Querido povo,
Espero que estejas bem de saúde e que já tenhas preparado todo o necessário para passares bem as festas do Natal e do Ano Novo. É que hoje, as festas do final do ano tornaram-se um ritual que não se contorna, embora seja um período rodeado por muitos excessos, acidentes, mortes e infelicidades.
Sei que tu não fazes parte desse grupo de gente que ritualiza as festas do fim do final do ano. É que um ritual pressupõe sempre a existência de datas, momentos, coisas, elementos, disposição e possibilidades. Um ritual de festas para o natal e ano novo, deve pressupor não só a existência de vinho, de peru, de azeite, de champagnhe, de arroz, de energia eléctrica, de bom som, entre outros.
Tu não tens essas possibilidades. Eu te conheço. Tu não podes comprar um peru para festejares, se não consegues levar os teus filhos ao hospital. Tu não podes comprar os litros de champagne se não consegues levar o teu filho a escola. Tu não podes reunir todos elementos daquele ritual se não consegues de longe, viver uma vida digna de ser humano.
Querido povo,
Dizem que definitivamente Moçambique está a subir. E o ano que está a findar foi um grande exemplo desses passos a subir. Eu concordo, mas fica sempre a pergunta: estamos a subir para o melhor ou para o pior? Estamos a subir para o sucesso ou para o insucesso? Essas são as perguntas difíceis de responder e que entretanto penso que fazem sentido.
Não sei se tens acompanhado as noticias, principalmente as económicas, dizem que Moçambique tem um crescimento económico bastante considerável. Não sei o que é considerável, mas isso pressupõe a existência de dividendos económicos para todos, a existência de capacidade económica para todos, a existência de serviços públicos que realizem o mínimo das tuas necessidades básicas.
Mas sabes muito bem que o resultado final do senso de 2007 que foi publicado neste ano que está a findar, trouxe nos uma imagem bastante assustadora da realidade deste nosso país que está a subir. É que, cerca de 70% das pessoas ainda vivem em pobreza extrema, para alem de que vivem no campo, onde facilidades económicas são quase inexistentes.
Essa percentagem dos 70% que vive no campo, é o conjunto de duas camadas de moçambicanos, os que vivem na segunda república e os que vivem na terceira república de Moçambique. Essas duas repúblicas é que fazem a Sub República de Moçambique, de que já te falei em tempos passados.
É lá onde vive a maior parte da população, mas é lá também que faltam os principais recursos, meios e serviços necessários ao povo. Temo que, quando se fala de desenvolvimento económico de Moçambique esteja a tomar-se a Cidade de Maputo, da Beira e de Nampula como referencia. Essas três cidades devem ser a foto de Moçambique que está a crescer e a partir daqui se faz todo o discurso politicamente correcto e se justificam os vários fundos que são dados ao país.
Querido povo,
Vê-se aqui que essa foto de Moçambique não é a mais adequada, porque a maioria não aparece nessa foto. Embora não apareça nessa foto, é a maioria que realmente faz a diferença. Vimos isso no processo eleitoral findo, em que a minoria desejou uma coisa, mas não conseguiu por causa da decisão da maioria.
Embora a maioria oriente-se por uma luz ofuscada, a sua escolha é importante e decisiva. O que já não acontece com as escolhas da minoria. Pois, embora a minoria se guie por uma luz mais nítida, a democracia manda que esta se submeta a vontade da maioria. É aqui que corremos todos os riscos, porque queremos que a maioria, essa que habita na segunda e na terceira república do país, possa decidir com consciência, com liberdade e com o senso de consequência.
Ok, não te escrevo esta carta para falar de política. Te escrevo para desejar-te boas festas e boa entrada ao ano de 2010. espero que ao menos tenhas conseguido realizar todos os teus objectivos para 2009. será que os tinhas? Isso não sei, a ver com o teu comportamento parecia que andavas a improvisar sempre. Não se espera que quem vive sem renda ou vive de baixa renda tenha objectivos concretos. Como é que os vai alcançar? Na verdade ele só vai gerindo as situações do momento.
De todas as maneiras, espero que o próximo ano seja de muito sucesso para ti, já que o campo é hoje considerado o pólo de desenvolvimento. Era bom que se transpusesse a sede do distrito e se entrasse mais um pouco no seu interior. E se entrasse para ai onde o povo real vive.
Querido povo,
Tenho que terminar a carta perguntando-te uma coisa: dizem que em 2012 o mundo vai terminar. Será verdade? Ou será um prenuncio do fracasso de Kyoto e agora de Copenhaga em relação ao aquecimento global. Mas sabes quem é que anda a aquecer o nosso planeta? Sabes como é que isso se repercute na tua vida? Espero que saibas, porque ninguém te vai explicar.
De todas as maneiras podes viver a pensar no fim do mundo em 2012. Há um senhor chamado de Nostradamus que profetizou isso e os Maias, um povo que viveu na América latina também o fez e coincidiram no ano e na data. Então veja lá. Viva pensando que tens pouco tempo.
Mas será que isso realmente importa para ti? Não sei. Como é que o fim do mundo pode fazer sentido para quem não tem pão, não tem agua potável, não tem o mínimo necessário para viver com dignidade. Será que para esse o fim do mundo não chegou ainda? Ainda esperamos outro? Ai ai ai aia!
Boas festas meu povo!
Espero que estejas bem de saúde e que já tenhas preparado todo o necessário para passares bem as festas do Natal e do Ano Novo. É que hoje, as festas do final do ano tornaram-se um ritual que não se contorna, embora seja um período rodeado por muitos excessos, acidentes, mortes e infelicidades.
Sei que tu não fazes parte desse grupo de gente que ritualiza as festas do fim do final do ano. É que um ritual pressupõe sempre a existência de datas, momentos, coisas, elementos, disposição e possibilidades. Um ritual de festas para o natal e ano novo, deve pressupor não só a existência de vinho, de peru, de azeite, de champagnhe, de arroz, de energia eléctrica, de bom som, entre outros.
Tu não tens essas possibilidades. Eu te conheço. Tu não podes comprar um peru para festejares, se não consegues levar os teus filhos ao hospital. Tu não podes comprar os litros de champagne se não consegues levar o teu filho a escola. Tu não podes reunir todos elementos daquele ritual se não consegues de longe, viver uma vida digna de ser humano.
Querido povo,
Dizem que definitivamente Moçambique está a subir. E o ano que está a findar foi um grande exemplo desses passos a subir. Eu concordo, mas fica sempre a pergunta: estamos a subir para o melhor ou para o pior? Estamos a subir para o sucesso ou para o insucesso? Essas são as perguntas difíceis de responder e que entretanto penso que fazem sentido.
Não sei se tens acompanhado as noticias, principalmente as económicas, dizem que Moçambique tem um crescimento económico bastante considerável. Não sei o que é considerável, mas isso pressupõe a existência de dividendos económicos para todos, a existência de capacidade económica para todos, a existência de serviços públicos que realizem o mínimo das tuas necessidades básicas.
Mas sabes muito bem que o resultado final do senso de 2007 que foi publicado neste ano que está a findar, trouxe nos uma imagem bastante assustadora da realidade deste nosso país que está a subir. É que, cerca de 70% das pessoas ainda vivem em pobreza extrema, para alem de que vivem no campo, onde facilidades económicas são quase inexistentes.
Essa percentagem dos 70% que vive no campo, é o conjunto de duas camadas de moçambicanos, os que vivem na segunda república e os que vivem na terceira república de Moçambique. Essas duas repúblicas é que fazem a Sub República de Moçambique, de que já te falei em tempos passados.
É lá onde vive a maior parte da população, mas é lá também que faltam os principais recursos, meios e serviços necessários ao povo. Temo que, quando se fala de desenvolvimento económico de Moçambique esteja a tomar-se a Cidade de Maputo, da Beira e de Nampula como referencia. Essas três cidades devem ser a foto de Moçambique que está a crescer e a partir daqui se faz todo o discurso politicamente correcto e se justificam os vários fundos que são dados ao país.
Querido povo,
Vê-se aqui que essa foto de Moçambique não é a mais adequada, porque a maioria não aparece nessa foto. Embora não apareça nessa foto, é a maioria que realmente faz a diferença. Vimos isso no processo eleitoral findo, em que a minoria desejou uma coisa, mas não conseguiu por causa da decisão da maioria.
Embora a maioria oriente-se por uma luz ofuscada, a sua escolha é importante e decisiva. O que já não acontece com as escolhas da minoria. Pois, embora a minoria se guie por uma luz mais nítida, a democracia manda que esta se submeta a vontade da maioria. É aqui que corremos todos os riscos, porque queremos que a maioria, essa que habita na segunda e na terceira república do país, possa decidir com consciência, com liberdade e com o senso de consequência.
Ok, não te escrevo esta carta para falar de política. Te escrevo para desejar-te boas festas e boa entrada ao ano de 2010. espero que ao menos tenhas conseguido realizar todos os teus objectivos para 2009. será que os tinhas? Isso não sei, a ver com o teu comportamento parecia que andavas a improvisar sempre. Não se espera que quem vive sem renda ou vive de baixa renda tenha objectivos concretos. Como é que os vai alcançar? Na verdade ele só vai gerindo as situações do momento.
De todas as maneiras, espero que o próximo ano seja de muito sucesso para ti, já que o campo é hoje considerado o pólo de desenvolvimento. Era bom que se transpusesse a sede do distrito e se entrasse mais um pouco no seu interior. E se entrasse para ai onde o povo real vive.
Querido povo,
Tenho que terminar a carta perguntando-te uma coisa: dizem que em 2012 o mundo vai terminar. Será verdade? Ou será um prenuncio do fracasso de Kyoto e agora de Copenhaga em relação ao aquecimento global. Mas sabes quem é que anda a aquecer o nosso planeta? Sabes como é que isso se repercute na tua vida? Espero que saibas, porque ninguém te vai explicar.
De todas as maneiras podes viver a pensar no fim do mundo em 2012. Há um senhor chamado de Nostradamus que profetizou isso e os Maias, um povo que viveu na América latina também o fez e coincidiram no ano e na data. Então veja lá. Viva pensando que tens pouco tempo.
Mas será que isso realmente importa para ti? Não sei. Como é que o fim do mundo pode fazer sentido para quem não tem pão, não tem agua potável, não tem o mínimo necessário para viver com dignidade. Será que para esse o fim do mundo não chegou ainda? Ainda esperamos outro? Ai ai ai aia!
Boas festas meu povo!
(Custódio Duma em www.athiopia.blogspot.com)
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