da Escola Portuguesa (bairro Triunfo) até ao bairro dos pecadores.
A floresta de mangais está a ser destruída para dar lugar ao parcelamento de terrenos para a construção de imóveis de luxo, num negócio considerado bastante chorudo e apetitoso, onde estão tam-bém envolvidos membros da edilidade e suas famílias. Há dias, o SAVANA visitou os bairros de Triunfo, Costa do Sol e Pescadores e verificou que a zona que anteriormente estava coberta de floresta de mangais está totalmente deserta e no seu lugar estão a surgir condomínios de luxo.
Do que antes era mangal hoje vê-se apenas camiões transportando areias, gruas e máquinas pesadas envolvidas na edificação de obras.
Soube o SAVANA de algumas fontes, que o município de Maputo, bem como o Ministério da Coordenação da Acção ambiental (MICOA) estão a par destes desmandos, mas nada fazem para contornar o cenário.
No contacto que mantivemos com o MICOA através da Direcção Nacional de Impacto Ambiental, fomos informados que a instituição nada podia falar sobre o assunto em virtude da zona estar sob jurisdição do governo municipal.
O parcelamento e atribuição de terrenos na zona que virou um negócio chorudo envolve graúdos da arena política e económica do país. Além destes influentes, os responsáveis pela gestão do município de Maputo e seus familiares estão envolvidos do negócio.
Como consequência do abate do mangal para dar lugar à edificação de residenciais e outros empre-endimentos de luxo, a zona da orla marítima da cidade de Maputo está, nos últimos dias, a ser assolada por vários problemas ambientais, sobretudo, relacionados com a erosão dos solos, visto que o mangal servia de defesa.
Além da erosão dos solos, a destruição do mangal está também a prejudicar os corais que constituem a maternidade de várias espécies marinhas para sua reprodução.
Este facto tem contribuído na escassez do pescado que se verifica neste momento, situação que traz implicações negativas na renda e alimentação das populações locais.
De alguns ambientalistas, soube o SAVANA que o mangal que está a ser destruído pelo homem de-sempenha um importante papel como exportador de matéria orgânica para os “http://pt.wikipedia.org/wiki/Estu%C3%A1rio” estuários, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Por essa razão, constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diver-sificados do planeta.
Dizem os ambientalistas que a sua biodiversidade faz com que essas áreas se constituam em grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies típicas desses ambientes, como para animais, aves, peixes, moluscos e crustáceos, que aqui encontram as condições ideais para reprodução, eclosão, criadouro e abrigo, quer tenham valor ecológico ou económico.
Com relação à pesca, os mangais produzem mais de 95% do alimento que o homem captura no mar. Por essa razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu retorno.
Com relação à dinâmica dos solos, a vegetação dos mangais serve para fixar os solos, impedindo a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a linha de costa.
As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos. Constituem ainda importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas, por exemplo, como aquelas por metais pesados.
Avançam os ambientalistas referindo que a destruição dos mangais gera grandes prejuízos, inclusive para a economia, directa ou indirectamente, uma vez que são perdidas importantes fracções ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas.
Os mangais são uma componente biológica primária para o ambiente. Eles extraem fósforo e nitrogénio dos sedimentos e sintetizam o carbono. São importantes também na retenção de toxinas, substâncias nocivas para algumas espécies marinhas.
Duma forma geral, o mangal protege o solo contra a erosão marinha e retém parte dos sedimentos descarregados pelos rios e correntes locais que seriam transportados para o mar.
Devido a estes actos malignos, o pulmão verde da capital do país poderá ter perdido mais de 50 por cento da floresta do mangal.


Município no silêncio

Sobre a situação, o SAVANA contactou o Conselho Municipal da cidade de Maputo na pessoa de Benjamim Faduco, chefe do gabinete de Comunicação e Imagem do Presidente do Conselho Municipal, na qualidade de pessoa que serve de elo de ligação entre o município e a imprensa.
Há sensivelmente 15 dias que Faduco não nos consegue pôr à fala com o presidente de município David Simango e muito menos com o vereador de Planeamento Urbano e Ambiente.
Entre terça e quarta-feira, contactámos Faduco mais de cinco vezes, mas este se limitava a dizer que falaria com as pessoas indicadas e que depois nos contactaria, mas até ao momento ainda não se verificou.

(Escrito por Raul Senda, no SAVANA de 4/12/09)

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